É empresário do setor imobiliário, membro do Conselho Superior da Ademi-ES, mestre em Change pelo Insead (França), professor convidado pela Fundação Dom Cabral e 24º brasileiro a atingir o cume do Everest.

Por que a construção civil cresceu 9,7% em 2021?

O setor de construção civil foi um dos principais destaques do resultado dos dados do PIB de 2021 segundo o IBGE, na frente até mesmo da agropecuária

Vitória
Publicado em 09/03/2022 às 02h00
Coluna Juarez Soares - Por que a construção civil cresceu 9,7% em 2021?
O PIB da indústria, da qual a construção faz parte, cresceu 4,5%. Crédito: Ralph Kayden/Unsplash

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última sexta-feira (4), os dados do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021. A economia como um todo cresceu 4,6%, recuperando-se da queda de 3,9% de 2020. O setor da construção civil foi um dos principais destaques deste resultado ao apontar um incremento de robustos 9,7%, ante uma queda de 6,7% no ano anterior.

A título de comparação, o PIB da agropecuária, responsável por carregar o Brasil nos últimos anos, recuou 0,2%, o de serviços avançou 4,7% e o da indústria, da qual a construção faz parte, também cresceu, como um todo, 4,5%. Este foi o melhor desempenho do setor desde 2010, quando o incremento das atividades foi de 13,1%.

Coluna Juarez Soares - Por que a construção civil cresceu 9,7% em 2021?
Gráfico das Contas Nacionais Trimestrais, segundo o IBGE. Crédito: IBGE

No artigo desta semana procuraremos analisar duas questões:

1 - Por que o PIB da construção civil obteve este resultado tão expressivo em 2021?

2 - Este crescimento é sustentável para os próximos anos?

Para respondermos à primeira questão é preciso resgatar o contexto positivo iniciado em 2020, no primeiro ano da pandemia, quando o baixo patamar das taxas de juros impulsionou a reação do setor imobiliário através de dois dos seus pilares essenciais: o incremento do crédito imobiliário e o aumento das vendas.

De acordo com a Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP) em 2021 os financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança atingiram o recorde anual de R$ 205,4 bi, alta de 65,7% comparado ao ano anterior. Foram 866,33 mil imóveis financiados, número 103% superior ao ano de 2020.

Em paralelo, dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) em parceria com o Senai Nacional mostram que as vendas de unidades novas, que já havia apresentado um crescimento de 16,47% em 2020, avançaram 12,83% em 2021, atingindo 261.442 unidades.

É fundamental relembrarmos que o crescimento do número de vendas em 2020 não veio acompanhado do aumento no volume de lançamentos, que, ao contrário, recuou 4,24% no período. Este contexto de aumento de demanda e diminuição de oferta proporcionou um incremento no volume de lançamentos em 2021 na ordem de 25,88% (265.678 unidades), impulsionando os números do segmento no PIB nacional.

Não por acaso, estes dados positivos foram refletidos diretamente no mercado de trabalho. Segundo o Novo Caged do Ministério do Trabalho, o setor gerou no ano passado 244.755 novas vagas com carteira assinada, melhor resultado desde 2010, e aumentou o número de trabalhadores formais em 11,62%.

Todos estes dados confirmam a força e o dinamismo da construção civil para a economia do país, inclusive no seu aspecto social, como bem aponta Ieda Vasconcelos, economista da CBIC: “mais uma vez a construção civil ajudou a impulsionar a economia nacional”.

SUSTENTABILIDADE

Quanto à segunda questão, ou seja, a sustentabilidade deste crescimento, é fundamental destacarmos que os números positivos da construção civil em 2021 ajudaram a recuperar as perdas de anos recentes, mas o saldo ainda é amplamente desfavorável.

De 2014 a 2021 o segmento da construção contabiliza queda de 26% em seu PIB, ou seja, este crescimento trouxe as atividades ao patamar de 2016. Este fato, por si só, não garante as condições de crescimento do setor para os próximos anos, mas mostra o amplo espaço que há para recuperação e avanço.

Coluna Juarez Soares - Por que a construção civil cresceu 9,7% em 2021?
Financiamentos imobiliários com recursos da caderneta de poupança atingiram uma alta de 65,7% em 2021. Crédito: Freepik

Para que isso aconteça, entretanto, algumas ameaças precisam ser superadas. Destacamos, em especial, o contexto de aumento generalizado dos preços, com reflexo no custo da construção refletido no Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, que chegou a 13,85% em 2021, após subir 8,81% em 2020.

Este aumento impacta diretamente nas vendas não apenas em função do acréscimo no valor das prestações dos imóveis durante a obra, mas porque o cenário inflacionário nacional (e global) pressiona as taxas de juros para cima, desencadeando um processo de redução das atividades econômicas de forma geral, bem como comprimindo a renda da população, dificultando, duplamente, o acesso ao crédito.

Há que se considerar, ainda, os desdobramentos com resultados imprevistos advindos do período eleitoral e, mais recentemente, dos impactos globais da guerra Rússia X Ucrânia.

Ainda assim, as primeiras estimativas da CBIC apontam para uma expansão do setor na ordem de 2% para este ano. Baixa, se comparada com 2021, mas esta expectativa corrobora que há uma relação quase simbiótica entre o crescimento do Brasil e o da construção civil. Conforme o gráfico acima nos mostra, quando o Brasil cresce, a construção civil cresce com ainda mais vigor. Porém, o mesmo acontece, infelizmente, quando a situação é inversa.

Um fato relevante que precisa ser considerado neste cenário, entretanto, é que, como observamos, o saldo entre o que foi lançado e o que foi vendido em 2020 e 2021 mostra uma oferta de estoques relativamente baixa. Isso é crucial para a saúde e equilíbrio do mercado em situações de incertezas, uma vez que possibilita manobras mais ágeis das construtoras para mitigar riscos e aproveitar oportunidades.

Aguardemos, com expectativa positiva, as cenas dos próximos capítulos.

Uma ótima semana e – por que não? – um feliz ano novo, pós-Carnaval, às queridas leitoras e caros leitores.

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