Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

Microplásticos aumentam até risco de infarto, de acordo com pesquisa

Microplásticos e nanoplásticos entram no corpo humano principalmente por inalação ou ingestão, mas até mesmo por exposição cutânea. De modo silencioso passam a interagir com tecidos humanos

Publicado em 28/03/2024 às 01h20

Pesquisadores italianos publicaram uma importante pesquisa no New England Journal of Medicine (NEJM) agora em março. Um estudo multicêntrico prospectivo acompanhou 257 pessoas por um período de 33,7 meses após serem submetidas a uma retirada de placas de carótida, que foram analisadas por espectrometria de massa, para observação da presença de microplásticos no interior delas.

Pois bem, 150 dessas pessoas (58,4%) tinham em média 21,7 μg de polietileno por mg de placa carotídea, e apresentaram um risco 4,53 x maior de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte na evolução.

Os plásticos são matérias químicas manufaturadas, derivados de combustíveis fósseis. Carvão, petróleo e gás constituem a principal matéria-prima que ao final origina toda sorte de plásticos. As grandes corporações como Esso, Shell e até a Petrobras estão por trás da produção.

Embora tenham tornado nossa vida mais prática e conveniente em diversos aspectos, nas mais diversas áreas, os plásticos, além de impacto na natureza pela degradação excessivamente lenta, têm impacto na saúde, o que tem sido estudado nos últimos anos. Há uma epidemia de plástico descontrolada. A produção anual cresceu de 2 milhões de toneladas em 1950 para cerca de 400 milhões de toneladas hoje, e tem a projeção de dobrar em 2040 e triplicar em 2060. 

Produtos de uso único, descartáveis, são responsáveis por cerca de 40% da atual produção de plásticos, gerando um lixo insuportável de degradação lenta que se acumula em nossos oceanos e nos mais diversos biomas. Esse lixo plástico onipresente se degrada em partículas de microplástico e nanoplástico.

Os primeiros alertas para a saúde foram descritos na saúde ocupacional. Doença intersticial pulmonar foi descrita em trabalhadores da indústria têxtil expostos a fios de nylon e até mesmo casos de tumores hepáticos em operários expostos a polímeros. Nos últimos anos, diversos alertas têm sido feitos por cientistas sobre o acúmulo silencioso de partículas de neoplástico em nosso corpo.

Estudo canadense estimou que uma pessoa ingere de 75 a 120 mil partículas de microplástico por ano
Estudo canadense estimou que uma pessoa ingere de 75 a 120 mil partículas de microplástico por ano. Crédito: @5gyres

Microplásticos e nanoplásticos entram no corpo humano principalmente por inalação ou ingestão, mas até mesmo por exposição cutânea. De modo silencioso passam a interagir com tecidos humanos. Têm sido descritos achados de plásticos na placenta, sangue, pulmões, fígado e vasos sanguíneos. Até mesmo no leite materno. Diversos estudos in-vitro sugerem que os microplásticos produzem estresse oxidativo e inflamação nos tecidos humanos. São também disruptores endócrinos, alterando o metabolismo lipídico, com aumento do risco de diabetes, doença cardiovascular e acidente vascular.

Está em andamento nas Nações Unidas um Tratado Global de Plásticos. É urgente uma mudança em nosso estilo de vida, abolindo definitivamente embalagens plásticas de uso único que poluem o ambiente e nossos corpos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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