Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"A Caminho da Lua": animação da Netflix faz rir e chorar

Com pegada das animações clássicas da Disney dos anos 1990 e 2000 e comandada pelo lendário Glen Keane, "A Caminho da Lua" traz cultura chinesa

Publicado em 23/10/2020 às 04h00
Atualizado em 23/10/2020 às 04h00
Filme
Filme "A Caminho da Lua". Crédito: Netflix/Divulgação

“A Caminho da Lua” é esteticamente parecido com um filme da Disney, é narrativamente parecido com um filme da Disney, suas mensagens parecem as de animações da Disney e suas músicas parecem as dos clássicos da Disney. Além de tudo isso, a animação é assinada por Glen Keane, lendário animador da Disney que trabalhou em filmes como “Pocahontas”, “A Pequena Sereia”, “Aladdin”, “A Bela e a Fera” entre tantos outros. É tudo muito Disney, mas a verdade é que “A Caminho da Lua” é um filme da Netflix.

Vencedor do Oscar de Melhor Curta em Animação em 2018 por “Dear Basketball” (aquela animação do Kobe Bryant), Glen Keane agora dá vida à jornada da jovem Fei Fei, uma menina chinesa que, após perder a mãe e descobrir os planos do pai de se casar novamente, decide ir à Lua para encontrar Chang’e, uma deusa que habita a cidade lunar de Lunária. A ideia da jovem é até bem egoísta: ela espera que a deusa, surgida de uma promessa de amor eterno, faça com que seu pai continue sozinho honrando a memória de sua falecida esposa.

Numa velocidade incrível, a genial Fei Fei constrói um foguete para levá-la à Lua. Seguindo à fórmula das animações recentes, a protagonista é uma mulher independente, que toma rédea do próprio destino e decide enfrentar os desafios que a jornada possa lhe oferecer. Ela, no entanto, logo descobre não estar sozinha, pois Chin, o filho da namorada de seu pai, dá um jeito de se juntar à aventura lunar e, claro, se meter em diversas confusões.

“A Caminho da Lua” é uma parceira entre o a Netflix Animation, subsidiária de animações da gigante do streaming, e a chinesa Pearl Studios. Essa parceria resulta em um mergulho interessante na cultura chinesa de uma forma não estereotipada e com personagens bem construídos. Animada pelo próprio Glen Keane, Fei Fei é incrível, cheia de expressões e emoções reais - a cena em que ela descobre que o pai pretende se casar é de partir o coração.

Filme
Filme "A Caminho da Lua". Crédito: Netflix/Divulgação

Após um primeiro ato bem convencional de ambientação e apresentação do conflito, “A Caminho da Lua” ganha novos ares e funciona bem. A aventura de Fei Fei na Lua é colorida, cheia de criaturas estranhas, entre elas um cachorro fluorescente e uns pássaros motociclistas meio “Angry Birds”. O foco da narrativa se perde um pouco e nunca entendemos ao certo o que é o tal “presente” que Fei Fei busca para Chang’e, mas a animação ganha vida e detalhes que impressionam e fazem lembrar os filmes da Pixar.

Fei Fei funciona como a (forte) carga emocional do filme, escrito por Audrey Wells (1960 - 2018) pouco antes de sua morte - a roteirista de “Quatro Vidas de um Cachorro” já estava doente quando seu roteiro se tornou uma produção da Netflix, o que confere ainda mais força ao texto. Em contrapartida, Chin e o fluorescente cachorro lunar Gobi são bons alívios cômicos para a narrativa, mas não se restringem a isso: ambos têm momentos “solo” para completar seus arcos.

Mesmo conversando melhor com jovens adultos e crianças, o “A Caminho da Lua” dialoga bem com adultos, pois fala de perdas e a capacidade de seguir em frente. Não é um filme tão profundo quanto alguns da Pixar, pois até se aproxima dos filmes clássicos da Disney, com músicas que ajudam a construir personagens e tudo mais.

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Filme "A Caminho da Lua". Crédito: Netflix/Divulgação

O primeiro ato exagera nas canções e se arrasta um pouco, mas quando “Vou Voar”, música-tema interpretada por Priscilla Alcântara na versão brasileira, ganhas as telas, o filme parece caminhar com mais fluidez. As músicas podem afasta um pouco o público adulto, mas funcionam para tentar buscar o público infantojuvenil de “Frozen” (2013), por exemplo.

“A Caminho da Lua” é uma animação interessante. A história consegue despertar empatia do público e Fei Fei é uma personagem com camadas distintas e bem exploradas. O filme também tem um aspecto que vale ser ressaltado que é um olhar para os adultos - mesmo que Fei Fei seja a protagonista, todo seu arco é desenvolvido no seu processo de aceitação de que o pai precisa seguir com a vida.

Ao fim, o filme de Glen Keane e John Kahrs (outro veterano da Disney) é comovente em sua história sobre uma jovem lidando com perdas e novidades. A animação é um espetáculo, com personagens ricos em detalhes e que emocionam pelo olhar, e tem grandes chances de estar entre as indicadas da categoria no Oscar 2020. Há um ou outro percalço pelo caminho, mas nada que comprometa o resultado da jornada de Fei Fei, Gobi e Chin.

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