Publicado em 11 de julho de 2018 às 12:44
Enquanto a cúpula do PR ainda avalia uma possível aliança com o pré-candidato à Presidência, o deputado Jair Bolsonaro, a ala feminina do partido comandado informalmente por Valdemar Costa Neto resiste a um acordo com o PSL. Autor de declarações controversas sobre mulheres ele foi condenado por dizer que a deputada Maria do rosário (PT) não merecia ser estuprada por ser "muito feia" , Bolsonaro não tem agradado a ala feminina do PR.
Um movimento contra a aliança entre PR e Bolsonaro vem surgindo nos bastidores, e o descontentamento das mulheres do partido com o apoio ao ex-capitão do Exército deve ser discutido nos próximos dias numa reunião da sigla. O temor no "PR Mulher" é que o apoio ao presidenciável prejudique o desempenho de suas candidatas junto às eleitoras, grupo onde Bolsonaro mais enfrenta dificuldade para crescer. Costa Neto tem justificado a aproximação com o PSL alegando que 30 dos 41 parlamentares da legenda querem estar ao lado de Bolsonaro.
Ninguém fala isso oficialmente, porque as chances de a aliança são grandes e isso pode causar problema adiante, mas a preocupação existe pela postura de Bolsonaro. Não agrada às mulheres e estamos trabalhando contra essa aliança diz uma integrante do movimento feminino do partido.
A relutância feminina dentro do PR é só mais um dos problemas da pré-candidatura de Bolsonaro com as mulheres.
Líder das pesquisas com 19% nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro tem 26% da preferência entre os homens e apenas 12% entre as mulheres. Já Marina Silva (Rede), segunda colocada nas pesquisas com 15%, é o nome com maior percentual de intenções de votos entre mulheres. São 17%, contra 12% da preferência dos homens. Pré-candidato pelo PDT, Ciro Gomes, com 10% da preferência no total, tem 12% entre homens e 8% nas mulheres. Por sua vez, Geraldo Alckmin (PSDB), em quarto lugar nas pesquisas com 7%, repete este percentual em ambos os sexos.
Essa desvantagem em relação às mulheres coloca um limite de crescimento para Bolsonaro. Chegar ao segundo turno não tendo os votos de uma grande parcela da sociedade que é metade do eleitorado é muito difícil analisa Cláudio Couto, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Embora a campanha de Bolsonaro não admita que o eleitorado feminino é um problema, o candidato tem tomado medidas para atrair a atenção das eleitoras. Mulheres passaram a ser cogitadas para ser vice do parlamentar. Dentro do PR, as mulheres também resistiram a essa possibilidade Bolsonaro já admitiu que sonha com o senador Magno Malta (PR-ES) para ajudá-lo a puxar votos.
As redes sociais do militar têm sido usadas nos últimos dias para apresentar uma imagem mais simpática às mulheres, ao exibir demonstração de apoio feminino ao pré-candidato num evidente esforço de se afastar da pecha de machista. O rótulo já foi até explorado por outros pré-candidatos.
A campanha de Geraldo Alckmin foi a primeira a explorar o suposto preconceito de Bolsonaro contra as mulheres. Em um vídeo divulgado nas redes sociais do tucano, uma mulher diz que não pode confiar em alguém que é a favor da violência e, sem falar o nome do deputado, o classifica de "machista, racista e homofóbico. A atriz encerra o vídeo dizendo:
Sou mulher e exijo respeito. Bolsonaro? Tô fora.
A resposta veio com publicações de grupos de mulheres reforçando o apoio a Bolsonaro. Recentemente, ao chegar ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o filho do presidenciável, deputado federal Eduardo Bolsonaro, o gravou cercado por mulheres que pediam para tirar fotos. O vídeo exibia a legenda: Todo o Machismo de Bolsonaro.
O discurso para atrair as eleitoras também passa pela segurança. Bolsonaro chegou a propor castração química para autores de violência sexual em troca de diminuição da pena e o porte de arma para mulheres. Outros temas para cativar o eleitorado feminino conservador é a política de escolas sem ideologia de gênero e também a defesa contra o aborto.
Na semana passada, cerca de 30 mulheres de Santa Catarina, Distrito Federal e Goiás foram à Câmara de Deputados demonstrar apoio ao pré-candidato. No encontro, Bolsonaro sugeriu que uma pistola é mais eficiente em proteger mulheres do que a lei do feminícidio.
As mulheres sofrem muito com a violência e eu quero que vocês estejam em situação de igualdade com os homens. Entre a lei de feminicídio e uma pistola na bolsa, vocês ficam com a pistola disse o presidenciável, aplaudido por suas eleitoras.
Interlocutoras mais próximas da campanha afirmam que não existe uma estratégia orquestrada para conquistar as eleitoras. Elas, no entanto, têm se organizado para defender bandeiras comuns:
Existe um trabalho de demonização do Bolsonaro. Hoje somos muitas e vemos a necessidade de trazer à luz a verdade sobre como ele é diz a procuradora aposentada do Distrito Federal Beatriz Kicis, apoiadora da campanha e pré-candidata a deputada pelo PSL.
Presidente do PSL Mulher, a professora Dayane Pimentel, que afirma ter sido sondada para ser vice de Bolsonaro, minimiza as declarações polêmicas do presidenciável, como aquela em que disse que teve quatro filhos e na quinta deu uma fraquejada e veio uma mulher, e o episódio com a deputada Maria do Rosário, que lhe rendeu uma condenação por danos morais.
Ele quis dizer que nasceu uma menina, uma princesa. Ele tem um jeito brincalhão e querem imputar uma interpretação diz Dayane.
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