Publicado em 24 de março de 2023 às 19:33
BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), enviou nesta sexta-feira (24) ofício ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pedindo que seja convocada uma sessão do Congresso Nacional para decidir sobre o impasse das MPs (medidas provisórias).>
No ofício, ao qual a reportagem teve acesso, Lira afirmou que houve falta de coerência por parte de Pacheco ao definir que as MPs editadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sejam analisadas diretamente pelo plenário da Câmara, enquanto as publicadas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) serão submetidas a votação em comissões mistas — como ocorria antes da pandemia da Covid-19.>
"Com efeito, se o fundamento do Ato de Vossa Excelência é [o] encerramento da ESPIN [Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional] e da calamidade pública, não se mostra coerente aplicar a medidas provisórias posteriores a 22 de maio regimes diversos. É dizer: a transição de governos não é um marco temporal coerente com os fundamentos da decisão", escreveu Lira.>
Senadores argumentam que as comissões mistas estão previstas na Constituição e apontam arbitrariedade de Lira na resistência à reinstalação dos colegiados.>
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O presidente da Câmara disse que causou "espécie" a decisão de Pacheco de retomar as comissões mistas em ato assinado somente pelo presidente do Senado, sem anuência dos deputados.>
"Do ponto de vista constitucional, esse procedimento tolheu o direito regimental de deputados e deputadas federais de contraditar a questão de ordem e recorrer da decisão de Vossa Excelência", afirmou.>
O argumento de Lira é que o ato que determinou que as comissões mistas não seriam instaladas durante a pandemia foi assinado conjuntamente pelas Mesas Diretoras de Câmara e Senado.>
O documento também estabelecia que a tramitação diferente das MPs se daria enquanto estivesse em vigor a portaria do Ministério da Saúde que reconhecia a emergência em saúde decorrente da Covid.>
Para o presidente da Câmara, não faz sentido definir que as medidas provisórias de Lula e Bolsonaro tenham tramitação diferente, uma vez que o Ministério da Saúde revogou a emergência sanitária em maio de 2022.>
"Não parece justificável, um ano depois [do fim da emergência em saúde], que se altere unilateralmente e monocraticamente o regime de tramitação de medidas provisórias em vigor com base em tais argumentos.">
Para solucionar o impasse, Lira propôs a Pacheco que seja convocada uma sessão do Congresso para que "a matéria seja formal e devidamente suscitada e decidida".>
Aliados de Lira ouvidos pela Folha de S.Paulo afirmam que, na sessão do Congresso, há uma variedade de alternativas que podem ser discutidas. A principal delas — dizem — é a composição das comissões mistas.>
Atualmente elas são formadas por 12 deputados e 12 senadores definidos pelos próprios líderes. Lira já afirmou considerar que esse mecanismo é antidemocrático porque a Câmara ficaria subrepresentada. A solução proposta por Lira, no entanto, já foi descartada por lideranças do Senado.>
Interlocutores do presidente da Câmara se fiam no argumento de que, apesar de as comissões mistas estarem previstas na Constituição, o texto constitucional não especifica a sua composição — definição que foi dada em resolução do Congresso em 2002.>
Caso Pacheco não convoque a sessão, interlocutores de Lira dizem que o presidente da Câmara poderá pedir o envio diretamente para o plenário da Câmara das demais medidas provisórias apresentadas (não somente as do governo Bolsonaro). Diante de uma segunda negativa, Lira também avalia devolver as MPs dos tempos de Bolsonaro.>
A crise entre os dois presidentes causada por esse impasse das MPs atingiu seu ápice na quinta-feira (23), quando Pacheco determinou o retorno das comissões mistas.>
Pacheco acatou questão de ordem proposta pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), desafeto de Lira, que cobrava uma posição definitiva do pres idente do Senado diante de semanas sem definições.>
Em resposta, Lira ameaçou boicotar a decisão, que classificou como "draconiana", afirmando que essa questão não andará "um milímetro" na Câmara. Além disso, ele também colocou em dúvida a liderança de Pacheco à frente do Senado.>
Numa tentativa de amenizar as declarações de Lira dadas mais cedo, a presidência da Câmara divulgou nota sinalizando uma tentativa de diálogo com o Senado. Segundo relatos, teria partido do próprio Lira a iniciativa de elaborar o texto.>
As medidas provisórias são editadas pelo presidente da República e entram em vigor imediatamente, mas dependem do aval do Congresso para não perder validade. Assim, Câmara e Senado têm até 120 dias para aprovar ou reverter a iniciativa do governo.>
A Constituição prevê que a tramitação das MPs se inicie em uma comissão mista, formada por deputados e senadores. Durante a pandemia, no entanto, um ato conjunto do Congresso decidiu que os colegiados não seriam formados, para dar celeridade às votações e evitar aglomerações.>
Após dois anos com a tramitação diferenciada, Lira e lideranças da Câmara dizem que a ausência das comissões mistas facilitou o trabalho de análise de medidas provisórias.>
Lideranças do Senado, no entanto, criticam que a Casa tem sido prejudicada com o formato e que, com a demora para a Câmara aprovar as MPs, os senadores têm pouco tempo para analisar os textos e promover alterações.>
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