Na última semana de abril, vivemos pela primeira vez neste ano uma temperatura mais amena, típica de outono. Nesta semana a temperatura subiu um pouco, mas é de se esperar que algum frio chegue, mesmo a essas nossas paragens tropicais.
Estamos iniciando a época de maior circulação dos vírus respiratórios, época essa de campanha nacional de vacinação de influenza. As três últimas campanhas de vacinação de gripe no Brasil em 2022, 2023 e 2024 foram desastrosas. As vacinas encalharam nos postos. Pois agora, nos primeiros dias de maio de 2025, a cobertura vacinal do público-alvo no Brasil mal passa de 12%. O que está acontecendo?
As pessoas podem achar que gripe é bobagem, nariz escorrendo, olho avermelhado e só... Ledo engano. A gripe é responsável por milhares de internações de grupos vulneráveis, os idosos, as crianças pequenas, as gestantes e as pessoas com comorbidades. Nas epidemias, em especial, quando causadas por AH1N, morrem jovens sem comorbidades. O último informe epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde destacava que influenza teve mais óbitos que a Covid nas últimas três semanas de abril.
Nas semanas epidemiológicas de número 15 a 17 em abril, 44 pessoas morreram de gripe no Brasil. No total do ano até agora, 177 mortes com diagnóstico confirmado de gripe. Como bem sabemos que uma minoria de pessoas com gripe faz diagnóstico correto, já que os exames nem sempre estão disponíveis, e que uma gripe descompensa uma doença cardíaca ou respiratória, esse número é bem maior.
Este é um fenómeno que não ocorre apenas no Brasil. Nos EUA, a vacinação para gripe também deixa a desejar. Um país rico, tem diagnostico preciso e fácil e lá os números são mais confiáveis. Segundo o CDC – Centro de Controle de Doenças, pela primeira vez, desde o surgimento do novo coronavírus em 2020, nesta estação (2024/2025) a influenza está hospitalizando mais que o SarsCov2.
Na semana que encerrou em 26 de abril passado, foram 2857 pessoas admitidas em hospitais americanos por gripe. Nesta mesma semana, 12 crianças morreram de gripe de um total de 216 mortes infantis nesta temporada. Muitas crianças desenvolveram encefalite, uma complicação temível da gripe e felizmente não muito frequente.

Existe um desleixo geral com as vacinas. Em parte, pela polarização maluca que vive nossa sociedade, aqui como lá, onde o interesse ou não por vacinas foi desgraçadamente politizado. Em parte, por uma certa fadiga pós-pandemia, onde cuidados de saúde cansaram muitas pessoas, ao que parece. Isso foi descrito após a gripe espanhola de 1918. Houve um certo desleixo com a saúde pessoal, um interesse em celebrar a vida. Consta que os carnavais logo após a gripe espanhola no Rio foram bem agitados...
Se mantivermos esse descaso com as vacinas como estamos lidando com a vacina de gripe, os agentes infecciosos farão a festa. Aí os festejos serão deles...
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