Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Fundação", da AppleTV+, é superprodução com grandes ambições

"Fundação", de Isaac Asimov, é um dos maiores clássicos da ficção científica literária e também uma história considerada inadaptável para as telas. Até agora

Vitória
Publicado em 24/09/2021 às 16h12
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Série "Fundação", baseada na obra de Isaac Asimov. Crédito: AppleTV+/Divulgação

Diz a lenda que David S. Goyer trabalhava com James Cameron em “O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio” (2019) quando recebeu a notícia de que os direitos de adaptação do clássico “Fundação”, de Isaac Asimov, estavam disponíveis. Cameron, um cineasta de ambições grandiosas, teria dito: “essa é complicada”.

A série de livros, publicada originalmente como uma série de contos para uma revista, é um dos maiores épicos da literatura de ficção científica mundial e sempre foi considerada impossível de se adaptar em filmes. As histórias do universo criado por Asimov têm tramas complexas, diversas e se passam durante séculos. Por isso, o cinema nunca ousou levá-las para as telas. Isso, claro, antes da ascensão de as séries serem levadas a sério como uma opção narrativa ampliada e com grande orçamento.

“Fundação” (“Foundation”) chegou nesta sexta (24) ao AppleTV+ com os dois primeiros episódios da primeira temporada (de um total de 10), que funcionam mais para apresentar o cenário da série do que para qualquer outra coisa. No universo da série, a galáxia é controlada pelo Império comandado por três clones do mesmo imperador - um jovem, um adulto e um idoso - em um processo que sempre se renova. O conceito de clone, vale lembrar, nem sequer existia quando Asimov escreveu o primeiro livro, mas é uma ótima adição.

Quando Hari Seldon (Jared Harris), um brilhante matemático, prevê o colapso do império e 30 mil anos até a reorganização da sociedade galáctica, o imperador obviamente dá um jeito de cortar suas ideias antes que elas se espalhem. Seldon, então, é enviado para um longínquo planeta com um grupo de seguidores, o que poderia reduzir o impacto do declínio. O plano é criar uma estrutura que preserve a história da humanidade, as “fundações” que servirão de base para que ela se reerga.

“Fundação”, a série, altera alguns aspectos da obra da Asimov, nas quais as mulheres praticamente não têm vez (e voz). Assim, diversos personagens importantes dos livros são representados por mulheres, inclusive alguns protagonistas como Dornick (Lou Llobel) e Salvor Hardin (Leah Harvey).

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Série "Fundação", baseada na obra de Isaac Asimov. Crédito: AppleTV+/Divulgação

A série dá uma desacelerada em relação ao material original, gastando tempo para desenvolver os personagens, apresentar suas motivações e fazer com que nos importemos com eles. Pelo menos nos episódios iniciais, “Fundação” parece caminhar para uma trama nas quais os personagens importam tanto quanto os acontecimentos - passamos até mais tempo com eles do que sendo apresentados às complexas ideias políticas e científicas do texto. O universo ainda não é apresentado em sua complexidade e grandiosidade, mas deve ser uma questão de tempo.

A série da AppleTV+ é um primor técnico digno de grandes produções de cinema. Tanto Terminus (o tal planeta longínquo) quanto Trantor (a sede do império) são cenários complexos e ricos em detalhes, um impecável trabalho de fotografia e design de produção. As cenas no espaço e uma sequência em especial (sem spoiler) também dão dimensão da grandiosidade do projeto.

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Série "Fundação", baseada na obra de Isaac Asimov. Crédito: AppleTV+/Divulgação

Seria bem fácil comparar “Fundação” com clássicos como “Duna” ou até mesmo “Star Wars”, mas a adaptação de Asimov parece menos interessada na ópera espacial e na jornada do herói do que na construção de um universo intrincado e com um jogo de poderes capaz de mudar o destino do que se conhece como humanidade - não à toa, o material original do escritor nascido na Rússia foi inspirado em “A História do Declínio e Queda do Império Romano”, de Edward Gibbon, e a Apple vê na série sua possibilidade de um “Game of Thrones” para chamar de seu.

Ainda é cedo, óbvio, mas o início de “Fundação” serve no mínimo para despertar o interesse naquele universo e, principalmente naqueles personagens. O espectador pode ficar perdido no começo, principalmente porque nada é explicadinho logo de cara, mas a impressão é de que valerá a pena acompanhar a jornada de Gaal Dornick e Salvor Hardin ao longo dos próximos anos.

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