
No último domingo (23), durante mais um de seus passeios para provocar aglomerações, quando se aproximava da Catedral de Brasília, o presidente Jair Bolsonaro foi questionado por um repórter sobre os R$ 89 mil que foram depositados, entre 2011 e 2016, pelo ex-assessor Fabrício Queiroz e pela esposa dele, Márcia Aguiar, na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Após alguns dias tentando não parecer tão explosivo, ao ouvir tal questionamento, Bolsonaro deixou voltar à tona sua essência e ameaçou o jornalista dizendo "Eu vou encher a boca desse cara na porrada". Não satisfeito, Bolsonaro reiterou sua ânsia pela violência: "Minha vontade é encher tua boca na porrada".
Como se sabe, esse não foi um episódio isolado, trata-se de mais um dos casos do longo histórico de agressões verbais feitas por Bolsonaro contra jornalistas. Bolsonaro e os demais adeptos do extremismo não aceitam conviver com o jornalismo livre nem reconhecem a legitimidade das vozes discordantes. Aliás, comportamentos parecidos foram protagonizados pelo então presidente Lula, quando disse que “se os coxinhas aparecerem vão levar porrada” e que iria “fazer um protesto na porta da Globo”. O fato de a atividade jornalística séria ser criticada tanto por petistas quanto por bolsonaristas demonstra a imparcialidade da imprensa.
A imprensa exerce um importante papel de informar à sociedade, apresentando à população fatos e acontecimentos que, muitas vezes, os políticos não gostariam que a sociedade tivesse conhecimento. Para fugir da cobertura jornalística e não responder a perguntas polêmicas, como aquelas envolvendo os depósitos de Queiroz nas contas da família Bolsonaro, criam fábricas de notícias falsas para confundir o fato com o fake, até porque, entre os extremistas e fanáticos, a (in)veracidade de uma notícia varia conforme os interesses atendidos: se lhes agradar, a notícia é verdade, do contrário, chamam a notícia de “fake”.
Uma espécie de cegueira deliberada acompanha aqueles que idolatram seus políticos de estimação, tanto do lado da extrema esquerda quanto da direita. Veja-se que os lulistas ainda acreditam na santidade de Lula, não aceitam as imputações feitas pelo Ministério Público nem se convencem com as condenações de primeiro grau confirmadas pelos tribunais colegiados. De igual maneira, a despeito das inúmeras evidências de práticas criminosas envolvendo a família Bolsonaro, os bolsonaristas preferem atacar a imprensa.
Assim como nos governos petistas era preocupante a proximidade e a tomada de decisões alinhadas com países governados por políticos com pouco apreço pela democracia, no atual governo é ainda mais preocupante a naturalização da violência, a predileção de armas em vez de livros, a complacência com atos antidemocráticos que pedem o fechamento do Congresso e do Judiciário, a deslegitimação dos opositores e a perseguição contumaz à imprensa.
Bolsonaro, assim como Lula, não é uma pessoa de reputação ilibada, pelo contrário. Colocaram em dúvida os investimentos feitos em nome da falecida Marisa Letícia, porém, não querem que investigue se a entrada de recursos na conta de Michelle Bolsonaro refere-se a recursos desviados do poder público, em especial num esquema de rachid (rachadinhas), como tudo indica. Quem é realmente contra a corrupção não pode fechar os olhos quando os crimes são cometidos por seus aliados, é preciso o mínimo de coerência.
Afinal, “se quem não deve não teme”, porque Bolsonaro ficou tão enfurecido com os questionamentos sobre os depósitos suspeitos na conta de Michelle Bolsonaro? Se, na campanha, ele dizia “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, porque agora, já eleito, em meio a denúncias graves, Bolsonaro não parece disposto a esclarecer as suspeitas de crimes que pairam sobre ele e todos a seu redor?
A propósito, por que Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz? Será que essa pergunta irrita tanto Jair Bolsonaro porque ele sabe do envolvimento nas ”rachadinhas”?
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