Publicado em 27 de abril de 2020 às 15:22
Ao se demitir do Ministério da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro disparou em popularidade nas redes sociais e se aproximou do desempenho obtido por Jair Bolsonaro, segundo um ranking da consultoria de dados Quaest que analisa o alcance digital de líderes políticos nacionais.>
Com a saída de seu auxiliar, o presidente viu despencar seu índice no monitoramento. Bolsonaro é o primeiro colocado no levantamento desde que ele foi criado pela empresa, em janeiro de 2019.>
A repercussão da demissão também causou uma rara perda de seguidores pelo presidente, enquanto seu ex-ministro registrou ganho.>
O chamado IPD (Índice de Popularidade Digital), com pontuação que varia de 0 a 100, é medido a partir de dados de Twitter, Facebook e Instagram, além de YouTube, Google e Wikipédia. A classificação era mensal e passou a ser diária em março deste ano.>
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Na sexta-feira (24), data em que anunciou sua saída, Moro alcançou 52,1 pontos (acima dos 30,7 que teve no dia anterior), enquanto Bolsonaro registrou 75,8 (abaixo dos 82,9 de quinta-feira). A diferença entre os índices de ambos na sexta foi de 23,7 pontos.>
A tendência de alta do ex-ministro e de queda do presidente continuou no sábado (25), com uma aproximação ainda maior de ambos. Moro chegou a 55,3, enquanto Bolsonaro caiu para 70,3 --uma diferença de 15 pontos.>
A consultoria também monitorou o desempenho de nomes como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o apresentador e pré-candidato à Presidência Luciano Huck (sem partido) e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), que ganhou protagonismo com a pandemia do coronavírus.>
A demissão de Mandetta, no dia 16 deste mês, após uma série de desgastes com Bolsonaro, desencadeou uma situação parecida com a de Moro. O ex-titular da Saúde cresceu em popularidade e chegou a ficar apenas 10 pontos atrás do presidente.>
Com a diminuição da presença de Mandetta do noticiário, seu índice começou a cair, processo que coincidiu com o crescimento de Moro, observado a partir de quinta-feira (23), depois que o jornal Folha de S.Paulo antecipou a informação de que o ex-juiz deixaria o ministério.>
Ao mesmo tempo em que sua linha no gráfico subia, a de Bolsonaro iniciou uma trajetória de queda.>
"Moro estava em um viés de baixa e começou a subir no início da semana passada, chegando ao fim dela com seus indicadores mais altos na série histórica", diz Felipe Nunes, CEO da Quaest e professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).>
"Na média, ele [Moro] não tinha pontuação relevante em nenhuma dimensão, exceto na de mobilização, que compreende o total de compartilhamentos de conteúdos.">
Além de mobilização, o IPD é calculado com base em aspectos como: interesse (buscas por informação no Google e na Wikipédia), presença digital (número de redes sociais ativas) e fama (público total nas redes).>
As outras duas dimensões avaliadas, de um total de seis, são: engajamento (volume de reações e comentários ponderado pelo número de postagens nas redes) e valência (proporção de reações positivas e negativas).>
De acordo com Nunes, Moro cresceu em engajamento, mobilização, fama e interesse. Os acessos ao verbete do ex-magistrado na Wikipédia são um exemplo. Foram 628 cliques na página na quarta-feira (22), 9.200 na quinta, quando a demissão foi noticiada, e 71.050 na sexta, data em que ela se confirmou.>
O resultado negativo de Bolsonaro incluiu diminuição de seguidores, um fato inédito, segundo o coordenador do IPD, já que o presidente costumava ter um saldo positivo diário nesse quesito.>
De quinta para sexta-feira, a redução foi mais visível no Instagram, de onde saíram 55.474 seguidores, e no Facebook, com uma perda de 13.873. Só no Twitter manteve a tradição, conquistando 19.646 novos seguidores.>
O ex-juiz, por sua vez, avançou na quantidade em todas as redes --chegou a ganhar 195 mil seguidores no Instagram entre quinta e sexta.>
A troca de acusações entre Moro e Bolsonaro, que começou nos pronunciamentos feitos por ambos na sexta-feira, tiveram desdobramentos em seus perfis nos últimos dias.>
O ex-ministro, por exemplo, usou suas páginas para contestar a afirmação do presidente de que ele usou a disputa em torno da manutenção de Maurício Valeixo na direção-geral da Polícia Federal para negociar uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).>
Bolsonaro também se valeu de seus perfis para lembrar que deu apoio a Moro no episódio do vazamento de mensagens da Operação Lava Jato. Via rede social, o ex-magistrado mandou resposta ao presidente, negando o que chamou de "suposta ingratidão" apontada pelo antigo chefe.>
Para o CEO da consultoria Quaest, as oscilações dos dois personagens, que indicam uma pulverização da rede de apoio de ambos, sugerem que Bolsonaro terá um racha em sua base política.>
"O eleitorado ideológico, também conhecido como 'core voter', não deve mudar seu comportamento em relação ao presidente. Mas o eleitorado pragmático, o que votou nele por causa do antipetismo, deve abandonar a base de apoio de Bolsonaro", diz o analista.>
O movimento, contudo, não é definitivo, na opinião do professor. Pensando nas eleições de 2022, ele afirma que Bolsonaro tem chance de recuperar terreno. "Se ele conseguir fazer um governo de entregas, com poucas mortes na pandemia e com um plano de recuperação da economia, continua competitivo.">
Moro, por outro lado, "tem o apoio da classe média das grandes cidades e pode se apresentar como uma terceira via anti-Bolsonaro e anti-Lula", calcula o cientista político.>
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