Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Papai Noel não precisa ser uma mentira

Nessa época do ano muitos pais e mães vêm me perguntar se fingem para a criança que Papai Noel existe para manter a magia do Natal. Só que existe a fantasia e o faz de conta

Publicado em 10/12/2020 às 05h00
Atualizado em 10/12/2020 às 05h03
Papai Noel
Quando o adulto afirma que um senhor de barba e roupa vermelha veio voando num trenó entregar o presente, ela está acreditando no adulto que está afirmando isso. Crédito: Shutterstock

Nessa época do ano muitos pais e mães vêm me perguntar se fingem para a criança que Papai Noel existe. Apesar de não querer mentir para a criança, os pais também têm preocupação de tirar a magia do Natal e da infância.

No entanto, eu acredito que Papai Noel não precisa ser uma mentira, mas, para te explicar isso melhor, precisamos primeiro entender a diferença entre a fantasia e o faz de conta.

Fantasia é como mitologia e folclore, são histórias que confundem realidade e ficção. Quando crianças são muito pequenas, antes dos cinco ou seis anos, elas ainda estão bem maravilhadas com o mundo como é. E ainda acreditam em qualquer coisa que contam, confundindo realidade com essas histórias.

No entanto, por serem ainda muito concretas e extremamente inseguras, muitas vezes essas histórias assustam a criança, porque como ela não sabe diferenciar da realidade, quando um adulto diz que é verdade, ela passa a acreditar que aquelas coisas são realmente possíveis. Seus medos se tornam mais reais e extremamente concretos, porque um adulto disse que aquele mundo existe, interveio e defendeu como realidade.

Já o faz de conta faz parte da infância naturalmente, sem nossa intervenção. A criança brinca de cozinhar na panelinha de plástico, mas ela sabe que não está fazendo comida de verdade. Ela acredita naqueles poucos minutos, mas sabe de verdade que a comida ali não existe. Ela pode fingir que a comida voa, que se faz sozinha, que ela tem poderes mágicos, mas quando a brincadeira acaba ela sabe que foi tudo fruto da imaginação dela, e que não havia magia real ali, apenas a que ela fingiu existir.

Ela não acredita de verdade nem tem adultos reforçando essa fantasia, e ela se diverte mesmo assim!

Portanto, acredito que Papai Noel, Fada do Dente e Coelho da Páscoa podem ser mágicos sem ser fantasias, apenas enquanto faz de conta. Eu falo para os meus filhos: “vamos brincar que o Papai Noel trouxe esses presentes?”. Eles topam e a diversão é garantida!

Quando o adulto afirma que um senhor de barba e roupa vermelha veio voando num trenó entregar o presente, como faz a todas as crianças do mundo, a criança não está acreditando somente na fantasia. Ela está acreditando no adulto que está afirmando isso.

Poderia ser faz de conta e ela se divertir, até um adulto vir e falar - de forma bem confusa - que aquela comidinha na panela de mentira, é de verdade, e só ela que não consegue ver. Ou seja, a cada vez que ela encontra um homem diferente vestido de Papai Noel e tentamos convencê-la de que é a mesma pessoa em todos os lugares, ao mesmo tempo, estamos a enganando. Porque apesar da lógica não fazer sentido, apesar de ela inteligentemente perceber que é tudo muito mal explicado, reforçamos com toda certeza que ela está errada, e então nós deixamos a criança confusa, questionando a realidade que percebe a sua volta.

Nanda Perim

psicóloga

"E aqui vai um detalhe: além de atrapalhar a criança a aprender sobre o mundo e a lógica que o rege, também nos colocamos enquanto pessoas que mentem, que confundem, em quem não se pode confiar"

Além disso, quando usamos o faz de conta ao invés da fantasia com esses personagens, paramos de ter a péssima oportunidade de usá-las enquanto figuras de coerção e convencimento com a criança. Porque se a criança precisa melhorar o comportamento ou largar a chupeta, não é com essa mentira que vamos ‘convencer’, pegando atalhos, para agradar o Papai Noel ou trocar o presente por comportamentos e chupetas. Mas sim passar por todo o processo concreto necessário para que essas etapas sejam vividas e resolvidas.

Por fim, me parece insalubre promover um consumismo absurdo de brinquedos e ainda fingir que vieram de uma fábrica com duendes no Pólo Norte, ao invés de algo comprado com esforço e tempo dedicado daqueles adultos que o presenteiam. Sem contar com a injustiça de um Papai Noel que dá muitos brinquedos para algumas crianças e poucos ou nenhum para outras, não importa quão bem se comportem. Uma vez que é questão de desigualdade social, e não de um velhinho injusto que voa pelos ares.

Portanto, considero o ideal entrar nessa brincadeira divertida de faz de conta com a criança, sem necessariamente enganá-la, podendo, inclusive, curtir e usufruir a magia deliciosa do Natal da mesma forma.

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