Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Space Force", da Netflix, diverte com absurdos da realidade

Série criada por Greg Daniels ("The Office") e Steve Carell imagina a vida dentro da base  secreta da Força Espacial criada por Donald Trump. Lançada pela Netflix, trama brinca com aspectos da realidade para criar um escapismo de rápido consumo

Publicado em 29/05/2020 às 14h42
Série
Série "Space Force", da Netflix. Crédito: AARON EPSTEIN/NETFLIX

A sátira, como estilo literário/cinematográfico, foi utilizada ao longo de séculos para criticar instituições políticas, costumes morais, hábitos e práticas maioritárias. Embora, por abusar da caricatura de seus personagens, sempre tenha sido muito próximo da comédia, o estilo nunca teve em sua essência a necessidade de produzir o riso. E por que essa ressalva logo no início do texto? “Space Force”, nova série da Netflix, é uma sátira que pode facilmente ser confundida com um “besteirol” que não engrena.

Criada por Greg Daniels (criador de “The Office”, “Upload”) e Steve Carell (“The Office”, “The Morning Show”), “Space Force” é um mergulho light e ridicularizado no mundo das forças armadas dos EUA no governo Donald Trump - embora nunca seja citado nominalmente na série, o presidente toma decisões esdrúxulas completamente plausíveis do atual presidente americanos… e também do brasileiro.

Na trama, os EUA criam uma nova força militar, a Força Espacial, cujo objetivo é ocupar militarmente a lua - o lema é “coturnos na lua”. Para comandá-la, Mark Naird (Carell), um general quatro estrelas da Força Aérea que não entende nada sobre o assunto. Sob seu comando, uma gigante instalação secreta que mais parece um campus universitário, com pessoas bonitas circulando e as separações por grupos distintos: a ciência e o militarismo. A “Força Espacial”, vale ressaltar, foi oficialmente estabelcida por Donald Trump em dezembro de 2019.

Com o formato de sitcom de TV aberta, “Space Force” tem estrutura procedural, com cada episódio apresentando uma história diferente e, na maioria das vezes, a solucionando ao fim de pouco mais de meia hora.

Carell, um dos atrativos da série, surpreendentemente não brilha; o general Naird é um militar clássico e sisudo que o texto não faz muita questão de mostrar que tem capacidade de estar naquele posto. O destaque da série fica para o cientista Adrian Mallory (John Malkovic), braço direito de Naird e responsável pela parte não-militar da operação. A construção da relação dos dois, com personalidades tão distintas, é interessante.

Série
Série "Space Force", da Netflix. Crédito: AARON EPSTEIN/NETFLIX

O roteiro comete um equívoco feio ao deixar de lado Maggie (Lisa Kudrow), esposa de Naird. A personagem ganha certo destaque nos primeiros episódios, mas nunca é bem desenvolvida e acaba servindo apenas como um alívio cômico ocasional para o texto. Ao mesmo tempo, Erin (Diana Silvers), filha do general, tem algum tempo em tela, mas suas tramas nunca engrenam. Ainda, a série é o último trabalho do veterano Fred Willard, que tem papel pequeno, mas divertido durante a temporada.

Já no arco final da temporada de 10 episódios a série ganha uma força motriz maior, que dialoga com o arco inicial. Como seis episódios foram disponibilizados à imprensa pela Netflix antes da estreia, é bem capaz que a maior parte das críticas já publicadas não tenha sido feita com a temporada completa, o que é uma pena (fica a dica, Netflix).

“Space Force” vai enfrentar o problema de não se encaixar exatamente em um gênero ou outro - não é uma comédia escrachada como se poderia esperar pelo nome de Steve Carell nos créditos, ou algo no estilo “The Office”, mesmo que exista uma ou outra pitada de Michael Scott no general Naird. A série tampouco é um drama

Série
Série "Space Force", da Netflix. Crédito: AARON EPSTEIN/NETFLIX

Apesar de não decolar totalmente, a série tem ótimos momentos quando faz piada com o presidente norte-americano e suas tuitadas, ou quando escolhe satirizar também os magnatas da inovação e as relações familiares. Se apoiando em situações reais, a série satiriza o militarismo bélico dos EUA e a paranoia anti-comunista de uma nova corrida espacial.

Mesmo que não seja uma série que vai arrancar gargalhadas da audiência, “Space Force” oferece um divertido e rápido escapismo - divertido justamente por estar muito próximo da realidade. O que se vê em tela, como em uma boa sátira, é a realidade potencializada ao absurdo para que possamos ver quão ridículas são algumas situações que vivenciamos.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Fique bem Netflix

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.