Publicado em 10 de junho de 2025 às 14:51
BRASÍLIA - O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), respondeu apenas perguntas formuladas por seu advogado em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a trama golpista de 2022. Ele negou ter apoiado uma ruptura institucional, disse que "não havia oportunidades" de praticar atitudes ilegais e defendeu o voto impresso.>
O militar foi o quinto réu a prestar depoimento ao Supremo no processo sobre a suposta tentativa de golpe de Estado. Antes de ele falar, seu advogado afirmou que ele responderia apenas questionamentos de sua defesa, e não os do ministro Alexandre de Moraes, do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e das demais defesas.>
A sessão foi interrompida para o intervalo de almoço e foi retomada às 14h30, com o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).>
Em um dos trechos do depoimento, o advogado Matheus Milanez perguntou a Heleno se seria correto afirmar que ele "nunca defendeu qualquer atitude ilegal".>
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"Não havia oportunidades. O próprio presidente, na declaração dele, cortou a possibilidade", respondeu Heleno.>
Na réplica, o advogado repetiu a pergunta em formato de sim ou não, para "deixar mais claro". O ex-ministro, mais sucinto, disse somente que não havia tomado atitudes ilegais.>
Em outro momento, a defesa de Heleno perguntou ao militar se ele teria "ajudado a construir um discurso de desinformação" sobre as urnas eletrônicas para Bolsonaro – principal acusação da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o general.>
"Eu não tinha nem tempo para fazer isso", disse o general.>
As respostas imprecisas, com possibilidade de interpretações diversas, pareceram causar apreensão no advogado. Em diversos momentos ele refez perguntas e pediu respostas simples para confirmar ou negar informações. Tentou ainda antecipar o fim das respostas do general.>
A denúncia cita uma reunião ministerial de julho de 2022 em que Heleno deu declarações interpretadas como de cunho golpista pela Polícia Federal e pela Procuradoria.>
Gonet diz que a fala de Heleno revelava que a "estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) continuava sendo utilizada para fins ilícitos". A acusação tinha como base uma fala do ex-ministro que indicava uma possível tentativa de infiltrar agentes da Abin nas campanhas eleitorais de 2022.>
"Eu já conversei ontem com o Vitor, que é o novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados estão fazendo. O problema todo disso é se vazar qualquer coisa em relação a isso. Se houver uma... Porque muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer lugar", disse Heleno na ocasião.>
No Supremo, em resposta ao seu advogado, o general afirmou que seu objetivo não era infiltrar agentes da Abin nas campanhas. A ideia, segundo ele, era evitar possíveis ações violentas contra os candidatos ou o impedimento do acesso de eleitores aos locais de votação.>
"Eu realmente conversei com o Victor, que era à época o diretor interino da Abin, para que fosse realizado um acompanhamento das eleições presidenciais para evitar que acontecesse algo como ocorreu com Bolsonaro na facada de Juiz de Fora", afirmou.>
No indiciamento, a Polícia Federal apontou Heleno como integrante do suposto "núcleo de inteligência paralela", que teria atuado na consumação de um golpe de Estado.>
O militar foi denunciado pela PGR por suposto "direcionamento estratégico" da organização criminosa. Heleno é citado como um dos conselheiros de Bolsonaro na trama golpista.>
Com as testemunhas, a defesa tentou demonstrar um afastamento entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o general na segunda metade do governo.>
As testemunhas relataram terem trabalhado diretamente com Heleno e afirmaram que ele ordenou dar andamento à transição normalmente após a derrota nas eleições, que manteve pessoal de governos anteriores nos quadros do GSI, que nunca tratou de nada relacionado a minuta de golpe nem politizou o órgão.>
Um documento elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes, um dos principais suspeitos de arquitetar a trama golpista, previa a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, comandado por militares, logo após o golpe de Estado.>
A minuta de criação do Gabinete Institucional de Gestão de Crise colocava Heleno como o chefe do grupo. O texto previa ainda outras estruturas no gabinete de crise, como as assessorias de comunicação social e de inteligência. Ao todo, seriam 18 militares no grupo, com maioria de integrantes da reserva do Exército.>
Manuscritos do ex-ministro-chefe do GSI apreendidos pela Polícia Federal também são usados como evidências contra o militar. As anotações indicam que o governo Bolsonaro avaliou usar a AGU (Advocacia-Geral da União) para impedir operações policiais consideradas pela própria administração como ilegais.>
De acordo com a Polícia Federal, as anotações de Heleno descrevem uma "comunhão de esforços" no governo Bolsonaro para dar poderes à AGU para definir quais decisões judiciais seriam legais.>
"Os elementos de prova não deixam dúvidas de que a organização criminosa estava elaborando estudos para de alguma forma tentar coagir integrantes dos sistema de persecução penal para que as investigações contra seus integrantes fossem cessadas", diz a PF.>
Ainda, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) teria sido aparelhada pelo governo de Bolsonaro para incluir infiltrados, espionar desafetos e espalhar mentiras sobre o processo eleitoral. O órgão é subordinado ao GSI.>
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