Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

Será que podemos aprender dormindo?

Novos achados abrem fascinantes áreas de pesquisa. Quem sabe estaria se abrindo um campo novo de pesquisa para “ensinar” novos comportamentos e vencer vícios em um cérebro descansando? Ou mesmo “aprender” enquanto descansamos?

Publicado em 09/11/2023 às 00h10

Um sono reparador é fundamental para a boa saúde. Dormir sempre foi considerado uma quase completa desconexão do meio ambiente sem reação a estímulos externos, exceto se esses estímulos são intensos o bastante para despertar. Um sono de qualidade é uma das condições essenciais para uma boa saúde.

Dormir não é apenas “desligar”, mas processar informações e memórias em conjunto com o descanso do corpo, de modo tal que restaura a disposição e prepara para o dia seguinte. Todos precisam dormir. Mesmo sob pressão de estudos e concursos. Por exemplo, jovens na véspera do Enem ou de vestibulares não podem varar noites, sob pena de jogar fora o aprendizado, sob pressão do esgotamento mental. No sono o cérebro supostamente se “desliga” do meio ambiente ao redor.

Mas... será que é assim mesmo? Um estudo publicado em outubro passado na Nature Neuroscience, por pesquisadores norte-americanos, trouxe achados novos e desconcertantes. Os cientistas acompanharam 49 voluntários enquanto dormiam e demonstraram que, em diversas fases do sono, em 70% das vezes, os voluntários respondiam a ordens simples como sorrir.

O estudo demonstra cabalmente que, mesmo no sono profundo em pessoas normais, existem janelas de interação com o meio ambiente em que a pessoa pode até interagir e responder a estímulos.

Até recentemente sabia-se que alguma interatividade poderia ocorrer com alguém dormindo apenas no início do sono. Nesse trabalho, os pesquisadores demonstraram interatividade do meio externo com pessoas dormindo até mesmo em estágios de sono profundo.

Esses novos achados abrem fascinantes áreas de pesquisa. É bem possível que ao responder aos comandos os voluntários integrassem os estímulos externos aos sonhos que estavam experimentando. Mas quem sabe algum espaço recôndito de seu cérebro “soubesse” que havia um estímulo externo? Quem sabe estaria se abrindo um campo novo de pesquisa para “ensinar” novos comportamentos, vencer vícios, dependências, em um cérebro descansando? Ou mesmo “aprender” enquanto descansamos? A ciência enfim envereda pelo mundo dos sonhos, para entender melhor nosso cérebro até quando descansa.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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