Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"A Escola do Bem e do Mal", da Netflix, é divertido filme de fantasia

Filme "A Escola do Bem e do Mal", da Netflix, adapta livro de sucesso para as telas em uma aventura ao melhor estilo Harry Potter

Vitória
Publicado em 19/10/2022 às 20h28
Filme
Filme "A Escola do Bem e do Mal", da Netflix. Crédito: Helen Sloan/Netflix

Lançado em 2013, o livro “A Escola do Bem e do Mal”, de Soman Chainani, foi criticado por sua falta de originalidade, o que não o impediu de ser um sucesso. O livro era obviamente influenciado por conceitos criados por J. K. Rowling nos livros “Harry Potter” e também pelo livro/musical “Wicked”, de Winnie Holzman, explorando conceitos maniqueístas de “bem” e “mal” em uma escola mágica praticamente habitada por “sempres” (os bonzinhos) e “nuncas” (os malvados”), estudantes separados em seus devidos cursos e reitorias. Há anos, os grupos se “enfrentam” nas histórias que conhecemos como contos de fada e faz tempo que os “nuncas” não vencem - foi da escola que saíram heróis como Cinderela, Hércules, Sinbad, Branca de Neve…

Dirigido por Paul Feig (“Missão Madrinha de Casamento”) e lançado pela Netflix, “A Escola do Bem e do Mal” leva esse mundo de magia para as telas em uma grande produção que outrora seria uma aposta de grandes bilheterias no cinema. O filme adapta o primeiro dos seis livros de Chainani com a história de duas amigas, a sonhadora Sophie (Sophie Anne Caruso), uma jovem com ares de princesa, e a rebelde Agatha (Sogia Wylie) - enquanto Sophie sonha com o momento no qual, como em um conto de fadas, ela sairá da vila em que mora, Agatha só quer passar um tempo sem ser importunada pelos moradores que a chamam de bruxa.

A vida das duas muda radicalmente quando, em um passe de mágica, elas são levadas para a escola que dá título ao filme. O problema é que acabam separadas, com Sophie indo para o lado do “mal” e Agatha sendo levada para o “bem”. Para Sophie, só pode haver um erro, é claro, ela, afinal, é bonita, tem “cabelo de fada” e se encaixaria como uma luva como uma princesa de contos de fada. Mesmo entre os “sempre”, Agatha só quer ajudar sua amiga e voltar para casa, pois parece ser a única a enxergar haver muito mais ali do que as definições maniqueístas.

É nas jornadas de ambas que conhecemos a dinâmica da escola, algo que lembra muito Hogwarts (muito mais do que o necessário). Lady Lesso (Charlize Theron) é a reitora do mal, enquanto sua contraparte, a reitora do bem, é a Professora Dovey (Kerry Washington) - a escola toda funciona sob o comando do diretor vivido por Lawrence Fishburne, que parece buscar um equilíbrio, uma existência na “área cinza” entre os dois grupos.

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Filme "A Escola do Bem e do Mal", da Netflix. Crédito: Helen Sloan/Netflix

Tudo em “A Escola do Bem e do Mal” é confortável e pouco desafia o espectador; os conflitos e as viradas são previsíveis, assim como os conceitos do universo do filme (o amor verdadeiro para vencer o mal absoluto, etc. etc.), mas o texto tem o mérito de nunca se tornar chato. Sempre em movimento o filme faz bom uso de seus longos 147 minutos para desenvolver, pelo menos um pouco, alguns personagens importantes. Tecnicamente, mesmo com uma pegada infantil e alguns tropeços, o filme também é acima da média, com efeitos visuais competentes, ótimos figurinos e maquiagem e um roteiro bem amarrado que sabe exatamente aonde e como quer chegar.

“A Escola do Bem e do Mal” se sai bem na mensagem a ser passada a na construção narrativa. O texto inicialmente reforça o maniqueísmo e a separação, transmitindo ao espectador a sensação de estar na escola, mas logo oferece novas camadas para serem desenvolvidas no arco de Agatha. Um elemento estranho àquele ambiente, ela é capaz de enxergar as incongruências pré-estabelecidas e seus problemas - sua relação com o jovem Gregor (Ally Cubb), ainda que breve, funciona justamente para reforçar isso.

 Crédito: Gilles Mingasson/Netflix
Crédito: Gilles Mingasson/Netflix

Apesar da boa construção de universo, o filme de Paul Feig sofre com o excesso de didatismo, sempre com algum personagem (ou a narração de Cate Blanchett) explicando regras, conceitos e até sentimentos de alguns personagens, causando uma exposição desnecessária e até incômoda. Rende alguns momentos até interessantes, como a sequência que antecede a briga final (mesmo que não faça tanto sentido), mas é dispensável em diversas outras cenas.

“A Escola do Bem e do Mal” não é incrível e tampouco ganhará algum prêmio por sua originalidade, mas pode atingir seu público alvo em cheio e levar novos fãs para o universo de Somon Chainani. Ainda, com uma base de audiência já estabelecida com o sucesso dos livros, basta a execução competente e uma narrativa confortável oferecidas pelo filme para possivelmente transformá-lo na tão buscada franquia de filmes de sucesso que a Netflix busca há anos.

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