Publicado em 19 de março de 2021 às 10:18
- Atualizado há 4 anos
A morte cerebral do senador Major Olímpio (PSL-SP), de 58 anos, aumentou a pressão pela instalação de uma CPI no Senado para investigar ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. >
Outros dois senadores já morreram em decorrência da Covid-19 ou de complicações da doença. Os senadores José Maranhão (MDB-PB) e Arolde de Oliveira (PSD-RJ) morreram após serem infectados, respectivamente em fevereiro deste ano e em outubro do ano passado.>
A morte cerebral de Major Olímpio causou comoção entre os senadores, com muitos deles chorando ao receberem a notícia.>
O senador era um crítico frequente das políticas do governo federal no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Era também um dos principais defensores da instalação da CPI da Covid para investigar as ações do governo.>
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"O último pedido do Olímpio no plenário do Senado foi esse, para que se instalasse a CPI. Quando o ministro Eduardo Pazuello esteve no Senado, o questionamento mais duro foi dele. Portanto a homenagem mais efetiva que poderíamos prestar seria investigar os responsáveis por estarmos perdendo tantas vidas", afirmou o líder da oposição e autor do requerimento para a CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).>
Na sessão mencionada pelo senador, Major Olímpio lembrou os outros dois senadores que morreram por causa da Covid e atacou duramente o "negacionismo" do Ministério da Saúde diante de Pazuello.>
"Nossas orações de conforto aos familiares dos senadores Arolde de Oliveira e José Maranhão, que nós perdemos, e às mães dos senadores Renan Calheiros e Jayme Campos, que, de certa forma, são vítimas da irresponsabilidade, do negacionismo com que foi tratada a pandemia até então", afirmou no plenário.>
O requerimento para a instalação da CPI já conta com assinaturas suficientes para a sua abertura. A decisão final cabe ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).>
Pacheco, por sua vez, vem defendendo uma atuação mais colaborativa com o governo federal, com soluções parlamentares para ampliar a compra de vacinas e o número de leitos de UTI.>
Reiteradas vezes, o presidente do Senado tem afirmado que eventuais culpados vão ser julgados no futuro por seus atos, seja pelo Congresso Nacional ou pelo Judiciário. No entanto Pacheco afirma não ser o momento e disse nesta semana que a "solução não virá com a CPI".>
O Senado então instalou uma comissão técnica de acompanhamento da pandemia. A pressão deu mostras de ter diminuído um pouco mais nesta semana, com o anúncio do novo ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga, em substituição a Pazuello.>
A troca aconteceu um dia antes de pesquisa Datafolha mostrar que 54% dos brasileiros rejeitam a atuação de Bolsonaro no combate à pandemia.>
Pacheco ainda esperava anunciar ao lado de Bolsonaro uma reunião na próxima segunda-feira para discutir diretrizes no enfrentamento à Covid, unindo Executivo, Congresso, governadores, Procuradoria Geral da República e Judiciário.>
Bolsonaro iria ao Congresso nesta quinta-feira entregar a medida provisória do auxílio emergencial, quando ele e Pacheco aproveitariam para falar sobre a reunião. O evento no Senado, porém, acabou cancelado justamente por causa da morte cerebral de Olímpio.>
Com a morte cerebral de Major Olímpio, mesmo parlamentares contrários inicialmente à CPI começaram a se manifestar no calor da emoção em favor de pressionar Pacheco para instalar a comissão.>
Considerado mais moderado nessa questão, defensor de atitudes colaborativas para viabilizar uma vacina contra a Covid-19 o mais rápido possível, o líder do PSD, Nelsinho Trad (PSD-MS), percebeu essa mudança de clima no Senado, embora ele próprio considere a busca de uma imunização a questão mais importante.>
"Qualquer análise diante das circunstâncias e dos fatos ocorridos, principalmente com a morte de um senador da República por Covid-19, remete ao aumento da temperatura e da tensão dentro do Congresso Nacional. Isso é indiscutível e, com certeza, as cargas vão se voltar para poder se instalar essa CPI.">
"Não só o Senado da República, quanto o Congresso Nacional, a população, a sociedade brasileira como um todo quer uma cruzada positiva na busca da aquisição de vacinas. É o único remédio consolador que irá será um bálsamo nessa dor, nessa ferida", completou.>
Um líder governista que falou sob reserva afirmou que não é o momento para se discutir uma movimentação política, como a instalação de uma CPI, no mesmo dia em que houve a perda de um senador.>
Embora reconheça que pode haver pressão daqui para a frente, ele acredita que Pacheco e os senadores vão analisar racionalmente os eventos recentes, como a troca de ministro, os contratos para a aquisição de vacinas e a disposição do presidente Bolsonaro de dialogar com os demais Poderes e entes federados.>
A oposição, por sua vez, acredita que a morte de mais um senador será percebida como representativa do sofrimento que a pandemia vem causando à população, sob um comportamento danoso do presidente da República. Por isso promete ainda mais pressão pela instalação da CPI.>
"Na reunião de líderes do Senado, que aconteceu um pouco antes do anúncio da morte do senador Major Olímpio, parece que alguns parlamentares já percebiam o que estava para acontecer. Foram apelos emocionados de diversos deles por uma solução e alguns choraram", afirmou o líder da minoria, Jean Paul Prates (PT-RN).>
"A maioria está consciente de que vivemos uma tragédia, estamos com um país à deriva. É hora de um basta a essa mortandade. Nós precisamos corrigir os rumos do país com urgência. A CPI da Covid-19 não pode ser mais adiada", completou.>
O presidente Rodrigo Pacheco foi procurado na noite desta quinta-feira, mas não se manifestou sobre o assunto.>
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