Hoje trago uma expressão pouco conhecida e, por esse motivo, necessária de ser esclarecida, pois quem vivencia o capacitismo sofre com um tipo de preconceito que se manifesta diariamente para as pessoas com deficiência. Numa relação direta, o capacitismo está para as pessoas com deficiência assim como o racismo está para os negros e o machismo, para as mulheres.
O capacitismo na sociedade
Em sociedades capacitistas, a ausência de qualquer deficiência é a norma, e pessoas com alguma deficiência são entendidas como exceções. Outro conceito que representa essa condição é a corponormatividade, que classifica como corpos “normais” aqueles que não apresentam deficiências, vendo as deficiências como falhas. Assim, um corpo sem deficiência é considerado um padrão a ser seguido. Isso implica a discriminação direta que reduz pessoas com deficiência à condição de imperfeição ou fora de padrão.
As barreiras criadas pelo capacitismo
Em geral, a deficiência em nossa sociedade é algo para ser superado e corrigido o mais rápido possível, o que demonstra uma inabilidade de aceitarmos as pessoas como elas são. A partir desse comportamento, surgem as barreiras tanto físicas - tão fáceis de percebermos no dia a dia, basta olhar para nossas calçadas e construções - como barreiras socioemocionais, quando somos tratados como incapazes, dependentes, sem vontade ou voz própria. Quer um exemplo simples? Quando alguém deseja abordar uma pessoa com deficiência visual que está com um acompanhante, dificilmente a palavra é dirigida pessoa com deficiência num primeiro momento. O interessado se dirige primeiro ao acompanhante, como se a pessoa cega fosse incapaz de se expressar.
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O capacitismo tira das pessoas com deficiência a percepção de seres autônomos, adultos, com condições de compreensão do mundo, que merecem ter espaço para exigir acessibilidade. O que vemos com frequência é um olhar de espanto, como se estivéssemos fazendo algo que parece sobrenatural, como dirigir ou fazer sexo, e que deveríamos ser afastados do convívio social com as pessoas normais. Em outra instância, há também uma boa dose de paternalismo, que tolera que os elementos dominantes da sociedade expressem profunda e sincera simpatia pelas pessoas com deficiência, enquanto, ao mesmo tempo, sustente-os num acondicionamento de subordinação social e econômica.
De incapazes a super-heróis
A cultura do capacitismo muitas vezes é tão potente que consegue fazer com que as próprias pessoas com deficiência duvidem de si mesmas, além de reproduzirem muitos desses preconceitos antes de terem noção ou esclarecimento da opressão a que estão submetidas. O capacitismo é tão violento e por vezes invisível, que nos taxam como super-heróis e quase sempre nos parabenizam como “exemplos de superação” por vencermos barreiras criadas pela mesma sociedade que discrimina e nos classifica como desiguais.
O capacitismo e a mídia
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Não vou entrar em detalhes, mas prometo voltar com o tema. Um campo também recheado dessa cultura capacitista é o meio midiático. É certo que há muito desconhecimento no que diz respeito à deficiência, então, não é surpresa que as produções jornalísticas mergulhem de cabeça e nadem de braçadas no mar do preconceito. Por isso, os debates sobre diversidade e acessibilidade devem estar presentes na formação universitária e em todos os espaços da sociedade. Isso facilitaria muito as nossas vidas, afinal, as deficiências, que são características de uma pessoa, são parte de um universo diverso e devem ser conhecidas em suas realidades. Pessoas com deficiência são, acima de tudo, pessoas. O olhar de cada um é que deve ser habilitado para enxergar essa verdade.
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