Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

'Control Z', da Netflix, tem ótimas ideias, mas execução mediana

Série mexicana lançada pela Netflix mistura elementos de séries como "Gossip Girl" e "Sex Education" em uma trama cheia de elementos narrativos para os adolescentes de hoje

Publicado em 23/05/2020 às 16h00
Atualizado em 23/05/2020 às 16h00
CONTROL Z
CONTROL Z. Crédito: Camila Jurado/Netflix

O que você seria capaz de fazer se descobrissem todos os seus segredos e ameaçassem revelá-los para todos os seus conhecidos? Seria capaz de entregar segredos de um amigo para que os seus se mantivessem desconhecidos? É em cima desse questionamento que se constrói “Control Z”, série mexicana que estreou  sexta-feira (22) na Netflix.

Com grande influência de “Gossip Girl”, a série se passa em uma moderna escola mexicana recheada de estudantes bonitos e americanizados - é curioso ver como os personagens com traços mais nativos são os mais excluídos na escola, um retrato social, talvez, ou apenas um estereótipo levado à tela.

A protagonista da série é Sofia (Ana Valeria Becerril), uma jovem diferente, que prefere passar o tempo ouvindo música, lendo e observando todos a seu redor, uma espécie de Dr. House adolescente. Quando o primeiro vazamento de segredos acontece, ela inicia uma caçada ao hacker antes que outros segredos sejam revelados - a relação do hacker com ela, porém, é próxima, como se tudo girasse em torno dela. 

A revelação dos segredos coloca a escola de ponta cabeça e inverter os papéis sociais de diferentes grupos, um chamado, aqui, ao tema principal da série: empatia. “Control Z” é simples, mas funciona bem. A série abusa dos grafismos e do excesso de informação em tela para representar o volume de informação e a velocidade com que ela se espalha hoje em dia. Há também muita linguagem de memes, alguns universais, outros mais locais, mas todos de fácil compreensão. Não fosse pela língua falada, inclusive, pouco se diferenciaria a série de qualquer outra produzida nos EUA ou em qualquer outro lugar. A quebra de barreiras proporcionada pela internet também produz uma queda de particularidades.

Apesar da falta de originalidade na premissa, o roteiro atualiza bem as questões sociais. É interessante como ele aborda questões como identidade de gênero e a dificuldade até mesmo dos mais progressistas de lidar com isso. Ao mesmo tempo, o texto é didático em suas comparações como, por exemplo, ao abordar a corrupção em diferentes níveis hierárquicos. Os episódios curtos, de cerca de 35 minutos, ajudam a compensar as idas e vindas do roteiro durante parte da temporada.

Após os dois primeiros episódios mais convencionais para situar o espectador no universo que constrói, "Control Z" ganha novos ares a partir do terceiro. A trama adolescente ganha camadas mais pesadas e violentas, com sequências e escolhas de roteiro inesperadas para uma produção do gênero. Os personagens são interessantes e ganham novas facetas à medida que a série caminha. Mesmo que Sofia seja a protagonista, vemos desenvolvimento em Javier, Pablo, Luis, Isabela e Natalia, além do irritante núcleo adulto.

CONTROL Z
CONTROL Z. Crédito: Ana Cristina Blumenkron/Netflix

A série se perde um pouco em suas idas e vindas lá pelo quinto episódio, mas volta aos trilhos para a reta final. A expectativa criada pela revelação de quem é o responsável pelos vazamentos leva o roteiro a plantar pistas de maneira nada orgânica e também a apresentar soluções não muito críveis em determinados momentos.  Como o texto escolhe em que personagens quer focar, não é difícil entender para qual caminho ele leva sua audiência.

“Control Z” não traz grandes novidades, mas reembala o produto adolescente em uma estética própria, com personagens interessantes e um ritmo agradável, que não cansa o espectador e a torna facilmente maratonável. A série se aproveita dessa roupagem pop para colocar assuntos interessantes em discussão. Não é imperdível, mas é um bom passatempo.

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