Administradora de Empresas e Educadora Física. É Pós Graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde pela UFES.Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

Como eu tomo banho? Vem que eu te conto

Admiro muito as pessoas curiosas. São elas que nos fazem questionar coisas sobre as quais nunca paramos para pensar.

Publicado em 05/11/2019 às 10h44

O ditado já disse: perguntar não ofende. Então, não se preocupe, vou responder sua curiosidade com carinho. Mas, provavelmente, levada como sou, também não vou perder a piada. O que seria da gente sem o bom humor? E eu admiro muito as pessoas curiosas. São elas que nos fazem questionar coisas sobre as quais nunca paramos para pensar.

E me parece que as pessoas com deficiência são alvo da curiosidade alheia. Jairo Marques, um colega colunista da Folha de São Paulo e autor do blog Assim Como Você, frequentemente também aborda o tema das perguntas que nos colocam em saias justas. Jairo é cadeirante desde a infância e aprendeu a criar respostas hilárias para perguntas que nos fazem rir. A inspiração veio dele e espero que as respostas tirem um sorriso de você também.

1 – Você nasceu “assim”’?

Que eu me lembre, não. Minha mãe nunca me disse que nasci com uma mini cadeira colada ao meu bumbum.  Gente, que diferença faz se nasci ou não? Afinal, o nascimento não causa deficiências, e sim, doenças, síndromes, má-formação, problemas no parto etc…

2 – Você não anda nem um pouquinho?

Não, não. Prefiro voar.

Esta é uma pergunta clássica que encaro sempre quando vou embarcar, principalmente, nos aeroportos deste Brasil.

3 – A cadeira vai?

Moço, se eu não levá-la, ela morre de tristeza e saudade de mim.

Esta também é clássica de taxistas. Então, me adianto e já saio falando antes de eles perguntarem. Olha, tenho um caso de amor com minha cadeira e por isso não me separo dela. Sim, ela vai!

4 - Como você toma banho?

Pessoal, só aceito esta pergunta quando ela vem das crianças, tá?

Do contrário, considero muito indiscreta. Mas como nunca perco a piada e sou sincera, vou logo dizendo:  tiro a roupa, verifico se chuveiro tá no quente, se tem toalha, shampoo, sabonete, ligo o chuveiro.

5 - Por que você não usa cadeira elétrica?

Porque não gostaria de morrer eletrocutada. Além disso, já viu o preço da conta de luz?

Mas de todo modo as cadeiras motorizadas são excelentes para quem tem uma deficiência severa e não tem forças nos braços para propulsionar uma cadeira manual. Como paraplégica que sou, o ideal mesmo são as cadeiras manuais, pois além de mais práticas e de fácil manuseio, nos fazem exercitar o coração. Sim, temos coração!!

6 – Sua bunda deve doer de tanto ficar sentada, né?

Sua sola do pé dói? Tadinha, deve doer de tanto você ficar pra lá e pra cá, em pé.

Estar cadeirante não significa estar imóvel. A gente se mexe pra cá e pra lá. E também, aqueles que podem, usam almofadas especiais que ajudam e muito na nossa sentada diária.

7 - Como você dorme?

Engraçado que as crianças me fazem muito essa pergunta. Para elas sempre enfeito contando uma história bem interessante e daí que acabam por entender que durmo como elas: deitada.

Mas pensando bem, durmo sentada quando um filme é chato ou quando estou viajando em classes econômicas. Às vezes, durmo sentada também esperando uma consulta que demora demais ou quando vou a uma loja para resolver problemas com o celular.

8 – Você transa?  E como é?

Sim, e quando se ama e é correspondida, aí a coisa esquenta e fica ainda melhor. Costumo transar sem roupa, mas às vezes vai de roupa mesmo. Gosto à meia luz.

O mais importante é ter alguém com quem possa compartilhar do mesmo desejo, da mesma energia. A maneira como cada um faz é bem particular. E as adaptações, adequações, cada qual escolhe o que e como fica melhor.

9 – Como você dança?

Escolho uma música e me mexo no ritmo dela. Pode ser acompanhada ou sozinha. Em casa ou na balada. Ah, costumo dançar enquanto dirijo.

10 – Você dirige?

Sim. Por quê? Quer uma carona?

Bom, queridos leitores, perguntar não é nenhum problema, como já disse. Porém, elaborar melhor o pensamento ou fazer o exercício de se colocar no lugar do outro – isso em qualquer situação – pode evitar um constrangimento para mim ou para você.

E como em todas as situações de possíveis saias justas, tento manter a paciência, o bom humor e entender a minha missão naquele momento. Jamais perco a oportunidade de informar e acabar com o preconceito que pode estar ali entre nós . Se você também for bem-humorado, vai se divertir com as respostas.

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