A coluna trará uma análise do mercado imobiliário, com tendências do segmento, panorama, dicas e orientações. Tem como público-alvo principal o cliente que compra o imóvel, seja para morar ou investir, quem mora de aluguel, quem aluga, quem deseja vender o próprio imóvel, trocar. Ou seja, munir esses leitores de informação para ajudá-los a tomar decisões e fazer bons negócios

"Últimas unidades com preços especiais apenas nesse final de semana"

É dessa forma que o mercado imobiliário vende imóveis, insistindo na escassez. Enquanto isso, a sociedade clama por abundância

Vitória
Publicado em 18/08/2021 às 01h59
O principal valor não está no imóvel que se é ofertado, e sim, na geração de confiança construída a partir de um desejo genuíno em entender as reais necessidades do cliente e entregar o que é melhor para ele.
O principal valor não está no imóvel que se é ofertado, e sim, na geração de confiança construída a partir de um desejo genuíno em entender as reais necessidades do cliente e entregar o que é melhor para ele. Crédito: Tumisu/Pixabay

Estamos presenciando um mundo em constante aceleração das transformações provocadas pela evolução tecnológica. Estamos saindo do paradigma industrial onde funcionávamos de forma linear, segmentada, repetitiva e previsível e a performance se baseava no comando e controle; no pensamento industrial, linear (linha de montagem) que imperava a lógica da escassez (preciso ter os melhores e não dou acesso a eles, somente se pagar) para o paradigma digital, onde o funcionamento não é linear, é conectado, multidisciplinar, exponencialmente imprevisível. O pensamento é digital imperando a colaboração exponencial e disrupção.

Estamos migrando para a lógica da abundância (disponibilizo o que tenho e uso o que os outros disponibilizam), um exemplo de sucesso é o Wikipédia e o que estamos vendo com o “Open Banking”.

E a aceleração exponencial também tornou o mundo mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA – Volatility, Uncertainty, Complexity, Ambiguity).

Não é de hoje que a evolução da tecnologia aparece como grande responsável pelas transformações nas organizações com impactos profundos no modo de produzir e consumir das sociedades. Nossa forma de pensar, agir, de se relacionar e de consumir mudou muito nestes últimos anos. Todas essas mudanças foram impulsionadas pela transformação digital e aceleradas nesta pandemia.

Neste mundo mais ágil, caminhamos para a obsolescência instantânea de tudo. Nada mais é como era antes, e essa mudança está se tornando cada vez mais veloz.

Diante desse cenário, desaprender se torna condição quase que essencial para a sobrevivência. Sim, precisamos cada vez mais aprender a desaprender para reaprender novas coisas. No mundo imprevisível, não são as respostas que precisamos, mas sim de perguntas, pois como tudo muda o tempo todo, não temos garantia, e tentar errar e aprender é o caminho para nós, como vivemos, como trabalhamos e também como produzimos e consumimos.

E, mais uma vez, com advento da abundância vemos a centralidade do produto migrar para o consumidor e mais atual ainda para as pessoas. A célebre frase de H. Ford que o cliente poderia ter qualquer cor de carro, desde que seja preta, não opera mais no mundo moderno. Já estamos na era “People Centricity”, ou seja, centralidade nas pessoas, no ser humano e, sim, não errei, não é mais a centralidade no cliente, conhecida como “Customer Centric”. Isso já mudou.

O mundo está mais dinâmico, mais conectado, mais globalizado. As mudanças ocorrem de toda parte, em rede descentralizada.

Como pessoas e consumidores que estamos “ditando as regras”, estamos cada vez mais em busca de praticidade, comodidade e diferenciação nos serviços (atendimento). Não estamos dispostos a pagar mais e receber menos. Mudamos a forma como usufruímos das coisas, dos espaços. Queremos agilidade, não queremos mais esperar, afinal, tudo está em nossas mãos por um clique.

Queremos isso tudo, mas queremos com sustentabilidade, envolvimento. Um olhar voltado para a ecologia e integração dos ecossistemas. Já entendemos que não é possível sermos felizes sozinhos, mas todo o entorno precisa estar bem. Dessa forma, nós, enquanto consumidores, estamos cada vez mais nos conectando com marcas, empresas e causas que fazem sentido para nossas vidas.

Não queremos apenas o produto, queremos o pertencimento, o propósito, a sustentabilidade planetária. É colocar a centralidade de tudo o que fazemos em razão de quem e para quem.

E sustentabilidade é em todos os sentidos, incluindo na precificação e na forma de se entregar o serviço que foi "comprado". O consumidor não está mais disposto a pagar um preço alto para um serviço que não percebe valor. Não queremos mais sermos pressionados com gatilhos de escassez, tentativas desnecessárias de “empurrar” uma venda goela abaixo, produzindo insatisfação, investimentos mal planejados, que só reduzem o valor e relevância de nossa profissão e reafirmam a certeza de que a entrega realizada pelo profissional foi infinitamente inferior ao valor percebido após a negociação.

As empresas do mercado imobiliário precisam compreender que o atual momento é de abundância, colaboração, parceria, que precisa ser sustentável para todas as partes envolvidas, e que o principal valor não está no imóvel que se é ofertado, e sim na geração de confiança construída a partir de um desejo genuíno em entender as reais necessidades do cliente e entregar o que é melhor para ele.

No entanto, ainda há luz no fim do túnel. Venho assessorando e incentivando algumas empresas ao longo desses anos, que estão conseguindo inovar e fazer a diferença no mercado imobiliário, para o negócio, para o cliente, para os parceiros, para seus colaboradores e para a comunidade.

Posso citar dois casos que acompanho de perto que estão entregando muito mais e tornando a vida dos clientes mais fácil, melhor e com mais valor. Uma construtora de Recife (PE), por exemplo, vem entregando um novo conceito de moradia, que transcende à unidade habitacional apresentando apartamentos que sejam uma extensão da personalidade do seu morador e não mais vendem metro quadrado, unidade e acabamento.

Da mesma forma, vemos imobiliárias, como uma de Juiz de Fora (MG), trazendo uma abordagem de conectividade social, abrindo o seu “salão de vendas” para uso da sociedade, trabalhando parcerias, apoiando e incentivando o empreendedorismo e diversas ações sociais da cidade.

Sustentabilidade é o momento que estamos vivendo, mas ainda me parece que o mercado imobiliário não acordou para essa nova forma de coexistir nesse ecossistema volátil, incerto, complexo, ambíguo e precisará se movimentar rápido para atender às necessidades de colaboração, existência e moradia das pessoas desse novo mundo. O "timing" está passando...

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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