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Maioria apoia CPI da Covid, mas avalia que é apenas encenação

Maioria apoia CPI da Covid, mas avalia que é apenas encenação

Para 57% dos entrevistados pelo instituto Datafolha, a CPI da Covid no Senado não fará um trabalho sério sobre a pandemia do coronavírus

Publicado em 14 de maio de 2021 às 18:35

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CPI da Covid investiga omissão do governo no combate à pandemia e o repasse de verbas aos Estados
CPI da Covid investiga omissão do governo no combate à pandemia e o repasse de verbas aos Estados. (Jefferson Rudy/Agência Senado)

A maioria da população brasileira apoia a criação da CPI da Covid no Senado Federal, mas também acredita que a investigação será apenas uma encenação.

As duas conclusões constam de pesquisa do Datafolha realizada com 2.071 pessoas, de forma presencial, em 146 municípios, nos dias 11 e 12 de maio. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Para 82% dos entrevistados, os senadores agiram bem em abrir a comissão. Apenas 11% consideraram um erro a instalação, 2% se disseram indiferentes e 5% afirmaram não saber.

A opinião favorável à investigação é majoritária mesmo na parcela do eleitorado que aprova a gestão do presidente Jair Bolsonaro, principal crítico da CPI.

Concordam com a criação 67% dos que avaliam o governo como ótimo ou bom, percentual que sobe para 90% entre os que reprovam o presidente.

A comissão, na verdade, foi instalada apenas por interferência do Supremo Tribunal Federal, uma vez que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), resistia em criá-la, embora as condições regimentais para isso estivessem todas cumpridas.

Ao mesmo tempo, a maior parte dos entrevistados demonstra ceticismo de que a CPI vá fazer uma investigação séria sobre erros cometidos no enfrentamento da pandemia, que já deixou mais de 430 mil mortos.

Estão esperançosos 35%, para quem a CPI vai levar a investigação até o fim a sério. Outros 57%, no entanto, avaliam que a comissão vai fazer apenas uma encenação, enquanto 6% não souberam responder e 2% deram outras repostas.

Em duas semanas de trabalho, a CPI teve uma série de depoimentos quentes, que trouxeram informações novas sobre as falhas do governo federal, mas também proporcionaram momentos de pugilato verbal.

A sessão mais controversa foi a que ouviu o ex-secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten, que chegou a ter sua prisão pedida por senadores, sob acusação de mentir em depoimento.

Também houve um bate-boca entre Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que foi chamado de vagabundo pelo filho de Bolsonaro.

Apesar deste apelo midiático da CPI, metade da população brasileira afirma que não tomou conhecimento sobre a comissão. Disseram estar informados 52% dos entrevistados, uma situação de empate técnico com os 48% que afirmaram não ter conhecimento sobre a investigação.

Apenas 14% consideram-se bem informados a respeito da CPI, 27% mais ou menos informados e 10% mal informados.

Curiosamente, o apoio à CPI difere pouco entre as metades da população que se dizem informadas e sem conhecimento sobre a comissão. Entre os que estão a par do assunto, 84% defendem a investigação, índice que cai para 79% entre os que declaram desconhecê-lo.

O Datafolha também apresentou uma série de frases sobre a pandemia e quis saber se os entrevistados concordavam com elas. A maioria dos pesquisados mostrou alinhamento com afirmações negativas para Bolsonaro.

De acordo com o levantamento, 75% concordam que o governo federal demorou para comprar vacinas e perdeu boas ofertas de imunizantes.

A principal controvérsia é com relação à vacina da Pfizer, que se dispôs a fornecer doses ao Brasil ainda no ano passado, e teve o gesto recusado.

Além disso, 73% dos entrevistados consideram que o governo federal transformou a pandemia num problema político, e 72% afirmam que a gestão Bolsonaro agiu como se a Covid-19 não fosse grave.

O presidente, desde a eclosão da emergência, no início do ano passado, procurou minimizar seus riscos para a saúde da população, e chegou a chamar a doença de "gripezinha".

Bolsonaro também segue promovendo aglomerações, despreza o uso de máscaras e é contrário às restrições de mobilidade, com o argumento de que elas prejudicam a economia.

Também há concordância com as assertivas de que Bolsonaro deixou faltar remédios em hospitais, como o kit intubação (70%), criou dúvidas sobre a Coronavac, do Butantan (69%), e fez do Brasil o centro mundial da pandemia (64%).

Um dos pontos mais criticados na gestão da pandemia pelo presidente, o chamado "tratamento precoce", com drogas como cloroquina e ivermectina, também recebe críticas.

Dentre os entrevistados pelo Datafolha, 60% concordam com a afirmação de que Bolsonaro promoveu métodos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, contra 34% que se alinham ao presidente.

A resposta do governo para amenizar os efeitos econômicos tampouco agrada à maioria: 67% concordam que o programa federal de ajuda às empresas não foi eficiente, e 65% dizem que houve demora no pagamento da ajuda emergencial.

Por fim, 59% respaldam a afirmação de que o presidente entregou o Ministério da Saúde a militares sem expertise na área, caso do general Eduardo Pazuello. O mesmo percentual diz que o governo criou e espalhou notícias falsas sobre a pandemia.

Como esperado, a opinião nos segmentos que apoiam Bolsonaro sobre estas afirmações é diferente em comparação com o que pensa a totalidade dos entrevistados.

Entre quem considera o desempenho de Bolsonaro ótimo ou bom, 59% discordam da demora no pagamento do auxílio emergencial, 66% dizem que o governo não espalhou notícias falsas e 53% divergem da assertiva de que o Ministério da Saúde foi entregue a militares sem experiência.

Mesmo nesse segmento de bolsonaristas, no entanto, há empate técnico entre os que concordam e discordam sobre a demora na compra de vacinas e a promoção de tratamento precoce sem eficácia contra a doença, entre outros pontos.

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