Publicado em 7 de abril de 2020 às 07:44
Depois de voltar de reunião no Palácio do Planalto, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta segunda-feira (6) que ficará no cargo, após as especulações de que seria demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.>
"Nós vamos continuar, porque continuamos, vamos continuar enfrentando o nosso inimigo, que tem nome e sobrenome, o covid-19", disse, em entrevista coletiva no ministério. "Hoje foi um dia que rendeu muito pouco o trabalho do ministério. Teve gente limpando gaveta, pegando as coisas. Até as minhas gavetas.">
Ao chegar, Mandetta recebeu aplausos e agradeceu a equipe. "Não é hora de aplaudir ninguém, não terminou nada", respondeu. "É o que já falei: lavoro, lavoro, lavoro.">
Integrantes do chamado núcleo moderado do governo, que inclui militares, conversaram nesta segunda-feira desde cedo com Bolsonaro na tentativa de demovê-lo da ideia de exonerar Mandetta no curto prazo. Em conversas reservadas, o presidente chegou a dizer que a situação estava insustentável.>
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Num primeiro momento, a pressão fez efeito. Ministros de fora do Planalto estavam apreensivos com a reunião ministerial convocada por Bolsonaro para o final da tarde desta segunda, com receio de que ele anunciasse a saída do titular da Saúde.>
O encontro teve um clima tenso, segundo relatos, mas o presidente não deu sinais de uma exoneração próxima.>
Na reunião, Bolsonaro e Mandetta expuseram divergências sobre o uso da cloroquina em casos de coronavírus.>
O presidente disse que havia conversado com especialistas que defendiam o uso do remédio em estágio inicial da doença.>
O ministro da Saúde, por sua vez, defendeu que não há ainda protocolos seguros sobre o uso do remédio.>
Bolsonaro não refutou e ouviu de ministros apelos para que a equipe mantenha a união.>
"Eu acho que a coisa vai se ajustando"?, disse à reportagem o vice-presidente, Hamilton Mourão.>
Apesar de não ter dado sinais na reunião de que vai demitir o ministro, aliados de Bolsonaro o consideram imprevisível e por isso buscam alternativas para o cargo. A ideia é encontrar um nome favorável ao uso da hidroxicloroquina.>
A ideia inicial de Bolsonaro era exonerar o auxiliar presidencial apenas em junho, de modo a não correr o risco de ser responsabilizado sozinho caso o sistema de saúde entre em colapso durante a pandemia da doença.>
Em conversas reservadas nesta segunda-feira, no entanto, o presidente disse que não tinha como manter o auxiliar no cargo. Para Bolsonaro, ele o tem desafiado em declarações públicas e não conta mais com a confiança do presidente. >
O núcleo moderado do Planalto defende que, caso o presidente substitua Mandetta, escale um médico com um currículo respeitável, que ajude a reduzir um eventual desgaste público com a saída de Mandetta. >
Sem a presença de Mandetta, o presidente almoçou com os quatro ministros palacianos e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). O parlamentar, cotado para o posto e defensor da hidroxicloroquina e do isolamento vertical, tem ajudado o presidente em uma eventual transição da pasta. >
Além deles, também estava presente no encontro a médica Nise Yamaguchi, que defende o uso de hidroxicloroquina para casos de coronavírus em estágio inicial. >
O nome dela, que tem o apoio do grupo ideológico, passou a ser apontado pelo entorno de Bolsonaro como um dos possíveis para substituir Mandetta caso ele seja demitido. >
Outro nome que conta com a simpatia de Bolsonaro é o do cardiologista Otávio Berwanger. Ele esteve com o presidente na semana passada em reunião com médicos no Palácio do Planalto. >
O chefe do Executivo tem se incomodado com a demora do Ministério da Saúde em apresentar um protocolo claro para o uso da hidroxicloroquina. Bolsonaro também se queixa da falta de um plano detalhado para o combate ao vírus e retorno de atividades nos estados.? >
Na semana passada, Bolsonaro estava prestes a demitir Mandetta, mas foi demovido por aliados próximos. Nesta segunda-feira, ele passou a considerar uma exoneração até o final da semana, mas recebeu recados negativos do Poder Legislativo. >
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já informaram ao Planalto que apoiam a permanência do ministro. O receio da articulação política é de que uma demissão possa estimular retaliações em votações do governo. >
Alcolumbre, por exemplo, rejeitou um convite para um encontro com Bolsonaro no final de semana e, nesta segunda (6), telefonou para o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e informou ser contra a demissão de Mandetta. >
Nos últimos dias, Bolsonaro tem se estranhando com Mandetta e chegou a afirmar que falta humildade ao seu auxiliar e que ele extrapolou. >
O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. >
Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa. >
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