Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Reacher": série da Amazon tem ótima ação e boa trama

Em busca de uma série sem grande complicações e muita porradaria? "Reacher", que adapta os livros de Lee Child para a TV, é o que você procura

Vitória
Publicado em 04/02/2022 às 22h08
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Série "Reacher", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon/Divulgação

O escritor britânico Jim Grant, sob a alcunha de Lee Child, já publicou 26 livros protagonizados por Jack Reacher. As histórias protagonizadas por um militar americano que vaga pelos EUA investigando casos suspeitos foram levadas para o cinema, com Tom Cruise no papel principal, o que incomodou os fãs dos livros. O problema é que o baixinho Cruise mal chega aos 1m70cm, enquanto Reacher tem como sua principal característica seus quase dois metros de altura a um físico intimidador.

Em “Reacher”, série que chegou nesta sexta (4) ao Amazon Prime Video, esse problema pelo menos não existe - Alan Ritcher (o Hawk de “Titãs) é um pouco mais baixo que o personagem dos livros, mas a série faz questão de ressaltar o tempo inteiro o quão alto e forte é Jack Reacher.

Em oito episódios de cerca de 50 minutos, “Reacher” leva para as telas “Killing Floor”, o primeiro livro de Lee Child com o personagem. Na série, o protagonista chega a uma pequenina cidade de menos de dois mil habitantes e logo é alvo de uma operação policial para prendê-lo. Houve um assassinato na estrada pela qual Reacher passou. O protagonista não oferece resistência e se deixa levar pela polícia. Na delegacia, conhece o detetive Finlay (Malcolm Goodwin) e a policial Roscoe (Willa Fitzgerald), que acreditam em sua inocência e querem encontrar os verdadeiros culpados pelas mortes - sim, no plural, pois logo em seguida outros corpos surgem na pacata cidade, um deles de Joe, irmão de Reacher.

“Reacher”, a série, é uma tentativa de conerir história de origem ao personagem, mas o próprio Lee Child, posteriormente a “Killing Floor”, escreveu livros para contar essa história. Conduzida por Nick Santora, um produtor/roteirista com currículo de gosto duvidoso (“Prison Break”, “Vegas”, “Most Dangerous Game”), a história apresenta um Jack Reacher já em sua personificação máxima, cheio de lacunas a serem preenchidas. Alguns flashbacks resgatam acontecimentos da adolescência do personagem e sua relação com o irmão, assim como alguns traumas de guerra, mas nada que se aprofunde muito.

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Série "Reacher", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon/Divulgação

Apesar de parecer ultrapassada em alguns momentos, “Reacher” é eficiente no que se propõe a fazer, ou seja, levar o primeiro livro de Child para as telas. Mesmo não utilizando o formato de um caso por semana, os episódios acabam sendo relativamente formulaicos, com Reacher, Finlay e Roscoe perseguindo uma nova pista e com uma oportunidade para o protagonista cair na porrada com alguns brucutus descartáveis.

Quando a trama ganha novos elementos e alguma complexidade, “Reacher” lembra séries de cidade pequenas, tramas como “Banshee” e “Justified”, nas quais a chegada de um forasteiro muda toda a estrutura da localidade. O lado policial da série, no entanto, é apenas razoável, com os suspeitos sendo estabelecidos muito rapidamente e com os conflitos sendo eliminados aos poucos. Assim como nos livros, a série é superficial ao tratar, por exemplo, do peso das decisões dos personagens - o protagonista não é um sujeito muito eloquente e o texto ainda faz questão de ressaltar o quanto ele é frio.

Alan Ritchson faz o que pode com o texto que tem em mãos e se sai bem na imposição física e nas cenas de ação, aparentemente os focos da série. É interessante como os flashbacks não conseguem conferir profundidade ao personagem, retratando-o exatamente da mesma forma que o vemos no presente. A série ainda se esforça e usa alguma liberdade criativa ao introduzir um aliado que só aparece bem mais adiante no cânone do personagem, mas que aqui oferece uma nova dinâmica à série.

A série parece voltada aos fãs do personagem dos livros, se distanciando o máximo possível dos razoáveis filmes protagonizados por Tom Cruise. A série traz um caso complexo, muita ação e um interesse amoroso para Jack Reacher usar seu charme e seus instintos detetivescos, ou seja, o arco completo de um livro.

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Série "Reacher", da Amazon Prime Video. Crédito: Amazon/Divulgação

“Reacher” tem problemas de ritmo e engrena mesmo quando se aproxima de seu fim, lá pelo quinto episódio. Durante a ambientação e o desenvolvimento do personagem, a série é morna, com uma pegada que nunca desagrada, mas que também nunca surpreende. Mesmo superficial e sem grandes surpresas, a série funciona como uma reintrodução do personagem à cultura pop - este é o Jack Reacher, esqueça o Tom Cruise.

É de se imaginar que, em próximas temporadas, com o público já acostumado ao estilo Reacher de ser, a série ofereça novas dinâmicas e se estabeleça de vez como uma adaptação dos livros de Lee Child. Sabendo aproveitar bem o que tem em mãos, a Amazon tem uma série possivelmente longeva, mas que pode ser ainda melhor se bem conduzida como um longo estudo de personagem ao invés da possível (e talvez inevitável) antologia com o personagem.

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