Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Night Sky": ótima ficção científica da Amazon se garante no afeto

Com história emocionante e grandes atuações, "Night Sky", da Amazon Prime Video, usa a ficção científica como pano de fundo para construção de ótimos personagens

Vitória
Publicado em 19/05/2022 às 21h03
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Série "Night Sky", da Amazon Prime Video. Crédito: Chuck Hodes/Prime Video

“Night Sky”, que chega à Amazon Prime Video em 20 de maio, é um ótimo exemplo de como uma cadência narrativa e um pouco de sutileza podem beneficiar uma série. Os dois primeiros episódios (oito compõem a temporada), dirigidos pelo argentino Juan José Campanella (“O Segredo dos Seus Olhos”) são magistrais ao tranquilamente inserir o espectador no universo da série e, principalmente, em apresentar seus protagonistas.

Logo conhecemos Frank (J.K. Simmons) e Irene York (Sissy Spacek), um casal de idosos vivendo tranquilamente em um subúrbio americano. Irene sofreu um acidente e agora tem dificuldade de se locomover, por isso precisa da atenção total do marido, que acaba priorizando os cuidados com a esposa e se esquecendo dos que deveria tomar. O que diferencia Frank e Irene de milhões de outros casais é o fato de há 20 anos eles terem descoberto uma câmara enterrada no quintal que misteriosamente os conecta a outra sala similar, em um planeta completamente deserto, e de onde eles observam as estrelas.

Frank e Irene nunca contaram seu segredo para ninguém, mas a vida deles muda com a entrada de um novo elemento na rotina, Jude (Chai Hansen), um jovem misterioso que desperta lembranças em Irene e causa desconfiança em Frank. Com Jude em cena, tudo o que achavam saber é transformado repentinamente - o que, afinal, é aquela misteriosa câmara?

“Night Sky” apresenta suas peças com calma, desenvolvendo-as sem pressa e sem se preocupar com grandes viradas em um primeiro momento. Além do casal de idosos, o texto também nos introduz a Stella (Julieta Zylberberg, a Pilar de “Impuros”) e Toni (Rocío Hernández), mãe e filha que vivem em uma região deserta da Argentina. Gradualmente vamos entendendo os motivos delas viverem ali, obviamente um fardo para uma jovem de 15 anos tratada como piada na escola e alvo de diversas fofocas sobre sua família.

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Série "Night Sky", da Amazon Prime Video. Crédito: Chuck Hodes/Prime Video

A série criada por Holden Miller faz uma escolha acertada ao tratar o fantástico como algo normal, pois é exatamente isso que a tal câmara é na vida dos York. Assim, a princípio, o texto se preocupa muito mais em desenvolver os personagens para que os conheçamos e, mais adiante, compremos as dores e as angústias deles. Há uma demora para que tudo se cruze, mas a história nunca se torna enfadonha, pelo contrário, ela está sempre em movimento.

Quando todo o cenário está finalmente posto e entendemos os papéis de cada um na trama, somos capazes de nos identificar com os diferentes lados, pois ambos foram bem desenvolvidos pelo roteiro, fugindo de uma dicotomia maniqueísta e dando espaço à complexidade da natureza humana.

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Série "Night Sky", da Amazon Prime Video. Crédito: Chuck Hodes/Prime Video

“Night Sky” é ótima também ao entender não ser necessário grandes efeitos ou algo grandioso para se criar uma trama de ficção científica. A série está muito mais interessada nas escolhas de seus personagens do que no mistério em si, utilizando-se da premissa para levar seus protagonistas a situações limítrofes. Essa sensibilidade é muito reforçada pela trilha sonora de Danny Bensi (“Outer Range”, “Ozark”, “The Staircase”, “O Tigre Branco”), que dá um ar fantasioso às cenas, mas algo muito mais voltado ao cinema de fantasia de Steven Spielberg, por exemplo, do para séries como “Lost”.

A influência de Spielberg é sentida também na construção orgânica dos personagens e na maneira como eles enxergam suas vidas em diferentes momentos. A série se beneficia muito de ter dois vencedores do Oscar como protagonistas - J.K. Simmons e Sissy Spacek são fantásticos como os Frank e Irene York, longe de serem personagens perfeitos e justamente por isso pessoas com as quais conseguimos nos relacionar facilmente.

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Série "Night Sky", da Amazon Prime Video. Crédito: Chuck Hodes/Prime Video

“Night Sky” lida com assuntos delicados, como a dor contínua causada pelo luto e o peso da inevitável visita do tempo, mas também fala de amor ao ter no centro um relacionamento duradouro de dedicação a admiração mútua, algo que o texto faz questão de mostrar nos episódios iniciais.

A Amazon continua sua boa leva de séries originais, apostando mais na qualidade do que na quantidade, com uma obra que não é refém de suas reviravoltas (mesmo que elas existam) e uma história que desperta sentimentos distintos no público de acordo com a carga dele; da emoção à excitação fantástica, sempre passando pela dor da ausência, uma característica de todos os personagens principais.

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