Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 09:08
Associações médicas de endocrinologia, ginecologia e cardiologia publicaram na quarta-feira (10) um documento sobre o uso de testosterona em mulheres para fins estéticos e reposição na menopausa. Em maio, as mesmas entidades já haviam emitido um alerta contra as indicações crescentes. >
"Com base nas melhores evidências científicas e em consonância com princípios éticos e regulatórios", SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) afirmam que a prescrição de testosterona a mulheres deve se restringir à única indicação formalmente reconhecida: o transtorno do desejo sexual hipoativo.>
O uso fora desse transtorno, diz a nota, aumenta o risco de efeitos adversos como tumores de fígado, infertilidade, alterações psicológicas e psiquiátricas, acne, queda de cabelo, crescimento de pelos, crescimento do clitóris e engrossamento irreversível da voz.>
As entidades alertam ainda que o uso pode ter repercussões cardiovasculares como hipertensão arterial, arritmias, embolias, tromboses, infarto, AVC e até aumento da mortalidade, além de alterações de outros exames laboratoriais, como os de colesterol e triglicerídeos. "A gente tem visto mulheres que aparecem [nos consultórios] cheias de acne, pelos, com queda no cabelo, alteração da voz e gordura no sangue, que pode levar a alteração cardiovascular", diz José Maria Soares Júnior, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Febrasgo.
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Segundo o médico, também há relatos de pacientes que foram internadas por infarto e estavam usando o hormônio. "Existem doenças invisíveis. Entre elas, doença do coração, que a paciente não consegue ver e quando perceber, é tarde demais. Por isso, elas precisam saber o que estão usando e o que isso pode causar nelas". O acesso a indicações, porém, é fácil. Em uma página online, por exemplo, uma ginecologista que afirma ser membro da Febrasgo oferece implantação de testosterona por um preço que varia entre R$ 3.000 e R$ 5.000.>
Esse é o "chip da beleza" que a influenciadora Virgínia Fonseca afirmou ser o responsável pelo seu rápido aumento de massa muscular neste ano. Em setembro, questionada se estava usando anabolizantes devido à alteração na voz, ela disse que usava o implante hormonal que combina gestrinona e testosterona.>
Diferentes médicos usam as plataformas digitais, como Instagram e TikTok, para recomendar a reposição, que viria sem efeitos colaterais caso feita com acompanhamento médico e na dosagem correta.>
As associações médicas de endocrinologia, ginecologia e cardiologia, entretanto, afirmam que não recomendam os implantes subcutâneos manipulados por causa da imprevisibilidade de como o corpo pode reagir a eles e da ausência de dados robustos de eficácia e segurança.>
Além disso, a nota ressalta que não existe no Brasil formulação de testosterona aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso em mulheres. O posicionamento diz ainda que não existe sequer indicação de dosagem de testosterona em mulheres para investigar se ela está com suposta deficiência.>
"O uso de testosterona para fins estéticos, de melhora de composição corporal, desempenho físico, disposição ou antienvelhecimento, em mulheres ou em homens, é vedado pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e não reconhecido pela Anvisa, carecendo de base científica e regulatória", diz o posicionamento.>
Sobre o uso na menopausa, as entidades afirmam ainda que a testosterona não apresenta queda abrupta com a menopausa, havendo redução gradual ao longo da vida adulta. "Não há valores de referência validados que definam deficiência androgênica feminina passível de tratamento clínico", diz a nota.>
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