Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Homem-Pássaro" vai do cinema para os quadrinhos

Cartunista Caco Galhardo lança o livro "Homem-Pássaro", a aventura de um ornitólogo na cidade grande

Publicado em 28/11/2019 às 04h00
Atualizado em 28/11/2019 às 04h00
Caco Galhardo, cartunista e escritor. Crédito: Cia das Letras/Divulgação
Caco Galhardo, cartunista e escritor. Crédito: Cia das Letras/Divulgação

A linha que separa quadrinhos e cinema é cada vez mais tênue. A partir dos anos 1990, ganhando força nos anos 2000, praticamente toda HQ, da popular à mais desconhecida e independente, ganhou uma adaptação para série de TV e principalmente para o cinema, mas Caco Galhardo fez diferente.

O cartunista da “Folha de São Paulo” levou um projeto que nasceu como roteiro de cinema para as páginas de “Homem-pássaro”, livro em quadrinho que acaba de lançar pela editora Peirópolis. É a primeira narrativa longa do autor acostumado com o jornalismo diário e que já teve sua personagem Lili transformada na série “Lili - A Ex”, do Multishow, com Maria Casadevall.

“Desde que levaram a Lili para a TV eu entrei nessa onda de dramaturgia. Tinha essa ideia pra um longa, mas que acabou engavetada, não andou, então resolvi transformar num quadrinho”, conta o autor, em entrevista por telefone. “É até engraçado porque quando eu comecei, queria fazer cinema, mas vi que era muito complicado, tinha que levantar dinheiro, liderar uma equipe (risos). Melhor fazer quadrinho que aí eu boto quantos coadjuvantes eu quiser, faço tudo sem depender de ninguém”, completa.

Caco é o cara por trás de “Dom Quixote em Quadrinhos”, obra que adapta o clássico de Miguel de Cervantes com os traços divertidos e cartunescos do autor. O livro foi um sucesso, com mais de 100 mil cópias vendidas Brasil afora e agora é sucedido por um trabalho totalmente autoral.

“Homem-Pássaro” conta a história de João Neto, um ornitólogo criado longe da civilização, em plena Chapada Diamantina. Filho de outro ornitólogo, tudo o que João sabe fazer é observar aves, uma obsessão de família. Um dia ele se depara com uma “ave rara” na televisão, uma rainha de bateria carioca, e decide partir para o Rio atrás de Jussara, a tal “ave”. O problema é que a moça é noiva do Rabo Quente, o traficante mais perigoso da cidade.

HQ "Homem-Pássaro", de Caco Galhardo. Crédito: Caco Galhardo
HQ "Homem-Pássaro", de Caco Galhardo. Crédito: Caco Galhardo

O livro tem traços simples, bem na pegada de tiras de jornal, e proporciona uma leitura rápida. É interessante notar como João usa a observação, sua principal “arma”, para tomar todos os passos de sua aventura - principalmente em uma sociedade cada vez mais absorta em smartphones.

“É curioso… Comecei minha carreira desenhando os Pescoçudos, uns caras com pescoços tortos pra cima, pro lado, pra baixo, e hoje tá todo mundo assim, com o pescoço pra baixo olhando os telefones. A observação é o que o João sabe, é sua única arma nessa luta”, ressalta o autor.

HQ "Homem-Pássaro", de Caco Galhardo. Crédito: Caco Galhardo
HQ "Homem-Pássaro", de Caco Galhardo. Crédito: Caco Galhardo

Outro aspecto interessante de “Homem-Pássaro” é a narrativa. Caco deixa que seus desenhos contem a história e nunca cai na superexposição de ter seus personagens repetindo exatamente aquilo que já está desenhado. O autor também usa muito bem os vazios para contar a história. “Acho que é uma coisa de cartunista de jornal. São 20 anos fazendo tiras diárias, então você pega uma velocidade. Não tenho esse refinamento de alguns colegas, mas vai muito na síntese, pouco texto, econômico em tudo”, explica o autor, que levou 10 meses para terminar o livro.

“A versão para o cinema seria maior. Eu já tinha tudo organizado, mas cortei bastante pra deixar o quadrinho enxuto”, pondera.

Já imaginou se aparecer alguém interessado agora em levar a história para o cinema? Indaguei. “Já pensei nisso (risos). Imagina vir algum diretor querendo adaptar? Ia amarrar tudo, fechar um ciclo”.

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