Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Novo "Convenção da Bruxas" é remake medíocre do clássico

Estrelado por Anne Hathaway e lançado no streaming nos EUA, "Convenção das Bruxas" deixa de lado todo o aspecto sombrio para se tornar uma aventura familar

Vitória
Publicado em 19/11/2020 às 23h30
Filme
Filme "A Convenção das Bruxas" (2020). Crédito: Warner/Divulgação

Lançado em 1990, “Convenção das Bruxas”, de Nicolas Roeg, se tornou um daqueles clássicos da “Sessão da Tarde”. O filme adaptava o livro de Roald Dahl (“A Fantástica Fábrica de Chocolates”) para as telas em uma aventura divertida, mas com uns toques soturnos capazes de aterrorizar as crianças da época, era como um filme de terror para os pequenos. Não é perfeito, mas funciona.

Trinta anos depois, chega nesta quinta (19) aos cinemas do Brasil o novo “Convenção das Bruxas”, agora comandado por Robert Zemeckis. O filme não é necessariamente um remake do de 1990, mas sim uma nova adaptação do livro de Roeg, o que, para o público, dá praticamente no mesmo, e talvez não seja justo comparar os dois, afinal os tempos são outros, mas uma não compará-los é simplesmente impossível.

Tal qual o filme de 1990, o novo “Convenção das Bruxas” se passa no Alabama, mas agora nos anos 1960. Por lá conhecemos o narrador da história (Jahzir Bruno), um órfão que acaba sob os cuidados da avó (Octavia Spencer) que o ensina sobre as bruxas, seus poderes e suas práticas com crianças órfãs. Para fugir de uma que tem rondado a família, eles resolvem ir para um resort de luxo bem longe, mas o hotel, quem diria, também receberá uma grande convenção da Sociedade Contra a Crueldade às Crianças, uma turma de bruxas disfarçadas. Que coincidência, não?

As bruxas lideradas pela Grande Bruxa (Anne Hathaway) pretendem transformar todas as crianças do mundo em ratos e não demora para que o protagonista seja transformado em um roedor. Para frustrar os planos das bruxas e tentar voltar à sua forma normal, ele terá que juntar força com outras crianças e sua avó no combate às bruxas.

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Filme "A Convenção das Bruxas" (2020). Crédito: Warner/Divulgação

A ambientação do filme abre espaço para um ou outro comentário sobre o racista sul dos EUA dos anos 1960, mas não se aprofunda. Da mesma forma, Robert Zemeckis opta pela diversão pura e simples ao invés de fazer com que o público se interesse mais por seus personagens - Daisy, Bruno e o protagonista divertem juntos, mas é só isso. Assim, “Convenção das Bruxas” ganha didatismo (o protagonista repete em voz alta tudo o que foi mostrado em cena), ares mais infantis e bem menos sombrios do que os do filme original.

Robert Zemeckis é um diretor curioso. Já tendo sido considerado o sucessor de Steven Spielberg pelo encanto de suas histórias, o cineasta que já entregou obras como os três “De Volta Para o Futuro”, “Forrest Gump” (1994), “Contato” (1997) e “O Náufrago” (2000) se apaixonou pelas possibilidades da computação gráfica no início dos anos 2000 e se perdeu pelo caminho. Ele ainda entregou os bons “Aliados” (2016) e “Bem-vindos a Marwen” (2018), mas os filmes não traziam o encanto outrora gerado por Zemeckis.

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Filme "A Convenção das Bruxas" (2020). Crédito: Warner/Divulgação

Em “Convenção das Bruxas”, Zemeckis escolhe misturar diversão e computação gráfica, o que funciona bem com os ratos, mas tira um pouco do fator “bizarro” da bruxas. Elas ganham bocas rasgadas bem parecidas com desenhos animados e perdem aquela maquiagem grotesca do filme original.

Sem o lado sombrio, a história se torna uma aventura simples. A Grande Bruxa de Anne Hathaway é uma boa vilã, intencionalmente caricata, brincando com o ridículo da personagem e deixando pouco espaço para outras bruxas roubarem a cena. O roteiro curiosamente respeita mais as decisões do livro de Roald Dahl, mas o faz de forma um tanto estranha - sem entrar em spoilers, vale dizer que algumas decisões são incompreensíveis e sem peso algum. O texto alivia, de forma muito simples e pouco crível, o tom pesado do final do livro, talvez pensando em uma desejada sequência, visto que o gancho pra isso é enorme.

Nenhuma dessas críticas, porém, faz do novo “Convenção das Bruxas” um filme necessariamente ruim, pelo contrário, ele é bem capaz de divertir a família inteira em uma sessão de cinema ou em uma tarde de domingo. Boa parte dos jovens e das crianças de hoje, afinal, não assistiram ao clássico dos anos 90 - sim, você está ficando velho.

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