Publicado em 26 de maio de 2020 às 09:52
Em busca de apoio popular diante das crises política e sanitária, o presidente Jair Bolsonaro aumentou sua exposição ao público, o que obrigou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) a reforçar a proteção pessoal do chefe do Executivo e a elevar a rigidez no cumprimento de protocolos de segurança.>
Além de aumentar o controle no acesso ao Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente, a equipe tem testado a utilização de drones e feito modificações nos procedimentos adotados no Palácio do Planalto, que passou a ser usado como camarote do presidente.>
Apesar dos riscos de contaminação pelo novo coronavírus, Bolsonaro tem feito questão de se aproximar de aglomerações, adotou como novo hábito aparições na rampa do Planalto e tem feito caminhadas na residência oficial, quando se aproxima da área de visitantes.>
A maior exposição tem preocupado os integrantes da estrutura responsável pela segurança presidencial.>
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Além do comportamento intempestivo de Bolsonaro, a equipe do presidente identificou o aumento do clima de animosidade ao governo nas redes sociais e de manifestações pontuais contra a atual gestão na frente tanto do Planalto como do Alvorada.>
Durante a semana, Bolsonaro criou a rotina de, no meio do expediente, ir ao topo da rampa do Planalto para acenar a apoiadores que se concentram na Praça dos Três Poderes. Questionado em uma dessas ocasiões, respondeu que estava só tomando um ar, embora estivesse com cinegrafista e fotógrafo oficiais.>
Nos finais de semana, Bolsonaro aparece no local para estimular a militância que grita palavras de apoio a ele, mas contra o Legislativo, o Supremo Tribunal Federal (STF) e governadores.>
Nesses momentos, a uma altura de quatro metros, Bolsonaro tem se superexposto diante da praça que mede 120 metros por 220 metros. Para protegê-lo no novo cenário, a segurança presidencial tem se dividido em três grupos.>
O primeiro permanece próximo ao presidente, inclusive com uma pasta que, em caso de necessidade, pode ser usada como escudo. O segundo fica um pouco mais afastado, nas imediações. E, por fim, um terceiro costuma se infiltrar entre os manifestantes. Não é raro Bolsonaro descer a rampa e se aproximar da grade para cumprimentar o público.>
Reservadamente, integrantes do GSI não escondem a preocupação com a segurança porque têm a informação de que, entre manifestantes, há pessoas armadas.>
Há pelo menos três acampamentos nas imediações do Planalto. Menor, o Acampamento Patriótico está na Praça dos Três Poderes.>
No estacionamento do Ministério da Justiça está o 300 do Brasil. A líder Sara Winter admitiu, em entrevista à Folha de S.Paulo, que há pessoas armadas, mas disse que as armas servem apenas para proteção do acampamento, que conta com a presença constante de uma viatura da Polícia Militar. Um pouco mais distante, na frente do Ministério da Agricultura, há um terceiro grupo.>
Na quarta (20), a Praça dos Três Poderes recebeu um grupo de manifestantes contrários a Bolsonaro, que pediam a saída do presidente. Apesar do amplo espaço diante do Planalto, o prédio alto mais próximo fica a pouco mais de 100 metros de distância, o que dificulta - mas não impede - a ação de atiradores. >
Diante do clima de ânimos acirrados, desde a semana passada, um drone acompanha a comitiva do presidente. Seu uso ainda está em fase de testes. Segundo relato feito à reportagem, ele repassa, em tempo real, imagens do trajeto para uma equipe de segurança, que pode atuar com rapidez em caso de incidente. >
Até o governo Michel Temer (MDB), a rampa era usada pontualmente, em cerimônias de posse ou na recepção de autoridades estrangeiras. >
A preocupação com a segurança também se estende ao Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro costuma parar no começo da manhã e no fim da tarde para falar com apoiadores e repórteres. >
Desde o primeiro ano do governo, simpatizantes e jornalistas precisam ser fichados pela segurança e passar por detector de metais antes de seguirem para a área da qual o presidente se aproxima. >
Nos últimos dias, as normas ficaram mais rígidas. Carros credenciados também passaram a ser revistados, e a entrada após a passagem do presidente tem sido bloqueada por um período maior. >
Além disso, os agentes do GSI que controlam o acesso têm uma relação com fotos e nomes de apoiadores que estão proibidos de ingressar na área próxima ao presidente. Os motivos para o veto não foram informados pelo GSI. >
Um dos vetados é o haitiano Jean Makeson, que em março disse a Bolsonaro que ele não era mais o presidente do Brasil e que seu governo havia acabado, situação que constrangeu o chefe do Executivo, acostumado a ouvir, até então, só palavras de apoio na porta de casa. >
A reportagem questionou o GSI sobre as alterações na segurança do presidente, sobre a lista de barrados no Alvorada e sobre medidas tomadas diante das ameaças aos jornalistas. >
O gabinete, comandado pelo general Augusto Heleno, informou que não comenta detalhes operacionais envolvendo a segurança do presidente da República. Em nota, afirmou que o sistema passa por constante processo de avaliação e evolução, em busca de maior efetividade. >
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