Publicado em 3 de abril de 2020 às 12:57
Um estudo chinês divulgado em março deste ano mostra que pessoas com covid-19 desenvolveram problemas neurológicos como sintomas da doença.>
A investigação foi realizada entre os dias 16 de janeiro e 19 de fevereiro de 2020 em 214 pacientes com covid-19 -graves ou não- internados em três hospitais de Wuhan (China), onde começou a pandemia. Destes, 78 apresentaram alguma manifestação neurológica.>
Entre os sintomas, os mais comuns foram a tontura, mencionada por 36 pacientes (16,8%), e dor de cabeça, citada por 28 (13,1%).>
Em seguida aparecem confusão mental, AVC ou isquemia cerebral, convulsão, perda da coordenação muscular e sonolência.>
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De acordo com o neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Saulo Nardy Nader, trata-se do primeiro estudo bem feito sobre o acometimento neurológico por coronavírus. Para ele, a conclusão serve de alerta.>
"Pessoas com quadro gripal e que apresentarem pela primeira vez algum tipo de tontura forte e persistente, principalmente vertigem, podem estar infectadas pelo coronavírus", afirma.>
Nader diz que a pesquisa também traz uma queixa que está se tornando comum nos consultórios e até nas redes sociais: a perda de olfato (hiposmia) e paladar (hipogeusia). Cerca de 5% dos que apresentaram sintomas neurológicos mencionaram esse tipo de alteração.>
O coronavírus pode chegar ao sistema nervoso central de duas formas. "A primeira hipótese é pelo sangue e a segunda diretamente pelo nariz, pegando carona com o nervo olfativo. A pessoa teria contato com o vírus pela narina e, através do nervo que leva informação do nariz para o cérebro, conseguiria causar a infecção. A falta de ar, por exemplo, pode ocorrer por agressão neurológica do vírus na região do cérebro responsável por controlar os centros da respiração", explica Nader.>
Os sintomas elencados no estudo feito em Wuhan não são novidades nos consultórios de especialistas brasileiros ouvidos pela Folha. Além dos neurológicos, há outros incomuns.>
João Prats, infectologista da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo) explica que, apesar de não ser comum, o primeiro sinal de infecção por coronavírus pode aparecer sob a forma de problema digestivo.>
Ele cita como exemplo o caso de uma paciente que, após cinco dias com diarreia, teve dificuldade respiratória.>
Quando o coronavírus circula no sangue e inflama os gânglios linfáticos abdominais, também pode ocorrer dor forte semelhante à provocada por apendicite ou cólica renal.>
"Ainda não há estatística dos atendimentos, mas é a minoria. O sintoma que sugere gravidade é o respiratório, a falta de ar. Mesmo que a primeira manifestação for atípica, os médicos devem investigar mais", afirma Prats. >
Após examinar uma pessoa com sintomas de covid-19, o infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Paulo Olzon sentiu-se mal. Primeiro, veio o cansaço excessivo; cerca de quatro dias depois, as tonturas, com mais frequência no período noturno. >
"Para mim, a tontura foi novidade, mas é importante alertar que ela é sintoma de outras doenças, como a própria labirintite, os tumores cerebrais e problemas de pressão arterial, entre outras. Para o diagnóstico, é importante levar em conta o histórico do paciente e a intensidade dos sintomas", explica Olzon, que está em isolamento. Além de tontura, ele também teve alteração do paladar e do olfato. >
Para José Vidal, infectologista do Hospital das Clínicas de SP e do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, a teoria mais provável é que o novo coronavírus infecte os nervos periféricos olfatórios causando as alterações de olfato que já vêm sendo relatadas por alguns pacientes. >
"Essas alterações podem alertar para a presença do coronavírus, visando instaurar as medidas necessárias, em termos individuais e de saúde pública, como o isolamento. É necessário estudar melhor as consequências a longo prazo. A rota da infecção precisa ser melhor elucidada. O vírus também pode causar problemas cardíacos, intestinais e outras manifestações neurológicas graves, como paralisa flácida aguda, síndrome de Guillain-Barré e encefalomielite disseminada aguda, todas já descritas com outros coronavírus humanos", explica Vidal. >
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil tem 241 mortes por coronavírus e 6.836 casos da doença. O estado de São Paulo tem o maior número de confirmações, com 2.981 registros. Até o momento, morreram 164 pessoas. >
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