Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Esposa de Aluguel", da Netflix, fica entre o clichê e o constrangedor

Sucesso na Netflix, comédia romântica brasileira "Esposa de Aluguel" busca o conforto pelos clichês, mas se perde em coadjuvantes ruins e na falta de carga dramática

Vitória
Publicado em 13/10/2022 às 21h02
Filme brasileiro
Filme brasileiro "Esposa de Aluguel", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

Luiz (Caio Castro) tem 30 anos, nunca trabalhou, mora com a mãe, vive de mesada e tem regras claras para seus relacionamentos: nunca levar a mulher em casa, nunca deixar durar mais de três meses, e nunca, nunca chegar aos seis meses, “que é quando nasce o amor”. Como uma criança birrenta, ele faz manha quando sua mãe, Carlota (Patricya Travassos), toca no assunto casamento. Um dia, em seu aniversário e 68 anos, Carlota descobre uma doença terminal e Luiz, para agradá-la, inventa estar namorando sério uma mulher e até pensando em noivar. Para sustentar a mentira, um amigo indica a ele os serviços de Lina (Thati Lopes), uma atriz que faz bicos como “esposa de aluguel” e com quem Luiz pretende fingi ter um relacionamento até a morte de sua mãe, que tem cerca de seis meses de vida.

Dirigido por Cris D’Amato (“S.O.S. Mulheres ao Mar”) e escrito pela iniciante Luanna Guimarães , “Esposa de Aluguel” é exatamente o que se espera de um filme com esse título. Um homem imaturo e com medo de compromisso que vê seus princípios mudarem por uma relação que não começa como um amor, mas que obviamente se modificará com o tempo em uma jornada de que ambos sairão transformados… e apaixonados.

“Esposa de Aluguel” consegue ser mais constrangedor do que engraçado ou comovente. Os personagens são rasos e sem nenhum desenvolvimento, com Lina e Luiz se espelhando em seus comportamentos e, por isso, funcionando juntos, ela mais cult e ele, mais um eterno adolescente. A relação de rivalidade de Luiz e Maria Inez (Mariana Xavier), sua irmã, é o que coloca empecilhos nos planos dele - por algum motivo nunca devidamente explicado, a irmã o persegue e não acredita no relacionamento falso.

A trama ainda introduz e encerra um triângulo amoroso do casal de protagonistas com Suelen Glória (Poliana Aleixo), situação que até gera uma boa piada (a letra de Suelen), mas que não tem impacto algum na trama. Quando a virada do texto se apresenta, ensaiando um papel de destaque para a personagem, ela não faz diferença alguma, é apenas uma subtrama para ocupar mais tempo de filme. Ainda, o momento da virada é artificial, repentino e de resolução quase imediata, abandonando a pouca tensão que a subtrama de Suelen Glória poderia trazer e reforçando-a como apenas necessária para "crescer" o filme.

Filme brasileiro
Filme brasileiro "Esposa de Aluguel", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

A crítica não é aos clichês - quando bem utilizado, o clichê oferece conforto ao espectador em uma narrativa segura, que não o desafia. O problema de “Esposa de Aluguel” é a maneira como ele constrói seus conflitos e apresenta seus pontos de virada sem nenhum peso, impacto ou profundidade. O roteiro usa Lina como um instrumento de transformação para Luiz, como se tudo o que um homem imaturo precisasse para “ser corrigido” fosse o amor de uma mulher - seis meses após conhecer Lina, Luiz quer compromisso, quer trabalhar, ou seja, é um novo homem.

O filme tem algumas boas piadas, normalmente com Thati Lopes, mas é constrangedor na maior parte do tempo. A trama pede transformação nos personagens, e, enquanto Thati consegue entregar isso, abandonando gradualmente os exageros iniciais de Lina, Caio Castro termina o filme fazendo manha, ou seja, Luiz pode até ter amadurecido um pouco, mas seu intérprete não acompanha essa mudança.

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Filme brasileiro "Esposa de Aluguel", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

“Esposa de Aluguel” é totalmente esquecível mesmo que entregue o que promete: 98 minutos de algo que não requer esforço algum ou nenhuma conexão. Sem conflitos ou carga dramática, o filme é uma reunião de ideias, algumas boas e outras bem ruins, que não necessariamente se conectam. O trabalho de Cris D’Amato ganharia com um roteiro mais enxuto e menos picotado (Maria Inez é totalmente dispensável) que possibilitasse um desenvolvimento de personagens além de regras estabelecidas no momento imediato que os protagonistas ganham as telas pela primeira vez, uma muleta preguiçosa do texto e que prejudica o envolvimento do público com o filme.

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