Publicado em 11 de junho de 2025 às 10:50
A estratégia do ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno de exercer parcialmente o direito de silêncio e responder apenas a seu advogado durante interrogatório no STF (Supremo Tribunal Federal) pode ter sido comprometida por atuação em que o general se enrolou com as respostas e deu a entender que só não adotou medidas ilegais por falta de "clima", segundo especialistas.>
Nesta terça-feira (10), Augusto Heleno só respondeu a perguntas de seu advogado Matheus Milanez, mas foi repreendido por ele ao se enrolar com as respostas e não entregar falas mais curtas, do tipo sim ou não, aos questionamentos.>
No geral, Heleno negou ações golpistas, mas mais de uma vez respondeu não ter tentado ações ilegais por não haver "clima" ou pela falta de autorização do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).>
Ele também afirmou que estava afastado de militares que estariam relacionados ao suposto golpe, confirmando indiretamente que havia aqueles que se mobilizaram em direção a uma trama golpista.>
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Augusto Heleno foi o quinto a falar. Antes dele falaram o delator e ex-ajudante de ordens Mauro Cid, Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-chefe da Abin, Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça.>
Ainda participam do interrogatório Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.>
Todos os oitos são acusados de participarem do núcleo central de uma trama golpista para impedir a posse do presidente Lula (PT). Eles respondem sob a acusação dos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito, associação criminosa armada, dano qualificado ao patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado.>
Para Ricardo Yamin, doutor em direito pela PUC-SP, o general optou por ficar parte em silêncio, mas fez um depoimento que o ajudou muito pouco, do ponto de vista jurídico, e acabou prejudicando a estratégia de autodefesa inicial.>
"Quando ele nega os envolvimentos dele nas questões, ele está simplesmente se defendendo. Isso já está na defesa e não acrescenta. Mas quando ele faz confusão e erra a mão com os comentários dele, ele só se prejudica. Ele fez um depoimento que violou a estratégia dele", afirma o especialista.>
Danilo Pereira Lima, professor de direito constitucional e coordenador do curso de direito do Claretiano de Batatais, fala em "sincericídio" do general Augusto Heleno com as respostas dadas ao advogado. Para ele, a referência à falta de "clima" se coaduna com a leitura geral do especialista sobre os militares não terem embarcado no golpe apenas por falta de oportunidade.>
"Ele cometeu um 'sincericídio' e é bem essa leitura que eu faço sobre a discussão sobre se o comandante do Exército [Freire Gomes] foi legalista ou não. Para mim, eles [comandantes da FAB] só não embarcaram no golpe porque faltou um clima, faltaram condições favoráveis para que o regime democrático fosse derrubado", afirma.>
A falta de "clima" foi repetida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro durante seu interrogatório. Ele afirmou que não prosseguiu com discussões sobre estado de sítio e medidas similares porque não havia "clima" e "base minimamente sólida" para tomar as medidas que, segundo o político, só foram aventadas depois que as portas se fecharam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), fazendo referência à multa de R$ 22,9 milhões recebida pelo seu partido, o PL, por litigância de má-fé em 2022.>
A advogada criminalista Ana Carolina Barranquera, especialista em direito e processo penal, afirma que Augusto Heleno se enrolou quando cita uma "virada de mesa" que deveria ser feita antes das eleições. "Virar a mesa quer dizer que haverá mudança ilegal do resultado. Virar a mesa não é uma expressão que pode ser utilizada para garantir a legalidade, mas sim para não respeitar a legalidade", diz a especialista.>
Segundo a acusação, Heleno teria desempenhado papel de conselheiro de Bolsonaro e trabalhado no "direcionamento estratégico" da organização criminosa, além de integrar um "núcleo de inteligência paralela" que atuaria na consumação do golpe de Estado.>
O general também é investigado no caso da "Abin paralela", no qual é apurado suposto uso das estruturas da Agência Brasileira de Inteligência no monitoramento de adversários políticos de Bolsonaro e na blindagem de seus filhos em investigações da Polícia Federal.>
No interrogatório, Heleno afirmou que, a curto prazo, não era possível fazer uma infiltração de agentes na Abin. Ele também disse ser adepto do voto impresso, mas que "não tinha força para transformar aquilo em realidade".>
Questionado sobre se aceitou o resultado das urnas, Heleno afirmou que "tinha que aceitar, não havia outra solução". Ele afirmou que o lema do governo Bolsonaro era agir dentro das quatro linhas, em referência à necessidade de constitucionalidade de suas ações, e negou qualquer relação com os ataques golpistas do 8 de Janeiro.>
O general também negou conhecimento sobre o plano Punhal Verde Amarelo, que planejaria a morte de autoridades, e disse ter se afastado de Jair Bolsonaro durante o mandato do ex-presidente.>
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