Publicado em 26 de julho de 2021 às 19:06
Os níveis de anticorpos contra o coronavírus após a vacinação completa com imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer começam a cair três semanas após a segunda dose e a redução se mantém até a décima semana, mas em graus diferentes de acordo com sexo, idade e condições clínicas, indica o Virus Watch, mais abrangente estudo de coorte sobre Covid-19 do Reino Unido. >
Conduzido por pesquisadores de dez departamentos da Universidade College London (UCL) e por clínicos dos hospitais Royal Free, o trabalho acompanha no longo prazo mais de 40 mil participantes na Inglaterra e no País de Gales. >
Segundo os autores, embora a redução dos anticorpos já tenha sido detectada em outras pesquisas, elucidar lacunas sobre o tempo de proteção da vacina em diferentes grupos da população é importante para discutir a necessidade de doses de reforço contra Covid-19, já cogitada por países europeus. >
A preocupação cresceu com a disseminação da variante delta, mais transmissível que o coronavírus original e já dominante na Europa. >
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No Reino Unido, o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização recomendou que um programa de reforço seja iniciado a partir de setembro, para evitar novo surto no inverno. >
No artigo publicado nesta semana na revista Lancet, os autores da UCL levantam um problema ético -iniciar uma rodada ampla de aplicação de doses de reforço em países ricos enquanto os mais pobres ainda patinam para proteger suas populações. >
O estudo da UCL mostra, por exemplo, que a queda no número de anticorpos varia de acordo com as características das pessoas imunizadas, sendo mais preocupante entre os clinicamente vulneráveis que incluem pacientes transplantados, com doenças respiratórias e em terapia contra o câncer, entre outros. >
"Dados sobre disparidades nos níveis de pico de anticorpos e taxas de declínio podem, portanto, informar a implantação de reforço direcionada e equitativa", escrevem. >
É a persistência da proteção oferecida que precisa ser levada em conta para decidir sobre o reforço vacinal, segundo especialistas britânicos, e não os dados de eficácia dos imunizantes, como argumentou na última sexta (23) o secretário da Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, ao descartar a aplicação de doses de reforço para qualquer faixa etária. >
O estudo sobre os níveis de anticorpos no longo prazo são só parte da resposta, porém, afirmam os pesquisadores do Virus Watch. Falta estabelecer os limiares mínimos de anticorpos para proteger o organismo humano contra a doença e saber se as barreiras oferecidas por outro mecanismo de defesa -as células T- são suficientes para compensar a redução observada no estudo. >
"Evidências sugerem que os anticorpos são particularmente importantes para bloquear a infecção e prevenir a transmissão do vírus, enquanto as células T podem ser particularmente relevantes para prevenir doenças graves e morte", afirma Eleanor Riley, professora de imunologia e doenças infecciosas da Universidade de Edimburgo. >
Manter concentrações de anticorpos suficientes para reduzir a transmissão, portanto, é importante para limitar a quantidade de vírus circulante, embora a queda desses níveis possa não ser preocupante em relação à proteção contra doença grave. >
De acordo com Riley, que não participa do Virus Watch, outra informação relevante para decidir sobre a necessidade de reforço é a rapidez com que as concentrações de anticorpos podem aumentar novamente se a pessoa for infectada (a chamada resposta de memória). >
A professora considera que ainda não há evidências suficientes para bancar cientificamente a terceira dose da vacina, ou seja, para decidir se o custo de fazer o reforço compensa o risco de não fazê-lo. >
Para estimar quando os níveis de anticorpos começam a cair após a vacinação completa, os pesquisadores fizeram testes sorológicos de 605 adultos, cujas amostras foram recolhidas em junho deste ano. >
Dois tipos diferentes de testes sorológicos foram realizados. O primeiro, identificado como S, detecta o total de anticorpos para uma subunidade (S1) da proteína S (de "spike", ou espícula), usada pelo Sars-Cov-2 para entrar na célula humana. >
O segundo, ensaio N, tem como alvo os anticorpos totais para uma proteína (do nucleocapsídeo de comprimento total), que indica se houve infecção anterior pelo coronavírus. >
As medições indicaram que voluntários que haviam contraído Covid-19 tinham nível de anticorpos equivalente a sete vezes o dos que não se infectaram. >
Cerca de metade (53%) dos participantes era mulher, e cerca de um quinto (19%) do total era clinicamente "extremamente vulnerável" à Covid-19. Outros 31% foram classificados como vulneráveis. >
As amostras de soro foram coletadas de 14 a 154 dias após a segunda dose de imunizante -67% delas eram de vacinados com o produto da AstraZeneca, e 33%, com o da Pfizer. >
Os pesquisadores examinaram os níveis de anticorpos em cinco intervalos diferentes: de 14 a 20 dias, de 21 a 41, de 42 a 55, de 56 a 29 e a partir de 70 dias após a imunização completa (no caso desses dois fármacos, após a segunda dose). >
O estudo mostrou que, 70 dias após a vacinação, imunizados com a AstraZeneca tinham um quinto dos anticorpos apresentados entre 21 e 40 dias. No caso da Pfizer, o nível baixou para a metade. A queda ocorreu em todos os grupos populacionais avaliados. >
Eleanor Riley, da Universidade de Edimburgo, diz que a redução maior no caso da AstraZeneca pode ter como causa o fato de que vacinas de vetor viral tendem a induzir resposta de anticorpos mais baixa, mas respostas de células T mais fortes, enquanto as vacinas de mRNA, como a da Pfizer, são projetadas para induzir altas concentrações de anticorpos. >
Em ambos os tipos de vacina, as mulheres tinham níveis de anticorpos S mais elevados do que os homens 21-42 dias após a vacinação completa e também apresentavam níveis mais altos a partir de 70 dias após a segunda dose. >
Participantes com idade entre 18 e 64 anos também apresentaram níveis mais altos de anticorpos nos dois intervalos, na comparação com os de 65 anos ou mais. >
A pesquisa revelou disparidade nos níveis de anticorpos em voluntários com vulnerabilidade clínica, que pode se explicar pelo fato de que esse grupo é bastante heterogêneo. >
Mas eles consideram "motivo de preocupação" níveis muito mais baixos de anticorpos 70 dias após a segunda dose, em pessoas clinicamente vulneráveis que tomaram o fármaco da AstraZeneca. >
Os autores do Virus Watch ressalvam ainda em seu artigo que a tendência de redução observada foi constante mesmo quando consideradas variáveis que afetam a resposta imune, mas eles pretendem repetir a análise com um número maior de participantes e num período mais longo, de até 12 meses. >
O objetivo é reduzir uma eventual confusão residual provocada pela idade e pelo intervalo de dosagem ---o número de amostras não foi considerado suficiente para avaliar essas variáveis. >
Outra questão levantada por especialistas em saúde britânicos nesta semana é que uma campanha de reforço em setembro atrase ainda mais a vacinação dos mais jovens, de 18 a 25 anos. Até este domingo (25), eram mais de 40% os que não haviam tomado nenhuma dose de imunizante nessa faixa etária. >
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