
Os ataques cardíacos e os “derrames” (acidentes vasculares cerebrais) estão entre as principais causas de morte em nosso país e no mundo. Os médicos tradicionalmente usam algoritmos (calculadoras) para estimar riscos, usando para tanto dados das pessoais, envolvendo pressão arterial, colesterol, tabagismo, diabetes, idade, sexo e raça, os mais comuns.
Desde novembro passado, a influente American Heart Association publicou na revista "Circulation" os fundamentos de uma nova equação para predizer o risco cardiovascular dos norte-americanos, removendo a raça como parâmetro até então usado nas equações.
Os autores didaticamente explicam que a etnia por si não traduz risco maior, mas sim que no seu bojo pode esconder fatores sociais. Em síntese, os negros norte-americanos não morrem mais de doença cardiovascular porque são negros, mas porque são pobres e têm menos acesso a serviços de qualidade.
O novo algoritmo ainda em construção deverá envolver doença renal, que é um importantíssimo fator de risco de doença cardiovascular, além de um índice de privação social que deverá envolver pobreza, desemprego, educação e outros fatores.
A pandemia de Covid-19 desnudou a importância de equidade e acesso na brutal diferença de mortalidade entre países e diferentes faixas de renda. Hospitais privados de alta complexidade no Sudeste tiveram taxas de mortalidade bem menores que hospitais públicos no Norte do país. Não bastavam leitos de terapia intensiva, eram necessárias equipes bem treinadas e acesso a equipamentos de ponta.
Em que pese o fato de algumas doenças poderem até ter situações de predisposição genética em algumas raças, como por exemplo a associação entre a anemia falciforme e os negros, por outro lado, diversos algoritmos médicos têm raça na avaliação de risco de doenças sem base clara em evidências científicas.
Os cardiologistas têm assim uma bela posição de liderança na iniciativa de remover raça do risco cardiovascular. É um caminho para uma medicina mais inclusiva que olhe para um acesso mais equitativo aos serviços de saúde. Existem outros algoritmos que têm o bolor do tempo e merecem ser arejados. Há especialistas que ainda usam algoritmos que subestimam o risco da raça negra de desenvolver doença renal crônica. Seria uma boa hora de substituir a forma de calcular esse risco.
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