Publicado em 8 de agosto de 2025 às 10:06
SÃO PAULO - O governo brasileiro acredita que haverá uma escalada nas tarifas e sanções dos Estados Unidos contra o Brasil se houver condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal), decisão considerada a mais provável.>
O STF deve iniciar o julgamento da trama golpista em setembro. As tarifas de 50% sobre aproximadamente metade das exportações brasileiras para os EUA entraram em vigor quarta-feira (6). Além disso, foram impostas sanções decorrentes da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.>
O Planalto também considera possível que o presidente americano, Donald Trump, imponha tarifas adicionais sobre o Brasil em retaliação à importação de produtos da Rússia (sanções secundárias), como o diesel — a exemplo do que foi feito com a Índia, que foi taxada em decorrência de suas importações de petróleo russo.>
Nesse caso, no entanto, integrantes do governo afirmam que ainda há espaço — houve adiamento de 20 dias das taxas à Índia e Trump vai se reunir com o líder russo Vladimir Putin, o que pode mudar, mais uma vez, a política americana em relação ao Kremlin por causa da guerra na Ucrânia.>
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De qualquer maneira, segundo uma pessoa do governo brasileiro, está fora de cogitação um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Trump. Na interpretação do governo, a ligação seria uma armadilha, porque Trump exigiria o perdão a Bolsonaro e Lula não poderia aceitar. Dessa maneira, a ligação poderia sair pela culatra -Trump teria uma desculpa para aumentar, ainda mais, as tarifas sobre o Brasil.>
Além disso, o governo considera que o Brasil obteve uma vitória no campo político ao resistir a Trump, com figuras influentes como os economistas Paul Krugman e Joseph Stiglitz e o cientista político Steve Levitsky destacando a dignidade da reação brasileira às chantagens de Trump.>
Na visão do governo brasileiro, tentar agradar a Trump também não resolveria a situação — é citado o comportamento do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que teve reunião amigável na Casa Branca, bom relacionamento com o americano, e ainda assim seu país foi alvo de tarifas pesadas.>
A avaliação é a de que é muito difícil um recuo do governo Trump, com remoção de tarifas sobre café, carnes e frutas. Isso só ocorreria em duas circunstâncias. Uma possibilidade seria o presidente americano afirmar que recebeu uma ligação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e, graças a ele, iria remover as tarifas — isso ajudaria o trumpismo e o bolsonarismo.>
Outra possibilidade seria uma redução geral de tarifas sobre certos produtos que os EUA não produzem, como já ocorreu. Nesse caso, a redução da tarifa seria para todos os países que exportam determinados produtos, e não apenas para o Brasil.>
O governo brasileiro admite que não tem havido muitos avanços nas negociações com o governo dos EUA, a partir de contatos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, e do chanceler Mauro Vieira com seus contrapartes americanos. Na visão do Planalto, a negociação está congelada por causa da não abertura do governo americano para discutir outros temas que não sejam Bolsonaro.>
O Planalto descarta a possibilidade de uma reação coordenada do BRICs às tarifas de Trump — alguns países do bloco se opõem a um enfrentamento com Trump.>
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