Publicado em 16 de junho de 2021 às 14:48
O sistema de monitoramento da rodovia dos Bandeirantes registrou 6.661 "passagens" de veículos na manhã do último sábado (12) no primeiro pedágio dentro do trecho bloqueado para a motociata liderada pelo presidente Jair Bolsonaro em São Paulo.>
O total de 6.661 passagens de veículos, assim chamada tecnicamente, foi registrada entre 11h08 e 12h31 do sábado, no pedágio de Campo Limpo, localizado no km 39 da rodovia, logo no início do ato com o presidente, iniciada às 10h no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo. >
Apoiadores do presidente falaram em 1,3 milhão de motos no evento e que tal número havia entrado para o livro dos recordes, informação falsa logo desmentida pelo Guinness World Records. >
Já o governo paulista estimou que o ato contou com a presença de 12 mil motos, isso com a ajuda de recursos de mapa e georreferenciamento, a partir de imagens registradas pelo helicóptero da Polícia Militar. >
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Os dados das praças de pedágio da AutoBAn, concessionária que administra a rodovia, são coletados pelo Sistema de Monitoramento de Informações de Pedágio (MIP) e foram concedidos pela Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo). >
Tais registros são coletados pela Artesp para auditoria dos valores de pedágio mensurados pelas concessionárias. >
A Artesp, no entanto, ressalta que, como as motocicletas não pagam pedágio na rodovia, o sistema não está programado para coletar informações sobre a passagem de motocicletas. Com isso, diz a agência, o valor real de veículos pode ser maior do que o registrado. >
De acordo com Lincoln Seiji Otsuichi, especialista da Artesp em regulação de transporte, o sistema funciona com a detecção da massa metálica que passa por cima dos sensores e, com isso, motos que tenham passado pelo sensor lado a lado ou mesmo com uma distância menor do que 1,5 metro entre si podem ter sido contabilizadas como um único veículo. >
Isso porque, segundo ele, no caso de várias motos passarem com pouca distância de uma para outra, o sensor pode considerar que se trata de um veículo maior com vários eixos, como um caminhão. >
Seiji explica, no entanto, que, apesar de não ser possível determinar a margem de erro dos sensores no caso de motocicletas, é improvável que o valor real seja muito superior ao registrado. >
Questionado, por exemplo, se os valores reais poderiam ser o dobro do registrado, o especialista afirmou que isso seria improvável. >
Ao sair da marginal do Tietê em São Paulo, a motociata embocou na rodovia dos Bandeirantes onde seguiu no sentido norte até a região de Jundiaí, na altura do km 62. >
Já no percurso de retorno, no sentido Sul, a motociata passou pelo pedágio de Caieiras, no km 36 da rodovia, onde foram registradas 6.216 passagens. Os registros contabilizados foram das 12h26 às 13h31. >
A desinformação sobre o suposto recorde começou a circular nas redes através de postagens de apoiadores de Bolsonaro, entre eles da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). >
Na manhã de sábado (12), durante a concentração para o ato, ela publicou um vídeo em seu canal no Youtube em que afirma que o ato seria "a maior motociata da história" e que o Guinness Book "estaria de olho" no evento. >
O dado foi negado pela instituição. "Podemos confirmar que o desfile de motocicletas ocorrido em São Paulo, no dia 12 de junho, não foi uma tentativa oficial de título de recorde mundial do Guinness". >
A organização afirmou, em nota enviada à Folha de S.Paulo, que não certifica recordes de natureza política e esclarece que não permitiu a utilização do nome ou de serviços da marca para o evento. >
"Não aceitamos candidaturas a recordes que consideremos politicamente motivadas, e reservamo-nos o direito de rejeitar ou cancelar uma candidatura, caso a consideremos como promoção de uma agenda política", diz a nota. >
"Como este evento [a motociata] teve uma motivação política, não permitimos qualquer utilização do nosso nome, plataforma, ou serviços". >
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também ajudou a ventilar a notícia falsa, ao compartilhar um post no Twitter que afirmava que uma "pesquisa confiável", realizada pela empresa, havia determinado a participação de 1.324.523 motocicletas durante o evento. >
Mesmo após diferentes veículos terem divulgado posicionamento do Guinness Book desmentindo a informação, até esta quarta-feira (16), a postagem permanece no perfil da deputada, como retuíte, e sem nenhuma outra postagem fazendo algum tipo de ressalva. >
O dado divulgado nas postagens supera também a frota total de motocicletas na cidade de São Paulo, de 1.217.655 unidades em 2020, segundo dados consolidados do Ministério da Infraestrutura.>
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