Publicado em 30 de julho de 2020 às 08:12
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, suspendeu nesta quarta-feira (29) duas investigações contra o senador José Serra (PSDB-SP). >
Em uma delas, em que é acusado de lavagem de dinheiro transnacional, Serra virou réu também nesta quarta, em decisão da 6ª Vara da Justiça Federal de São Paulo.>
O caso é um desdobramento da Lava Jato, que o acusa de usar cargo e influência política para receber da Odebrecht pagamentos indevidos em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul.>
Na outra apuração suspensa pelo presidente do Supremo, e que tramita na Justiça Eleitoral de São Paulo, Serra é investigado sob suspeita de caixa dois nas eleições de 2014.>
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Em relação ao primeiro caso, pelo qual Serra se tornou réu, os procuradores da força-tarefa paulista disseram que ainda estão analisando a decisão de Dias Toffoli e que, por enquanto, entendem que ela não afeta a denúncia recebida pela Justiça.>
Ou seja, para eles, poderia afetar as investigações em andamento associadas à Operação Revoada, deflagrada no último dia 3 de julho e que mirou Serra, mas não a ação penal já protocolada.>
Segundo a assessoria de Serra, a decisão de Toffoli foi proferida às 16h56 desta quarta, e o juiz Diego Paes Moreira aceitou a denúncia depois das 18h.>
Em nota, a defesa do tucano afirma, em relação às duas investigações suspensas por Toffoli, que "era evidente o excesso e ilegalidade das medidas determinadas contra o senador, em clara violação à competência do Supremo Tribunal Federal e em inegável tentativa de criar fantasias relacionadas a seu mandato parlamentar".>
"O recebimento da denúncia pela Justiça Federal, ocorrido após a decisão emanada da Suprema Corte, só confirma, outra vez mais, o desapego à lei e a Constituição Federal por quem haveria de protegê-las", afirma o texto.>
Em 2018, o Supremo decidiu que crimes atribuídos a Serra cometidos até 2010 estavam prescritos. No entanto, ao descrever suas investigações, os procuradores apontam que houve movimentações financeiras suspeitas no exterior ligadas ao tucano até 2014.>
De acordo com a denúncia, as irregularidades começaram nos anos de 2006 e 2007. Serra, diz o Ministério Público Federal, "valeu-se de seu cargo e de sua influência política para receber, da Odebrecht, pagamentos indevidos em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul".>
Nos dois casos suspensos, Toffoli afirmou que há "risco potencial de que sejam apreendidos e acessados documentos e informações relacionadas ao desempenho da atual atividade de senador, com a indevida intromissão da autoridade reclamada".>
As autoridades reclamadas são juízes que atuam na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo e 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, onde as duas apurações tramitam.>
Serra foi alvo de buscas da Polícia Federal nas duas investigações.>
Na mais recente, realizada no dia 21 de julho, a PF foi barrada ao tentar acessar o gabinete parlamentar por decisão também de Toffoli - depois de um pedido apresentado pela Mesa Diretora do Senado, presidida por Davi Alcolumbre (DEM-AP).>
Toffoli considerou ser de "extrema amplitude" a ordem de busca e apreensão decretada pelos juízes. As buscas, frisou ele, abrangiam agendas manuscritas, mídias digitais, computadores, telefones celulares, pen drives, entre outros dispositivos de armazenamento eletrônico.>
"Impossibilita, de antemão, a delimitação de documentos e objetos que seriam diretamente ligados desempenho da atividade típica do atual mandato do senador da República", afirmou.>
O magistrado afirmou ainda nas duas decisões que os bens e documentos apreendidos deverão ser lacrados e imediatamente acautelados, juntamente com eventuais espelhamentos ou cópias de seu conteúdo, caso elas tenham sido realizadas.>
As duas liminares suspendem as apurações até a análise dos casos pelo relator, ministro Gilmar Mendes.>
É mais um capítulo no debate reaberto sobre o alcance do foro especial, assunto julgado pelo Supremo em 2018, quando os ministros entenderam que o instituto legal pressupõe crime praticado no exercício do mandato.>
Suspeitas de irregularidades na gestão de Serra, que governou o estado entre 2007 e 2010, quando renunciou para disputar a Presidência da República, sempre foram alvo da Lava Jato de São Paulo.>
Esse período de três anos e três meses é relacionado à ascensão de Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, na Dersa, estatal responsável pelas principais obras viárias do estado.>
Desde que a Lava Jato paulista foi criada, Paulo Preto e outros auxiliares do governo Serra foram denunciados, mas o governador ficou de fora das investigações por uma série de impedimentos que incluem decisões do STF.>
Só agora, em 2020, o Ministério Público Federal concluiu uma denúncia que encontrou saída para acusar o ex-governador sem desrespeitar a decisão do Supremo: a partir de uma movimentação bancária feita em 2014 em uma conta atribuída à filha de Serra, os procuradores entenderam que o tucano praticou lavagem de dinheiro.>
Como a denúncia trata de movimentação de dinheiro em pessoas jurídicas sediadas em paraísos fiscais, as chamadas offshores, o Ministério Público Federal também entendeu que o caso é de competência da Justiça Federal, e não da Eleitoral.>
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