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Congresso adia análise de divisão do Orçamento após provocação de Bolsonaro

Congresso adia análise de divisão do Orçamento após provocação de Bolsonaro

Bolsonaro pressionou o Congresso e atrelou os protestos do dia 15 de março, que têm o Legislativo como um de seus alvos, à costura do acordo

Publicado em 10 de março de 2020 às 22:14

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Dividido diante dos vários cenários que se apresentam para as próximas horas, o Congresso ainda não definiu o que fazer. (Pedro França)

 Um dia após o presidente Jair Bolsonaro fazer provocações ao Congresso, deputados e senadores decidiram adiar a discussão sobre projetos encaminhados pelo governo que preveem a divisão de R$ 30 bilhões do Orçamento entre Parlamento e Executivo.

Depois de quase seis horas de debate, a sessão da CMO (Comissão Mista de Orçamento) desta terça-feira (10) foi suspensa sem que os parlamentares votassem os dois principais projetos em análise.

A sessão será retomada nesta quarta-feira (11) às 11h.

Paralelo a isso, parlamentares de partidos como Novo, Podemos, Rede, PSL e Cidadania começaram a recolher assinaturas de apoio a uma carta que pede a Bolsonaro que recolha um dos projetos enviados pelo Executivo, justamente aquele que permite ao Congresso atuar sobre R$ 15 bilhões dos R$ 30 bilhões que inicialmente estavam sob controle do relator do Orçamento, deputado Domingos Neto (PSD-CE).

Caso Bolsonaro, que chega dos Estados Unidos na madrugada desta quarta-feira, decida recolher o PLN 4 (projeto de lei do Congresso Nacional nº 4), pode-se abrir uma crise sem precedentes entre seu governo e o Congresso.

Nesta quarta, o presidente promoverá uma reunião com os ministros Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Jorge Oliveira (Secretaria Geral) para definir o que será feito. A retirada do PLN 4 está em avaliação pelo governo.

Na semana passada, em uma reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e líderes partidários, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a dizer, segundo relatos de participantes, que, se o governo descumprisse o acordo, não votaria nenhum outro projeto de remanejamento orçamentário do governo até o fim do ano.

O Executivo apresentou na semana passada três projetos em troca de que o Congresso mantivesse os vetos que Bolsonaro fez ao Orçamento impositivo.

Dos três PLNs apresentados no trato, apenas um, o mais simples, que apenas regulamenta o Orçamento impositivo, foi aprovado.

Deputados e senadores do Novo e do grupo "Muda, Senado!" obstruíram a sessão desde o início, por volta do meio-dia.

FALHA NO MICROFONE

No fim da tarde, uma falha no microfone do relator dos projetos, deputado Cacá Leão (PP-BA), interrompeu a sessão por quase meia hora. Depois disso, alegando quórum baixo, o presidente da CMO, senador Marcelo Castro (MDB-PI), suspendeu a sessão, afirmando que irá retomá-la nesta quarta.

Leão deixou o plenário da comissão demonstrando irritação e não falou com os jornalistas.

Alguns parlamentares tanto na Câmara como no Senado defendem que a votação dos textos fique para depois das manifestações pró-governo e contra o Congresso, marcadas para 15 de março, na intenção de baixar a temperatura.

Dividido diante dos vários cenários que se apresentam para as próximas horas, o Congresso ainda não definiu o que fazer.

ACORDO

O trato foi costurado por ministros do governo na semana passada. Pelo pacto, o Congresso manteve quatro vetos ao Orçamento impositivo feito por Bolsonaro em troca da divisão de R$ 30 bilhões entre Executivo e Legislativo.

O acordo, que teve aval do próprio presidente, garante ao Parlamento a palavra final sobre mais de R$ 15 bilhões.

Nesta segunda (9), Bolsonaro pressionou o Congresso e atrelou os protestos do dia 15 de março, que têm o Legislativo como um de seus alvos, à costura do acordo.

"Ontem, anteontem, troquei umas mensagens com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, falando sobre a questão do dia 15 de março que, no meu entender, é algo voluntário por parte do povo, não é contra o Congresso, não é contra o Judiciário, é a favor do Brasil que, afinal de contas, devemos obedecer e seguir o norte apontado pela população. E o que a população quer, que está em discussão lá em Brasília: não quer que o Parlamento seja o dono do destino de R$ 15 bilhões do Orçamento."

Na manhã desta terça, parlamentares ainda tentavam aferir os efeitos da declaração de Bolsonaro. Até mesmo congressistas aliados ao governo consideraram a manifestação contraditória, já que foi o próprio presidente que encaminhou os projetos ao Congresso.

"BOLSONARO MENTE"

Alguns deputados disseram acreditar que, longe do Brasil, Bolsonaro foi influenciado por seus auxiliares da área mais ideológica do governo, que o acompanham desde sábado (7) na viagem aos Estados Unidos.

"?O presidente mente, provoca o país usando artifícios como este do Orçamento", disse o deputado Zeca Dirceu (PT-PR).

"Não duvide que, aprovado este projeto do governo, com o voto unânime dos congressistas, o governo não vá para a rua dizendo 'olhe, fomos chantageados de novo pelo Congresso'. Ele não quer que diga o que está fazendo. Quem está fazendo a proposta dos R$ 15 bilhões é o presidente Jair Messias Bolsonaro. Quem apresentou os PLNs [projetos] foi o presidente Jair Messias Bolsonaro. Estamos aqui analisando os seus projetos", afirmou o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).

Deputados favoráveis ao acordo queriam agilizar os procedimentos para garantir logo a votação dos projetos em plenário.

Na Câmara, desde cedo, havia o receio de que o Senado não tivesse votos suficientes a favor dos projetos, que precisam de maioria simples "metade mais um dos presentes" para serem aprovados.

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Os senadores mais otimistas, no entanto, haviam passado a Alcolumbre o cálculo de que havia ao menos 50 parlamentares dispostos a aprovar os textos enviados pelo governo para garantir o acordo sobre o Orçamento impositivo.

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