É psicólogo formado em Brasília, sexólogo e terapeuta de casais. É educador de sexualidade em escolas da rede pública e privada e pai da Stephenie

Um SEXagenário cheio de energia pra viver

Entrei na casa dos 60 e fiquei assustado.  Me peguei pensando em muitas coisas, inclusive em roupas mais adequadas para a minha nova idade. Felizmente acordei desse delírio quando um anjo gritou: “Acorda, Boechat! Você não combina com isso!”

Publicado em 24/10/2020 às 06h00
Atualizado em 24/10/2020 às 06h00
casal maduro viajando, liberdade
Minha vitalidade, meu apetite sexual, meus absurdos e meu trabalho continuam do mesmo jeito, ou até melhor. Crédito: shutterstock

Leitores queridos, hoje vou escrever uma reflexão partindo de mim. Pintores fazem autorretrato, eu faço revelação. Entrei na casa dos 60 anos, minha aposentadoria do INSS saiu. E, de repente, me vi inundado de sentimentos do senso comum, conceitos antigos, e pensei: "Acabou". Assustei.

Lembrei que quando soube da gravidez da minha esposa, algo também sucedeu. Fiquei preocupado com o futuro da minha filha, em fazer uma reserva financeira e, coincidência ou não, uma ruga de expressão surgiu na minha testa.  Estava com 38 anos.

A força da cultura, nossos costumes, crenças, ideologias... Tudo isso é muito poderoso e gera mudança em nosso comportamento. Mudanças que acabamos executando sem tomar consciência. Quando percebemos já fizemos, e como todos fazem, achamos normal. Precisamos parar com a tolice de agradar o outro, de achar o que as pessoas acham. Quem acha somos nós. E se alguém está incomodado... que pena!

Acordei desse delírio, quando me vi pensando em comprar calças de tergal, comum nos "looks" dos idosos que conhecia. Hoje não é tão comum. Me peguei pensando em roupas mais adequadas para a minha nova idade. Um anjo (ex- cliente), ao me ouvir falando isso, gritou: “Acorda, Boechat!  Você não combina com isso!” .

Ufa! Ela tinha - e tem - razão. Acordado sem a capa da ilusão e das construções socio-históricas, fiz uma digressão há 5 anos e vi que não há diferenças significativas. Minha vitalidade, meu apetite sexual, meus absurdos e meu trabalho continuam do mesmo jeito. Estou até melhor. É verdade que apareceu artrose no dedo do pé e das mãos, o que dificulta a ginástica, mas isso não me impede de viver.

No sexo, descobri que, realmente, a genitalidade não é o mais importante, mas que fico muito feliz, me sentindo o super-homem quando tudo acontece e o prazer ainda é de virar os olhos. É muito bom ter alguém para chamar de amor, alguém para quem mandar mensagens pelo WhatsApp, alguém por quem esperar. Como é bom ser desejado, mesmo com a barriga maior, cabelos brancos e os sulcos da vida na pele. E -  acreditem! -  muitos dizem que não pareço ter a idade que tenho. Gentileza ou não, aceito e me vejo com potência para viver. Passei por crises sérias e aprendi com elas que tudo passa, mas fica o que sentimos, o que aprendemos, os gozos que tivemos e o olhar apaixonado da nossa escolha. Que venha todos os anos que estão por vir.

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