Publicado em 17 de junho de 2021 às 15:31
Integrantes da cúpula do PT avaliam que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve reduzir sua rejeição e recuperar parte de sua popularidade até o início do ano eleitoral. >
Para aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a disputa nas urnas em 2022 deve ser mais acirrada do que mostram as pesquisas eleitorais e os levantamentos internos feitos pelo partido. >
Estão no radar dos petistas variações na popularidade de Bolsonaro como consequência de dois indicadores principais: o crescimento da economia após os resultados negativos do ano passado e o aumento esperado da vacinação contra a Covid-19 até o fim deste ano. >
Em discussões internas com a participação de Lula, os integrantes do partido defendem que a campanha seja encarada de uma "perspectiva realista", nas palavras de um dirigente da sigla. >
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Embora admitam que a economia possa dar algum fôlego a Bolsonaro para o ano eleitoral, eles dizem que esses efeitos tendem a ser limitados. >
"Bolsonaro não está tão fraco assim. Ele tem uma resiliência na base e ainda pode agregar mais um pouco. Se a economia melhora, a tendência é ele melhorar também. Mas não acho que seja suficiente", afirma a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. >
O principal argumento da cúpula petista é que os indicadores do PIB (Produto Interno Bruto) mostraram, até agora, uma recuperação que não chegou às camadas mais pobres da população. >
Um dos principais focos da campanha de Lula será um discurso para se contrapor a Bolsonaro nesse grupo numeroso do eleitorado. >
A análise desse cenário político pelos petistas contrasta com o otimismo do partido diante das pesquisas que mostraram vantagem de Lula na corrida de 2022. >
Levantamento do Datafolha em maio mostrou o petista com 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. No segundo turno, o ex-presidente venceria por 55% a 32%. >
A direção do PT ainda considera Lula favorito, mas tem adotado tom mais cauteloso. Certos de que a rejeição a Bolsonaro poderá ser um fator determinante na campanha, os petistas estudam maneiras de prolongar o ciclo atual de fragilidade do presidente. >
Fazem parte dessa estratégia um apoio mais encorpado às manifestações contra o governo e uma campanha continuada de críticas aos erros do combate à pandemia. >
"O povo está muito frustrado. O povo está decepcionado. O coronavírus permitiu que a sociedade ficasse um pouco mais dentro de casa, sem se manifestar, com medo. Mas eu acho que nós precisamos ir para a rua e começar a cobrar que esse país seja governado decentemente", disse Lula em entrevista a uma emissora de TV do Piauí, na quarta-feira (9). >
Segundo aliados do ex-presidente, Lula pretende dar sustentação a novos atos convocados contra o governo, encabeçados por movimentos sociais. Numa mudança de postura, o petista avalia participar das manifestações do próximo sábado (19) ou divulgar um vídeo com uma convocação para o protesto. >
Apesar de enxergar possíveis benefícios políticos nesses atos, os aliados de Lula ainda buscam se diferenciar de Bolsonaro. O presidente participou no sábado (12) de um passeio de motocicletas em São Paulo. O ato reuniu 6.661 veículos, segundo o sistema de pedágio local.>
A cúpula petista pretende observar o humor das ruas nos próximos meses, com o avanço da vacinação contra a Covid-19 -cuja lentidão é um dos principais pontos de desgaste de Bolsonaro, na visão do partido. Mesmo atrasada, a aplicação de novos lotes de imunizantes pode moderar a rejeição ao governo. >
Os petistas contam com os trabalhos da CPI da Covid para expor erros e omissões do governo durante a pandemia. O Senado, no entanto, trabalha para que as investigações sejam encerradas em agosto, o que produz incerteza sobre a duração de seus efeitos até a campanha eleitoral. >
Aliados de Lula também incluem nos cálculos eleitorais o uso da máquina pública por Bolsonaro para reduzir sua rejeição. Com a caneta na mão, o presidente espera lançar medidas na área social e acelerar as viagens pelo país em clima de campanha. >
O PT aguarda, por exemplo, a reformulação do Bolsa Família prometida por Bolsonaro. Ainda que reconheçam que o presidente pode se beneficiar do programa, os petistas consideram difícil desvincular essa marca de Lula. >
No segundo pelotão da corrida eleitoral, o PDT de Ciro Gomes tem uma visão diferente das projeções políticas feitas pelo PT. >
Líderes pedetistas dizem acreditar que Lula está no auge da popularidade e que, nos próximos meses, começará a perder espaço nas pesquisas de intenção de voto. >
Caciques da sigla dizem que o ex-presidente se beneficiou nos últimos meses de seu retorno à cena eleitoral e da decisão do STF que anulou suas condenações na Lava Jato. >
Com base em estudos internos, o PDT reconhece que a fatia da população que pode buscar uma terceira via diminuiu desde o início do ano. Mesmo assim, integrantes da sigla enxergam uma boa chance de Ciro e Lula disputarem um eventual segundo turno em 2022. >
Carlos Lupi, presidente do partido, vê Bolsonaro bastante desgastado no próximo ano, pois, apesar da aceleração da vacinação até lá, as milhares de mortes por Covid-19 serão atribuídas a ele. >
Além disso, a recuperação econômica esperada pelo governo se concentra em setores ligados à exportação de commodities e com baixo emprego de mão de obra. Isso pode fortalecer o apoio do agronegócio a Bolsonaro, mas não reverte a rejeição dele em outros setores -especialmente nos mais pobres que sofrem com a inflação. >
A cúpula do PDT e o marqueteiro João Santana enxergam na manutenção do desgaste de Bolsonaro o principal caminho para que Ciro chegue ao segundo turno. Eles recomendaram que o pré-candidato concentre no presidente seus ataques nos próximos meses. >
O tamanho da popularidade de Bolsonaro deve influenciar a montagem de alianças em todo o tabuleiro eleitoral. >
Adversários dizem acreditar que siglas simpáticas ao governo podem se descolar caso o desgaste do presidente se mantenha. Em caso de recuperação, ele pode consolidar ou até ampliar sua aliança. >
Prevendo uma campanha árdua, petistas buscam uma coalizão com partidos de centro e miram inclusive siglas que integram a base de apoio de Bolsonaro no Congresso, como o PL. >
O partido e outras legendas do centrão se aproximaram do governo após a liberação de cargos e emendas, mas podem se mover para o campo político mais alinhado a seus interesses e a uma perspectiva de permanência no poder. >
No Nordeste, por exemplo, líderes desse bloco já estiveram ao lado de Lula em eleições anteriores e veem dificuldades de chegar a 2022 em um lado oposto ao do ex-presidente. >
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