Publicado em 4 de setembro de 2022 às 14:59
Na busca pelo voto das mulheres, maioria entre os eleitores, os líderes nas pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) adotam caminhos parecidos. Na primeira semana de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, o trio replicou o que vinha testando nas redes sociais, em entrevistas e discursos, com citações e espaços para suas esposas falarem.>
"No momento, há um termômetro social de inserir a mulher em instâncias em que, em geral, ela é alijada", afirma a professora de Ciência Política da Universidade Presbiteriana Mackenzie Carolina Botelho.>
No sábado (3), foi a vez da socióloga Rosângela da Silva, a Janja, aparecer pela primeira vez no horário eleitoral reservado à candidatura à Presidência de seu marido, Lula, na televisão. Apresentou-se como esposa do candidato e disse estar ao lado dele "nessa caminhada pelo Brasil da esperança".>
"Sabemos das dificuldades que nós mulheres enfrentamos atualmente. São milhões de mulheres endividadas para poder levar alimentos para suas famílias", diz a socióloga, filiada ao PT desde os anos 1980.>
>
Além da esposa de Lula, outras dez mulheres apareceram na propaganda petista de sábado na televisão, que teve locução de feminina. O candidato foi o único homem a falar nos 3 minutos e 40 segundos integralmente dedicados a propostas para elas.>
"Vamos juntas com Lula garantir segurança alimentar para as famílias e oportunidades para todas as mulheres", conclui Janja.>
O protagonismo contrasta com o papel desempenhado pela então esposa do petista nas eleições em eleições anteriores. Morta em 2017, Marisa Letícia teve uma presença mais discreta nas disputas de 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006.>
Não falava em propagandas ou comícios, quando conquistar o voto feminino era um problema para o petista, lembra Luciana Panke, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná e doutora em Comunicação Política.>
Na véspera do primeiro turno, há 20 anos, a campanha do ex-presidente veiculou um vídeo com mulheres grávidas e uma participação do cantor Chico Buarque. Foi a estratégia usada para atingir as mulheres na eleição de 2002.>
"Vivemos um momento social em que a invisibilidade feminina não é mais aceita. Elas precisam aparecer, nem que seja como esposa", afirma Panke, que ressalta que a pauta de representatividade deixou de ser exclusiva de partidos de esquerda e centro-esquerda e aparece em candidaturas de direita.>
Caso do atual presidente, que convocou a primeira-dama para a sua campanha. Michelle Bolsonaro fez discursos em comícios e apareceu vídeo de 30 segundos em que defende o governo do marido. Na peça, divulgada no YouTube e na televisão, o presidente não aparece.>
O vídeo foi retirado do ar após uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), atendendo a um pedido da coligação de Simone Tebet (MDB). A campanha bolsonarista infringiu a legislação que determina que outra pessoa que não o candidato pode ocupar 25% do tempo da propaganda.>
A exposição da primeira-dama é usada para tentar melhorar a imagem do presidente com o público feminino, um ponto fraco da campanha.>
No debate do dia 28 de agosto, Bolsonaro se exaltou e atacou a jornalista Vera Magalhães após ser questionado sobre vacinação. Disse que ela "era uma vergonha para a sua profissão", insulto que repetiu à adversária Simone Tebet (MDB).>
Na pesquisa Datafolha, divulgada na quinta (1º), 35% dos homens diziam votar no candidato à reeleição em resposta espontânea. O índice caía para 24% entre as mulheres. Os números variam menos entre os eleitores de Lula: 39% dos homens declararam voto no petista, contra 41% das mulheres.>
Já a rejeição de Bolsonaro é mais discrepante. São 55% das mulheres as que dizem não votar de jeito nenhum no atual presidente, índice que cai para 35% quando se fala do petista.>
Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mulheres representam 52,65% do eleitorado, contra 47,33% que correspondem aos homens. Entre os que disputam um cargo, mulheres ainda são minoria: elas são 33% do total. Mas o número é um recorde, assim como o de candidatas à Presidência e à Vice-Presidência. Oito mulheres participam da corrida ao Palácio do Planalto em 2022.>
Uma delas é a vice na chapa de Ciro Gomes, Alessandra Paula Matos, vice-prefeita de Salvador. Nos programas de televisão do candidato do PDT, ela apareceu numa imagem estática, com o santinho da dupla.>
Quem fala no programa é a esposa de Ciro, Giselle Bezerra, que faz as vezes de apresentadora do programa do candidato do PDT.>
Os movimentos adotados na campanha presidencial são replicados por candidatos nos Estados. No Rio Grande do Sul, o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), candidato ao governo do Estado, repetiu o presidente e colocou a sua esposa, Denise, para falar em uma propaganda exibida na televisão e compartilhada nas redes sociais.>
Aparição mais discreta teve a esposa do aliado de Lula na Bahia, o candidato ao Senado Otto Alencar (PSD-BA), que falou durante uma propaganda em que o político apresentava a família. "O Otto sempre foi isso, aquele ser humano, aquele braço, aquela mão que está sempre estendida", afirmou Márcia.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta