É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

Como preencher o vazio em nossas vidas?

A escolha errada em uma relação amorosa, assumir compromissos maiores do que aqueles que podemos cumprir, e a principal delas, sermos negligentes com nosso inconsciente

Publicado em 29/12/2023 às 11h25
Solidão
De tempos em tempos nos deparamos com um ou outro vazio, com vários ao mesmo tempo. Crédito: Shutterstock

Chegamos a mais um final de ano, e eu quero trazer uma reflexão. Como estamos preenchendo os vazios em nossas vidas?

Parto do pressuposto que sim, nossas vidas possuem muitos vazios. E eles recebem outros nomes: abandono parental, ausência de estímulo, falta de amor-próprio, imaturidade... De tempos em tempos nos deparamos com um ou outro vazio, com vários ao mesmo tempo. Lutamos contra eles. Aplacamos, mas vez ou outra, a espreita, olha lá eles.

A escolha errada em uma relação amorosa, assumir compromissos maiores do que aqueles que podemos cumprir, e a principal delas, sermos negligentes com nosso inconsciente. Quando não prestamos atenção aos sinais de que ele insiste em nos oferecer, tais quais os sonhos, os lapsos, os esquecimentos, as piadinhas recheadas de ironia, são fatais. Caímos em abismo real e repetimos, os mesmos erros. Cavamos mais um pouquinho os mesmos buracos.

As faltas, tão presentes cotidianamente, camufladas, maquiadas, mas, ainda sim, muito presentes. Nesta época do ano, que finda, ansiamos profundamente por conexão, fazer parte de algo maior, quer seja na família, no trabalho, na comunidade, esse é o desejo essencial de todo ser humano, pertencer.

Mas se notarmos bem, são nesses momentos que nos sentimos mais sozinhos, embora rodeados por muita gente. E é assim que o vazio eclode, mas rapidamente tenta ser preenchido por objetos, por experiências fugazes, por relações equivocadas. Escolhas rápidas, mas que não obturam a angústia.

Temos muito que aprender com as crianças, principalmente  com as pequenas. Tudo nelas é intenso e duradouro. Nesse pequeno tempo de vida, os vazios não têm tanta importância. Elas são cheias de amor, de benevolência, de tolerância. Cheias de criatividade, de inventividade. Amam intensamente, vivem intensamente, e como são solidárias. E sábias.

Na semana passada uma criança com quem convivo me disse o seguinte: “Quando estou triste, um abraço deixa meu dia muito melhor!” Ah, como cura um abraço! Mas nós, os adultos quando estamos chateados nos fechamos e não queremos contato. Nos ressentimos, e nos impedimos de sermos cuidado pelo outro, firmes na crença que o ter é muito melhor que o sentir.

A sabedoria infantil mais uma vez confirmando que cutucamos nossos vazios, promovemos os afastamentos, quando na verdade, o que desejamos de todo o nosso coração é sermos preenchido com abraços carinhosos e sinceros. Que delícia é se deitar no colinho de alguém que amamos e nos sentirmos inteiros. Com os pedacinhos colados, é claro. Mas por alguns momentos repousar e ganhar fôlego para novos desafios, pois essa é a vida, lindamente desafiadora.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Família

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.