Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Celia Vaz e Ricardo Silveira renovam o som dos Beatles em "Liverpool Rio"

Instrumentistas brasileiros se unem a outros três músicos para reembalar canções de Lennon e Paul em EP de cinco faixas

Publicado em 15/03/2022 às 14h09

Hoje convido vocês para ouvirmos um EP que é como uma viagem de tempos atrás aos dias atuais. O repertório de "Liverpool Rio" é de cinco regravações, todas de Lennon e McCartney. A escolha das músicas foi de Celia Vaz, arranjadora, compositora, cantora e violonista – formada em arranjo e composição pela Berkelee College of Music.

Álbum de Célia Vaz e Ricardo Silveira,
Álbum de Celia Vaz e Ricardo Silveira, "Liverpool Rio" traz cinco novas versões de músicas dos Beatles. Crédito: Divulgação

Apaixonada pelos Beatles, Celinha tem uma sensibilidade extraordinária. Estive próximo a ela nos vários shows que o MPB4 fez com o Quarteto em Cy (Celia Vaz é diretora musical, arranjadora e violonista das Cys, com quem gravou mais de 15 CDs). Sua competência salta aos olhos e seu violão é uma fonte de sonoridade ímpar.

Numa pretensão típica de quem o fracasso subiu-lhe à cabeça, perguntei: “Por que você decidiu que agora é o momento de exteriorizar sua paixão adolescente?” Celia Vaz respondeu: “Porque só agora tive a possibilidade econômica (instrumentos gravados no Estúdio MiniStereo, do Rodrigo Campello, e vocais gravados em casa, o que viabilizou a produção do EP... dura é a vida do instrumentista brasileiro.

Insisti: “Qual dos Beatles é o seu favorito?". Compreensiva, Celinha respondeu: “Difícil responder, se pensar na época (década de 60) em que tive conhecimento da música deles. Acho que hoje reconheço uma afinidade musical maior com o Paul”.

Grande arranjadora e violonista, Celinha trouxe para perto dela a guitarra de Ricardo Silveira, um dos maiores instrumentistas brasileiros. A eles se juntaram Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria), Armando Marçal (percussão). Todos eles virtuosos, capazes de assinar a capa de um trabalho solo.

Mas vamos às músicas que, como já disse, são todas de Lennon e McCcartney: “We Can Work It Out” e “Day tripper” (lado A e lado B, respectivamente, registradas pelos Beatles num single de 1965; “Can't Buy Me Love” e “And I Love Her”, gravadas pelos rapazes de Liverpool, no LP "A hard day's night", de 1964 e “Ticket to Ride”, gravada pelos Beatles no LP "Help", de 1965.

De início, não consegui sacar de quem é a voz feminina. Ora, é a voz irrepreensível de Celia Vaz – cantando que é uma beleza – um belo timbre! Um vocalise masculino vem à tona, é Fernando Leporace. A guitarra é puro improviso. Tudo flui, tudo atrai. Tudo é amor aos Beatles.

“We Can Work It Out” abre a tampa com o violão cuidando da harmonia e a guitarra improvisando. Enquanto o violão apura a levada, o improviso é puro jazz. Ouve-se um tamborim delicado, suingado – é a precisão de uma percussão. Todos, e mais o baixo, dão ao arranjo um toque jazzístico brasileiro.

A paixão de Celia Vaz pelos moços ingleses, a leva a reverenciá-los com “Can't Buy Me Love”. Show de bola! Show que tem a guitarra e a voz arrasando.

Celinha realiza seu sonho e nós pensamos com ele: melhor do que arrastar a própria sombra pelo chão, é trazê-la para seu mundo. Assim entendi a música de Celia Vaz. Assim ouvi um novo som dos Beatles. Eles bem merecem ter a sua música renovada por instrumentistas brasileiros.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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