Enófilo há mais de vinte anos e membro de diversas confrarias de vinho no ES, Luiz Cola realiza palestras, cursos, degustações temáticas e presta consultoria em vinhos para restaurantes e adegas.

Quer beber vinhos melhores pagando menos? Uma dica é fugir do óbvio

É preciso investigar novos produtores e rótulos menos badalados no mercado, capazes de nos oferecer ótimas experiências vínicas por valores relativamente menores

Publicado em 01/11/2019 às 10h00
Atualizado em 11/02/2020 às 11h58
 Crédito: Reprodução Shutterstock
Crédito: Reprodução Shutterstock

Parece um mantra: o vinho é muito caro! Ouço isso quase todas as vezes que me deparo com algum apreciador desse nobre fermentado de uvas. Sim, isso é parcialmente verdade. Muitas vezes o vinho é mais caro do que deveria ser. A culpa disso costuma ser atribuída à alta carga tributária associada ao produto, mas também às margens elevadas praticadas pela cadeia de distribuição ou estimuladas por estratégias de marketing que exaltam pontuações recebidas por determinado rótulo ou a qualidade intrínseca de uma determinada região produtora.

Atualmente, a pesquisa de vinhos e a escolha de bons fornecedores está bastante facilitada pela internet, mas ao meu ver, uma das formas mais eficientes de se beber melhor pagando menos é olhar além do óbvio. É preciso investigar novos produtores e rótulos menos badalados no mercado, capazes de nos oferecer ótimas experiências vínicas por valores relativamente menores.

Claro que, na prática, isso não é tão fácil de fazer. O mercado brasileiro possui uma das maiores ofertas de vinhos do mundo. Separar um bom vinho de um “quase vinagre” entre milhares de rótulos disponíveis pode ser uma tarefa hercúlea.

Para facilitar um pouco esse processo, indico abaixo uma série de regiões vinícolas menos conhecidas ou pouco exploradas que podem reduzir bastante a busca por rótulos de excelente relação preço x qualidade.

Na América do Sul, temos uma imensa disponibilidade de rótulos, mas há certa mesmice na maioria dos vinhos. Isso vem sendo sanado com a oferta de novos produtos elaborados por jovens enólogos, a maioria ainda fora do radar, que buscam novos sentidos para os vinhos em seus países.

Na Argentina, a Cabernet Franc desponta em algumas zonas (Vale de Uco), ameaçando a hegemonia da Malbec. No Chile, a Carignan do Maule, a Pinot Noir de San Antonio e a Sauvignon Blanc do Vale de Casablanca se destacam no mesmo nível da onipresente Cabernet Sauvignon do Vale del Maipo e de outras áreas mais ao sul. O pequenino Uruguai não é só Tannat, contando com ótimas novidades, sobretudo elaboradas com a Pinot Noir.

O Brasil merece um parágrafo à parte, já que nossos espumantes não encontram rival nas Américas. Definitivamente, eles representam a melhor compra dentro desse estilo de vinho. Os Cabernet Franc e Tannat vindos da Campanha Gaúcha também merecem atenção.

No Velho Mundo não é diferente. Vale a pena pesquisar e descobrir vinhos de ótima qualidade com preços ainda não inflacionados. Claro que para isso temos de desviar das regiões mais nobres e tradicionais e investir em zonas promissoras mas ainda pouco difundidas.

As principais apelações em Bordeaux e na Borgonha estão cada vez mais difíceis de oferecer preços adequados (ainda que sua qualidade seja elevada), sujeitas a uma procura frenética de novos compradores, particularmente da China.

Claro que ainda é possível encontrar bons rótulos com preços decentes, mas é preciso saber procurar. Na Borgonha, por exemplo, temos de buscar os tintos de Fixin e Marsannay (ao norte da Côte de Nuits) ou os brancos de Saint-Aubin e Rully (ao sul da Côte de Beaune) para extrair o máximo pelo nosso dinheiro. Mais ao sul da Borgonha, os Crus do Beaujolais, como Morgon, Moulin à Vent e Fleurie, são ótimas opções entre os tintos.

O sul da França é ainda mais promissor, repleto de vinhos interessantes na Languedoc-Roussillon, na Provence e na Rhône (fora das apelações mais badaladas como Chateauneuf du Pape, Hermitage e Côte-Rotie). Para os amantes de vinhos naturais, é um paraíso de pechinchas!

Na Itália, também temos de desviar do badalado triângulo formado pelas regiões do Piemonte, do Vêneto e da Toscana para encontrar vinhos em condições de preço mais atraentes. As melhores opções estão mais ao sul, na Campânia (Taurasi), na Puglia (Primitivo) e na Sicilia (Nero d’Avola).

Para a Espanha, vale o mesmo alerta da Itália: desvie das zonas mais importantes - Rioja e a Ribera del Duero - e preste atenção nos tintos de Bierzo e da Ribera Sacra (Mencia), nos brancos de Rias Baixas (Albariño) e numa grande diversidade de tintos da Catalunha, próximos à fronteira com a França.

Portugal também não poderia ficar de fora, ainda que o tradicional Douro não ofereça mais tantas pechinchas. O Alentejo supre bem essa lacuna, com grande disponibilidade em nosso mercado. Por outro lado, é nos tintos da Bairrada (Baga) e nos brancos do Dão (Encruzado) que podemos encontrar coisas muito legais, capazes de surpreender e encantar qualquer enófilo.

Para concluir, deixo seis rótulos disponíveis no mercado nacional como sugestões para quem deseja levar vinhos melhores, pagando menos. Boa degustação!

 Crédito: Divulgação
Crédito: Divulgação
  • BRANCOS
  • 1 - Matetic EQ Sauvignon Blanc 2017 (R$ 114,90). Grand Cru.
  • 2 - Domaine Sylvain Langoureau Saint-Aubin Blanc 1er Cru "Sur Gamay" 2017 (R$ 240). Cellar.
  • 3 - Casa de Mouraz Dão Encruzado 2016 (R$199,90). Belle Cave.
 Crédito: Divulgação
Crédito: Divulgação
  • TINTOS
  • 4 - Hudelot Noellat Bourgogne Passetoutgrain 2017 (R$ 180). Juss Millesimes.
  • 5 - Via Revolucionária Torrontés Bonarda Pura 2018 (R$ 146). Vinho Mix.
  • 6 - Domaine Roland Pignard Morgon 2014 (R$ 158). de la Croix.

Acompanhe o colunista no Instagram.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Gastronomia vinhos

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.