> >
Cidades trocam vacinas contra Covid para não perder validade

Cidades trocam vacinas contra Covid para não perder validade

Dinâmica de troca de vacinas, na avaliação do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), faz parte da rotina de uma campanha de vacinação e não há orientações impeditivas ao remanejo

Publicado em 8 de novembro de 2021 às 14:40

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura

O cenário da vacinação contra a Covid-19 tem mudado em várias cidades e, se antes havia espera para receber o imunizante, atualmente sobram vacinas. Com a nova realidade, há municípios encaminhando doses para outros para evitar a perda de validade.

Há ainda prefeituras que passaram a fazer campanhas para aumentar a adesão da população à vacinação, até com sorteio de motos e smartphones para quem tomar sua dose.

Vacinas
Frascos das vacinas Coronavac, Astrazeneca, e Pfizer-BioNTech. (Carlos Alberto Silva)

Charles Cezar Tocantins de Souza, vice-presidente do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e secretário municipal de Saúde de Tucuruí (PA), disse que o município precisou enviar 13 mil doses de Pfizer para Parauapebas (PA), para as vacinas não perderem a validade.

A decisão foi tomada porque a vacina tem sobrado, mesmo podendo ser aplicada em adolescentes e também como dose de reforço. A cidade não tem condições de armazenar por muito tempo o imunizante em altas temperaturas.

A vacina deve ser mantida a uma temperatura entre -90°C e -60°C. Entretanto, ela pode ser transportada por duas semanas entre -25°C a -15°C. Mas, ao ser retirada do congelador, pode ser armazenada por até cinco dias em temperaturas entre 2°C e 8°C.

"Os municípios do Pará estão fazendo isso para evitar a perda, isso foi pactuado com a secretaria estadual de Saúde. Muitas pessoas estão resistindo porque acham que a Covid está vencida por conta da redução de mortes e internações", pontuou.

Ele explicou que no Pará está ocorrendo até sorteio de moto e smartphone para que as pessoas possam aderir à campanha de vacinação. Para ele, falta uma campanha nacional mais efetiva para mobilizar a população.

O Ministério da Saúde foi procurado pela reportagem para comentar a situação, mas não respondeu.

Essa dinâmica de troca de vacinas entre municípios, na avaliação do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), faz parte da rotina de uma campanha de vacinação e não há orientações impeditivas ao remanejo.

A preocupação dos gestores de saúde com os estoques foi levada para reunião da Comissão Intergestores Tripartite. Nela, um dos pedidos foi que o envio dos imunizantes pelo governo seja feito de acordo com a demanda dos estados e municípios.

"Não é o momento mais de fazer a distribuição de acordo com o tamanho da população. No início estava faltando vacina e tudo que chegava era aplicado, mas a realidade atual é outra", disse Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conasems.

"Os municípios não possuem capacidade de armazenamento, cerca de 70% têm menos de 20 mil habitantes e têm apenas uma geladeira", acrescentou.

A chance de receber de volta vacinas da Covid-19 distribuídas preocupa membros do Ministério da Saúde, pois parte desses lotes pode vencer. O TCU (Tribunal de Contas da União) já abriu inclusive apuração sobre os estoques vencidos do Ministério da Saúde.

Como a Folha revelou, o Ministério da Saúde deixou vencer a validade de estoques de medicamentos, vacinas, testes de diagnóstico e outros itens que, ao todo, são avaliados em mais de R$ 240 milhões.

Isso tem ocorrido com vacinas da Pfizer e com o estoque da Coronavac em algumas cidades. Como essa última não é usada como dose de reforço nem pode ser usada em adolescentes, começou a ficar sem função.

Além disso, muitos adultos que podem tomar esse imunizante não foram receber a segunda dose, além daqueles que optaram por não se vacinar.

Segundo o Conass, o fato de os adultos acima de 18 anos estarem procurando as unidades de saúde em um ritmo mais lento, principalmente para a segunda dose, pode gerar aumento da Coronavac nos estoques.

"A Coronavac ainda não foi liberada para adolescentes pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Saúde recomenda que a dose de reforço dos idosos seja feita, preferencialmente, com imunizantes de mRNA, como a Pfizer", disse em nota.

O país já tem 75,2% da população com a primeira dose e 56,1% com esquema vacinal completo contra o coronavírus. Considerando somente a população adulta, os valores são, respectivamente, de 98,9% e 73,8%.

Paulo Ziulkoski, presidente da CNM (Confederação Nacional de Municípios), disse que a realidade do estoque de vacinas é diversa nos municípios brasileiros. Pesquisa de outubro mostrou que 25% estavam com falta de imunizantes, já em 70% havia vacinas.

"Desse quantitativo em 1,5% das cidades estavam chegando mais vacinas que o necessário. Isso ocorre porque o município aplicou a primeira dose, mas a pessoa não vai tomar a segunda dose e fica sobrando. Além disso, ele recebe mais doses na semana seguinte e acaba ficando com excesso. Os municípios estão procurando viabilizar a vacinação fazendo a busca ativa, por exemplo", afirmou.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais