É advogado. Doutor e Mestre em Direito pela Universidade de São Paulo (USP)

“Matem o mensageiro!” ou como vencer um debate sem ter razão

Se o adversário apresenta uma mensagem, por mais importante que seja, não cabe uma resposta ao conteúdo do que foi dito, o que acabaria apenas por valorizar uma boa ideia ou uma mensagem coerente e digna de atenção

Vitória
Publicado em 11/04/2024 às 02h10

O mensageiro e a mensagem são duas figuras totalmente diferentes, as quais podem eventual e deliberadamente se fazerem confundidas, com a eficaz perspectiva do argumentador impudico, em desviar as mentes e os juízos desavisados do efetivo conteúdo da mensagem.

Trata-se de estratagema antigo e bem conhecido. O filósofo alemão Schopenhauer publicou trabalho em 1831, até hoje muito popular, intitulado “Como vencer um debate sem precisar ter razão”.

O livro retrata a descrença na verdade efetiva que permeia determinado ambiente social, onde o relativismo é ressaltado e a opinião, no âmbito político, não visa a enaltecer os fatos e a realidade, mas, diferentemente, tem o essencial desígnio de condenação moral e desvirtuamento.

Arthur Schopenhauer
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Crédito: Reprodução

A realidade é um descaminho de jogos subjetivos, debates desenvolvidos pelos mais hábeis a debater. Dentre os estratagemas catalogados, o livro trata do chamado argumento “ad hominem”, assim descrito:

“Se o adversário faz uma afirmação, devemos perguntar-lhe se não está, de algum modo – ainda que seja só em aparência – em contradição com algo que anteriormente disse ou aceitou, ou com os princípios de uma escola ou seita que ele elogie ou aprove, ou com o comportamento de membros dessa seita (ainda que se trate de membros não autênticos ou só aparentes), ou com a conduta do adversário mesmo”.

Qualquer semelhança a fatos de nossa sociedade contemporânea seria mera coincidência. Afinal este é um ensaio meramente teórico e abstrato. A ideia, todavia, é a seguinte. Se o adversário apresenta uma mensagem, por mais importante que seja, não cabe uma resposta ao conteúdo do que foi dito, o que acabaria apenas por valorizar uma boa ideia ou uma mensagem coerente e digna de atenção.

Não se deve, portanto, debater a verdade do argumento. Melhor é atacar o mensageiro, sua reputação. Rotulá-lo de neofascista, neocomunista, neoliberal ou qualquer outro tipo de neo. Destruindo a imagem do interlocutor, o conteúdo e a verdade de sua mensagem acabam se perdendo no ambiente etéreo do debate público. E talvez aquele sujeito que não tem razão possa prevalecer no jogo dos interesses.

O que importa é que o inimigo será derrotado! Pelas contradições de seu ser, pela ausência de virtudes. A mensagem enunciada é despiciente, e não merece ser investigada ou apurada com profundidade. Ganharemos o debate, às favas quem tem razão!

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