Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Natal Com Você", da Netflix, é agradável e usa bem os clichês

Mistura de filme da Natal com drama musical, "Natal Com Você" é a história de uma estrela pop que reencontra sua paz ao conhecer a família de uma fã

Vitória
Publicado em 18/11/2022 às 19h18
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Filme "Natal Com Você", da Netflix. Crédito: Jessica Kourkounis/Netflix

Não é difícil fazer um filme aceitável de Natal, basta pegar a fórmula pronta, protagonistas minimamente carismáticos, um personagem que tenha se esquecido do verdadeiro significado da data (normalmente alguém consumido pelo capitalismo para quebrar a ideia de ser uma data capitalista) e colocar tudo em uma jornada previsível, com um pouco de afeto, e pronto.

Os clichês, quando bem utilizados, geram conforto para um público que não deseja ser desafiado naquele momento, é o caso, por exemplo, de “Amor com Data Marcada” ou “Um Crush Para o Natal”, ambos lançados ano passado pela Netflix. Em contrapartida, quando apenas elencados sem a menor preocupação os clichês se transformam em algo como o constrangedor “Uma Quedinha de Natal”, que tenta se sustentar no inexistente charme de Lindsay Lohan com resultados desastrosos.

“Natal Com Você”, mais um filme natalino da Netflix, se encaixa no primeiro caso. Dirigido por Gabriela Tagliavini, o filme acompanha a cantora pop Angelina (Aimee Garcia), uma americana de ascendência latina que já viu dias melhores na indústria, mas agora sofre para “acompanhar as jovens”. Quando seu agente pede uma música da Natal (“funcionou com a Mariah Carey”), ela se lembra dos traumas com a data após a morte da mãe.

Uma noite, gastando tempo nas redes sociais, ela se depara com o vídeo uma fã, Cristina (Deja Monique Cruz), cantando uma música sua, descobre onde a menina estuda e resolve fazer uma visita surpresa para ela no dia de seu aniversário, mas surpreendida por uma nevasca, não tem como voltar para Manhattan e acaba passando a noite na casa da fã e ao lado de sua família formada pela avó, Frida (Socorro Santiago), e o pai, Miguel (Freddie Prinze Jr.), um professor de música charmoso, atencioso e, quem diria, viúvo. Conversa vai, papo vem, Miguel e Angelina começam a compor uma música juntos, a tal música natalina da cantora, mas é óbvio que a relação ali não será apenas profissional.

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Filme "Natal Com Você", da Netflix. Crédito: Jessica Kourkounis/Netflix

“Natal Com Você” é totalmente previsível e tem plena ciência disso. Angelina, consumida pela cruel indústria da música, se esqueceu como é manter relações que não sejam voltadas para o sucesso. Seu namoro com o canastrão astro mexicano Ricardo (Gabriel Sloyer) é de fachada, apenas para os fãs e os canais de fofoca, e seu empresário, Barry (Lawrence J. Hughes), a manipula como bem entende, a preterindo pela jovem Cheri (Nicolette Stephanie Templier), uma cantora em ascensão. Quando se aproxima de Miguel, Cristina e Frida, Angelina se lembra de como era a vida antes dos holofotes e gosta bastante do que sente.

Como um filme de Natal que se preze, “Natal Com Você” se garante no afeto. Aimee Garcia e Freddie Prinze Jr. funcionam bem juntos e, mesmo com uma relação quase instantânea (o milagre de Natal), convencem nas interações. A dinâmica é interessante por haver um mínimo de construção de personagens no texto, o que se mostra suficiente para o que o filme propõe.

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Filme "Natal Com Você", da Netflix. Crédito: Jessica Kourkounis/Netflix

“Natal Com Você” também tem o mérito de inserir alguma identidade no filme - o arco da composição da música em parceria, mesmo que secundário, garante um bom momento ao filme (a apresentação de Angelina) e ainda é utilizado como gatilho para o terceiro ato, para mostrar que a cantora finalmente entendeu o espírito do Natal.

Com pouco mais de 90 minutos de duração, o filme obviamente tem problemas. Cristina é utilizada como o catalisador da trama e a força motriz de Miguel, mas ganha pouco desenvolvimento além de ser fã de Angelina e ter uma paixonite por um menino da escola. É na sua quinceañera (a festa de quinze anos da cultura latina) que o filme tem um de seus clímaces, mas a jovem merecia mais relevância e até um arco para chamar de seu.

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Filme "Natal Com Você", da Netflix. Crédito: Jessica Kourkounis/Netflix

Ao fim, “Natal Com Você” é cheio de clichês e tem alguns problemas de estrutura narrativa, mas oferece o conforto e o afeto que o garantem como um bom filme natalino com um pingo de originalidade com personagens que não são caricaturas ou apenas reproduções de outros que já deram certo em obras passadas.

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