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Vices escolhidos para conquistar novos eleitores

Vices escolhidos para conquistar novos eleitores

Estratégia dos postulantes ao governo do Estado é tentar aumentar representatividade das chapas

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 01:50

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O vice-governador pode comandar o Palácio Anchieta por motivo de viagem ou férias do chefe do Executivo. Gestão pode ser definitiva em caso de morte ou impeachment. (Fernando Madeira)

A escolha dos candidatos a vice-governador, que se deu no apagar das luzes do período das convenções partidárias, até a noite da última segunda-feira, traduziu-se na opção por nomes poucos conhecidos, não testados nas urnas, e sem experiência administrativa.

A própria imprevisibilidade do processo pré-eleitoral devido à grande fragmentação partidária, e o surgimento de duas candidaturas inesperadas, na reta final, fez com que os candidatos precisassem recorrer a soluções caseiras, de dentro do próprio partido.

A estratégia utilizada pelas chapas foi a de indicar nomes que pudessem provocar a identificação com cada projeto, seja pelas características pessoais ou profissionais do perfil daquele vice.

Entre os escolhidos, destaca-se a forte presença de mulheres, que são três, das seis candidatas a vice, mostrando como os políticos estão de olho no eleitorado feminino, a maioria no Brasil.

Renato Casagrande (PSB) optou pela ex-vereadora Jacqueline Moraes (PSB), André Moreira (PSOL) virá com Adriana Gonçalves (PSOL) e Aridelmo Teixeira (PTB) com Jéssica Polese (PTB).

Além delas, há ainda duas postulantes ao cargo de governadora: Rose de Freitas (Podemos) e Jackeline Rocha (PT). No sentido inverso, elas escolheram homens para sua composição. A atual senadora, com o médico Thanguy Friço (Podemos), e a petista com o advogado Cleber Lanes (PT).

A única chapa composta por dois homens será a de Carlos Manato (PSL), com o empresário Rogério Zamperlini (PSL).

Mesmo sendo tratado pelos partidos com uma importância muitas vezes secundária, o cargo de vice tem um papel significativo na gestão, já que ele inevitavelmente irá substituir o titular em algum momento dos quatro anos de governo. Seja por motivo de viagem, de férias ou de alguma enfermidade do titular, ou até mesmo em definitivo, como ocorre no caso do impeachment, ou de morte, por exemplo.

Os candidatos e partidos minimizam o fato de que seus vices serão estreantes no Executivo.

"Essa é uma escolha muito pessoal, tem que ser alguém de confiança, com afinidade. Como o PSB trabalha com políticas afirmativas, entendíamos ser importante ter uma mulher. Ela já atuou na Mesa Diretora da Câmara de Cariacica, isso também a credencia. E ninguém governa sozinho, há sempre uma equipe de suporte. Experiência se adquire", defende Tyago Hoffmann, coordenador da campanha de Casagrande.

SETOR

A aposta em um nome da área médica para demonstrar prioridade com a saúde foi a opção tanto da chapa de Rose, como a de Aridelmo, segundo eles.

Rose contou que conheceu seu companheiro de chapa após assistir uma palestra dele, este ano. "O que o credencia mais é a disposição de tentar ser diferente. Não será um vice figurativo. Conhece os problemas da saúde", afirmou, sobre Thanguy.

"Ela é uma pessoa jovem, não politica, profissional bem-sucedida, foram os valores que procuramos. Minha especialidade é a gestão, e a dela é a saúde, que é uma das maiores demandas da sociedade", declarou Aridelmo, sobre sua vice, a médica Jéssica Polese.

Último cargo escolhido pelas siglas

Mesmo sendo uma função importante tanto para que a chapa majoritária ao governo seja bem-sucedida, como também para a condução do governo em si, a escolha dos vices ficou, mais uma vez, para o limite do prazo, no fechamento das lacunas nas coligações.

Assim como nos últimos pleitos, o número dois na hierarquia do governo estadual não teve protagonismo na formulação das diretrizes dos programas, tampouco na formação das chapas.

O vice da senadora Rose de Freitas, o médico ortopedista Thanguy Friço, foi definido após das 22 horas de segunda-feira, nos últimos minutos para o registro da ata da coligação junto à Justiça Eleitoral. A vice de Casagrande foi anunciada poucas horas antes, na sede do PSB, surpreendendo até a própria candidata.

O PSOL, único partido que fechou a vice na convenção, bateu o martelo no último sábado, assim como o PSL.

ANÁLISE

Paulo Edgar Resende, cientista político e professor da UVV

O vice tem um papel de dar uma estrutura para a chapa, mas que é mais significativo na formação de alianças e da coligação, do que do tipo de governo que será adotado. Isso porque, normalmente, não toma decisões sobre políticas públicas. Temos visto essa escolha como parte da estratégia eleitoral, optando por quem vá ajudar na composição da imagem do candidato principal. Por isso a opção por uma mulher, ou jovem. De uma maneira geral, não agregou muito. Da forma como as chapas foram definidas, não há um vice que leve a um lugar onde o candidato não chega, ou que crie uma conversa com quem os candidatos já não conversavam.

CONHEÇA OS VICES QUE ESTARÃO NA DISPUTA

JACQUELINE MORAES (PSB)

Casagrande ao lado de Jaqueline Moraes, sua vice na disputa ao Palácio Anchieta

VICE DE QUEM: Renato Casagrande (PSB)

PROFISSÃO: microempreendedora

IDADE: 42 anos

Entre os seis candidatos a vice, Jacqueline Moraes é a única que não é estreante nas urnas. Ela já foi vereadora de Cariacica de 2013 a 2016, e foi vice-presidente da Mesa Diretora na gestão de César Lucas (PV) da Câmara. Na época, se elegeu pelo PSD.

Esposa do ex-vereador de Cariacica, Adilson Avelina (Podemos), iniciou na militância comunitária, quando foi presidente da Associação dos Moradores do bairro Operário, onde reside até hoje. Hoje, é estudante de Direito do 7º período. No PSB, Jacqueline é dirigente da Secretaria de Mulheres do partido.

Para vice de Casagrande, estavam cotados principalmente nomes do PPS, como o do vereador de Vitória, Vinícius Simões, a ex-secretária de Luciano Rezende, Lenise Loureiro, e o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas.

A escolha pelo nome de Jacqueline se deu entre os dirigentes do PSB, na noite do último domingo, mas foi anunciada, inclusive para ela, somente na noite de segunda-feira.

THANGUY FRIÇO (PODEMOS)

O médico Thanguy Friço é o vice escolhido pela senadora Rose de Freitas.

VICE DE QUEM: Rose de Freitas (Podemos)

PROFISSÃO: médico ortopedista

IDADE: 43 anos

O último dos candidatos a vice a se tornar conhecido, na segunda-feira, o médico Thanguy Friço filiou-se ao Podemos no início deste ano, a convite do presidente do partido, Gilson Daniel.

Ele afirma não ter planejado disputar as eleições deste ano, mas após ter recebido o convite para integrar a chapa de Rose de Freitas, decidiu aceitar o desafio.

"Tenho mais de 20 anos de experiência na área médica, conheço muito bem o SUS. Sempre tive admiração por Rose e me sinto preparado para ajudá-la neste trabalho em equipe", declarou Thanguy.

Especialista em cirurgia da coluna, ele foi presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia do Espírito Santo e nunca ocupou cargos públicos.

Esta característica não foi um empecilho para Rose. “Ele vem para agregar, para nos ajudar a qualificar hospitais, unidades de saúde e o atendimento à população, não será um vice que só vai despachar. O que o credencia mais é a disposição de tentar ser diferente."

JÉSSICA POLESE (PTB)

Jéssica Polese, médica, vice na chapa de Aridelmo Teixeira

VICE DE QUEM: Aridelmo Teixeira (PTB)

PROFISSÃO: médica pneumologista

IDADE: 44 anos

A médica Jéssica Polese é pós-graduada em Clínica Médica, Pneumologia e Medicina do Sono, e mestre pela Unifesp, em São Paulo. Trabalhou na rede pública até 2014.

Jéssica nunca disputou eleição, mas começou a se envolver mais ativamente na política por meio do movimento "Vem Pra Rua", que organizou os protestos para reinvindicar o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a partir de 2014. Em 2016, a médica tentou se candidatar a vereadora de Vitória pelo PV, mas não chegou a disputar por não ter domicílio eleitoral na cidade há pelo menos um ano antes do pleito.

Para o candidato a governador, Aridelmo Teixeira (PTB), Jéssica vem para representar um nome jovem, de uma não-política, bem-sucedido e da área da saúde.

"O partido gostaria que ela disputasse como deputada, mas considerou que ela tinha todas as características para a vice, tem todos os valores que procuramos. Um governo precisa de um bom grupo", defende.

CLEBER LANES (PT)

Cleber Lanes foi o vice escolhido para disputar o governo do Estado ao lado de Jackeline Rocha

VICE DE QUEM: Jackeline Rocha (PT)

PROFISSÃO: advogado

IDADE: 55 anos

Após a escolha até então inesperada do PT de lançar uma candidatura própria, da estudante de Administração e microempresária Jackeline Rocha (PT), no último domingo, o partido definiu o advogado Cleber Lanes, que foi presidente do diretório do partido na Serra, como o vice da chapa puro-sangue.

Lanes foi secretário de Cidadania e Direitos Humanos na Prefeitura de Vitória, entre 2005 e 2009, durante a gestão do prefeito João Coser (PT). Ele também assumiu a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo da Serra, nos mandatos de Sérgio Vidigal (PDT), entre 2009 e 2012; e do atual prefeito da cidade, Audifax Barcelos (Rede). No partido, Cleber faz parte da ala Alternativa Socialista.

Filiado desde 1986, Lanes afirmou que o momento eleitoral é de desafio. "O PT no Estado vive um ambiente de isolamento partidário, mas tem o desafio agora de aprofundar seu programa de governo. Estamos focados em recompor o campo da esquerda e avançar com as políticas públicas colocadas durante os governos Dilma e Lula", disse.

ADRIANA GONÇALVES (PSOL)

Adriana Gonçalves é servidora da área da saúde. (Facebook/Adriana Gonçalves)

VICE DE QUEM: André Moreira (PSOL)

PROFISSÃO: servidora pública

IDADE: 46 anos

A definição pelo nome da servidora pública Adriana Gonçalves como vice do candidato André Moreira ao governo do Estado foi tomada coletivamente, por todos os filiados do PSOL, durante a convenção do partido, no último sábado.

De acordo com Moreira, o partido fazia questão de ter uma mulher, e negra, para dar representatividade às minorias, o que é uma de suas bandeiras.

"Ela é uma militante, do movimento negro, moradora de comunidade, trabalhadora, é uma representação do interior, vinda de Colatina. Tem um perfil adequado às nossas pautas, mostra por quem lutamos. Ela poderia estar inclusive na minha condição, seria uma candidata perfeita para a cabeça de chapa. Foi um presente ela aceitar vir como vice", afirmou.

Adriana atua na área da educação, como professora do nível fundamental II e Ensino Médio, e é coordenadora do Grupo Beneficente" Mãos que se Cruzam", grupo de pacientes oncológicos que presta serviços à pacientes em tratamento no Hospital São José em Colatina. A falta de experiência em cargos eletivos não pesou na escolha pelos correligionários. "Temos programa, é isso que importa. Vamos colocar a gestão a serviço das pessoas", disse Moreira.

ROGÉRIO ZAMPERLINI (PSL)

Rogério Zamperlini é empresário do ramo de autopeças. (Mônica Zorzanelli )

VICE DE QUEM: Carlos Manato (PSL)

PROFISSÃO: empresário

IDADE: 62 anos

Até o último sábado, o candidato pelo PSL seria o tenente-coronel Carlos Alberto Foresti. No entanto, após uma mudança na estratégia do partido, o deputado federal Carlos Manato foi definido para se tornar o novo cabeça de chapa.

Logo em seguida, o próprio Manato decidiu fazer o convite ao seu candidato a vice, o empresário do setor de autopeças, Rogério Zamperlini, também do PSL.

"Na reunião, disse que a escolha do vice era uma prerrogativa minha. Rogério é meu amigo há mais de 25 anos, é um empresário que não se vende para o governo, e eu precisava de alguém da minha confiança. Que não seja político, que não vá querer tomar o meu lugar. Convidei e ele aceitou. A ligação durou 20 segundos", conta Manato.

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O deputado alega que também espera poder contar com a experiência do empresário para fazer a interlocução com o setor produtivo e econômico. "Ele pode não ter experiência na administração pública, mas é um empresário de sucesso. Tem caráter, não precisa da política para viver", defende.

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