Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Gravadora da Alemanha lança EP de capixaba Fabio Carvalho

Fabio Carvalho lançou na última semana o EP "Solte os Cabelos" pelo selo Lona Musik. Disco traz versões diferentes para o clássico congo da Barra do Jucu

Vitória
Publicado em 12/12/2020 às 04h00
Atualizado em 12/12/2020 às 04h01
Músico Fabio Carvalho
Músico Fabio Carvalho. Crédito: Edson Taciano/Divulgação

O ano de 2020 não foi fácil para o músico capixaba Fabio Carvalho. Em meio à grande crise que atingiu o setor artístico em função da pandemia de Covid-19, Fábio viu e ainda vê pessoas próximas sofrerem com a doença. Agora, quase no apagar das luzes do ano, porém, uma notícia boa: “Solte os Cabelos”, congo de domínio público gravado por Fabio no disco “Quintal - Afro Congo Beat”, ganhou o mundo.

Devidamente intitulado “Solte os Cabelos”, o EP lançado pelo selo Lona Musik, com base em Berlim, traz a versão original remasterizada, um mix instrumental e quatro remixes produzidos por DJs como FurmigaDub (Brasil), SucreSoul (África do Sul), Gutto Serta (Brasil/Alemanha) e Leandro Bonfim (Brasil). As novas versões conferem uma sonoridade totalmente diferente à música gravada por Fábio, mantendo a pegada regional de Fábio, mas com novas camadas ampliando o poder de alcance da música.

“‘Solte os Cabelos’ é um congo cantado na Barra do Jucu e acho que ele tem uma força muito grande. É um dos congos de que mais gosto, tem uma força muito grande de comunicação. Aonde vou, levo essa música”, conta Fábio, lembrando que ela também foi registrada pelo Manimal, banda de que Fabio fazia parte, no disco “Tow Tow”, de 2000.

A ideia do lançamento europeu da música partiu de Cid Travaglia, ex-Pé do Lixo e figura atuante na cena musical capixaba nos anos 1990. Hoje morando em Berlim, Cidinho montou a Lona Booker, uma empresa de agenciamento de shows. Em meio à pandemia e com todos os shows sendo cancelados, ele partiu novamente para um selo, o Lona Musik - vale lembrar que, enquanto morava aqui, Cidinho foi responsável pela Lona Records, que lançou gente como Pé do Lixo, Dead Fish, Lordose Pra Leão, Macucos, Zé Maria…

“O convite foi inesperado. Fiquei muito feliz com essa nova respirada, esse novo impulso que o disco (‘Quintal Afro Congo Beat) vai ter. Agora a música vem da Europa. Ela sai de lá para qualquer lugar do mundo. É um novo respiro para o álbum lançado em 2015”, diz Fabio.

O músico lembra que cada remix que chegava para ele ouvir era um sopro de felicidade. Durante o processo, a mãe de Fabio estava internada com Covid-19. “Fiquei muito emocionado com todas, mas quando chegou a do FurmigaDub, que tem uma brasilidade grande, com um triângulo, um forró, usou o congo muito bem, tem pegada de cultura regional. Ele é sergipano, um cara que fez BaianaSystem”, conta, mas sem desmerecer nenhuma outra versão. A de Leandro Bonfim é um pesado dub, já a de Gutto Serpa um “eletronicão pesado”, pra dançar. Já a do sul-africano SucriSoul é mais delicada, um acid house, “com uma guitarrinha linda”, diz Fabio.

Fabio Carvalho 

Músico

"Desde o golpe o artista foi tachado de bandido. Artista não é bandido, ele representa o país no mundo, é identidade cultural. Um país que não identifica e valoriza sua cultura, seus artistas,é muito pobre, pequeno. Somos guerreiros, prometemos que não iríamos morrer, não iriam nos matar. A arte salva"

O lançamento é mais um passo em algo por que Fabio sempre prezou muito: levar sua verdade para os quatro cantos do mundo. “O congo me levou a Tóquio, Londres, me levou pra uma residência artística em Pernambuco. É fundamental a gente levar a nossa cultura, o que é nosso. Eu não posso levar o que é do outro”, pondera. “O mais bacana é você ver sua música sendo espalhada. Mesmo com a internet, não é fácil. Nem estou pensando em dinheiro. Claro que ele é importante no momento maluco num país em que a cultura e o artista são vistos como coisas ruins, mas ver sua arte tomando outro rumo, em um lugar que valoriza a cultura (Berlim), dá uma esperança muito grande”, completa.

O músico ressalta que a crise artística foi agravada pela pandemia, mas acredita que ela vem desde 2016, com todo o processo que culminou no impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer à presidência.

“Desde o golpe o artista foi tachado de bandido. Artista não é bandido, ele representa o país no mundo, é identidade cultural. Um país que não identifica e valoriza sua cultura, seus artistas, é muito pobre, pequeno. Somos guerreiros, prometemos que não iríamos morrer, não iriam nos matar. A arte salva. Se não fosse a cultura e a arte, teríamos tido muito mais mortes, suicídios em meio a essa pandemia que já levou quase 180 mil brasileiros à morte. A arte tem esse poder de emocionar, trazer alegria e transformar. Acredito muito também que a cultura e arte expurga coisas ruins de dentro da pessoa”.

Músico Fabio Carvalho
Músico Fabio Carvalho. Crédito: Roberto Burura/Divulgação

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Rafael Braz

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