Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Oxigênio": terror de confinamento da Netflix é pura tensão

Filmado durante a pandemia, "Oxigênio", na Netflix, acompanha uma mulher que acorda desorientada e tem que correr contra o tempo para não morrer sufocada

Vitória
Publicado em 11/05/2021 às 23h11
Filme
Filme "Oxigênio", de Alexandre Aja, lançado pela Netflix. Crédito: Shanna Besson/Netflix

“Oxigênio”, filme de Alexandre Aja que chega nesta quarta (12) à Netflix, provavelmente é um dos filmes que marcarão a vivência durante a pandemia de Covid-19. Filmado entre as duas primeiras ondas na Europa, o filme acompanha uma mulher (Mélanie Laurent, de “Bastardos Inglórios”) que acorda em uma câmara de criogenia sem ideia alguma de quem é ou de como foi parar lá. Ela logo descobre também que tem oxigênio para pouco mais de uma hora e que sua chance de sobrevivência é praticamente nula.

Com a ajuda da inteligência artificial M.I.L.O (Mathieu Amalric), uma espécie de HAL-9000, e de algumas lembranças desconexas que surgem, a mulher vai gradualmente montando o quebra-cabeças que a levou até ali e imaginando como poderia escapar da situação em que se encontra.

“Oxigênio” é um filme sobre o qual revelar muito mais do que sua premissa inicial pode comprometer as viradas. Apesar disso, não é nas reviravoltas que o filme de Aja se sustenta, mas sim na atuação de Mélanie Laurent e, principalmente, no terror de claustrofobia construído pelo diretor em cima de um roteiro que circulava por Hollywood há anos sem nunca sair do papel.

O paralelo do roteiro com a situação global é interessante e intencional. A mulher luta por sua sobrevivência, no limite da sanidade, confinada e ciente de que pode morrer sufocada. O texto ainda usa um painel touch screen na câmara para emular a nossa rotina diante de telas, vendo lembranças, imaginando dias melhores.

Aja, um diretor famoso no circuito “B” por filmes de terror como o ótimo “Alta Tensão” (2003) e o recente “Predadores Assassinos” (2019), que ganhou um título terrível no Brasil, confina o espectador junto a sua protagonista - sabemos tão pouco quanto ela e vemos tão pouco quanto ela. “Oxigênio” é claustrofóbico como “Enterrado Vivo” (2010), mas conta com mais recursos para criar a tensão. Assim, o diretor entrega sequências criativas, com movimentos de câmeras amplos que conferem urgência ou diminuem o ritmo da narrativa de acordo com seu momento, com sua vontade de manipular o sentimento do público.

Na tentativa de dar um respiro à audiência, Aja comete o equívoco de entregar demais. O diretor parece querer corrigir falhas do roteiro com recursos visuais para que tudo faça sentido, mas nem sempre se sai bem. Nem tudo no filme é previsível, mas não demora para que entendamos o cenário. Há, sim, boas surpresas no texto de Christie Leblanc, mas o cineasta francês às vezes não parece muito interessado em utilizá-las como recurso narrativo, apenas como parte da história.

É inevitável pensar que a intenção de Aja seria bem-sucedida nas telas de um cinema, em uma sala escura e obviamente sem a opção de pausa ou distrações. Mesmo sendo um original Netflix, “Oxigênio” foi realizado como se fosse chegar aos cinemas. Com o filme correndo quase em tempo real, a sala de cinema dividir com Mélanie Laurent a angústia do confinamento e da corrida contra o tempo.

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Filme "Oxigênio", de Alexandre Aja, lançado pela Netflix. Crédito: Shanna Besson/Netflix

Apesar de exibido na telinha para espectadores na cama, no sofá ou no escritório de casa, o filme é eficiente em manter o nível de tensão elevada e o desconforto sempre presente - teria funcionado melhor com uns dez minutos a menos, mas nada que comprometa ou tire a força do filme.

É curioso que, após seu ato final, “Oxigênio” pode deixar a impressão de que tudo aquilo seria evitável, mas a experiência não seria a mesma. Neste ponto, o filme é quase existencial, uma jornada de autoconhecimento, descobertas e escolhas - a mais importante delas, inclusive, diz respeito ao confinamento e a morrer sufocado, sem oxigênio.

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