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Brasil terá que adotar políticas contra coronavírus para cada realidade, diz pesquisador

Brasil terá que adotar políticas contra coronavírus para cada realidade, diz pesquisador

De acordo com o pesquisador, será necessário criar estrutura para poder isolar quem for contagiado em comunidades muito densas

Publicado em 26 de março de 2020 às 08:24

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Covid-19
Covid-19. (Cottonbro/ Pexels)

Além de seguir as estratégias já usadas na China e na Europa, o Brasil precisará adaptar suas políticas de combate à pandemia de coronavírus às carências locais, diz o epidemiologista britânico Jimmy Whitworth, 65, especialista em saúde pública e doenças infecciosas.

"Será preciso garantir água abundante e sabão nos locais mais carentes, e criar estrutura para poder isolar quem for contagiado em comunidades muito densas", diz o pesquisador da London School of Hygiene and Tropical Medicine, onde ensina políticas de saúde internacionais.

Impedir um número excessivo de mortes depende de fazer o máximo possível de testes, identificar os contaminados mesmo que não tenham sintomas, isolá-los e tratá-los, e monitorar os que tiveram contato com eles, diz Whitworth.

Para o pesquisador, também consultor da OMS para combate a epidemias, não é possível dizer que a evolução do coronavírus na Itália (país com o maior número de mortes no mundo) segue um padrão destoante: faltam dados, e a demografia e a fase de contágio variam de um lugar a outro, invalidando comparações.

Whitworth é médico especialista em epidemiologia, doenças infecciosas e saúde pública, consultor da OMS para combate a epidemias, pesquisador da Liverpool School of Tropical Medicine e da London School of Hygiene and Tropical Medicine e criou a Equipe de Resposta Rápida de Saúde do Reino Unido, da qual foi diretor-adjunto.

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    Jimmy Whitworth - Três fatores. A taxa casos que terminam em morte depende de quantas pessoas foram testadas, porque um número muito grande de infectados não mostra sintomas. 

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Se apenas os que vão aos hospitais forem testados, identifica-se os muito doentes. Com testes amplos, como na Coreia do Sul, o universo de infectados cresce e a proporção de mortes por casos cai.

A segunda razão é o estágio da epidemia. Na maioria do Ocidente a situação não evoluiu o suficiente para que os doentes cheguem à morte, estamos ainda num período de expansão – crescem os novos casos, mas são pessoas infectadas recentemente; o registro de mortes é menor, porque o quadro desses doentes ainda vai evoluir.

A Itália está duas ou três semanas à frente de qualquer outro país europeu, houve mais tempo para que pessoas morressem. Os outros países ainda têm que percorrer esse caminho.

O terceiro ponto é a idade da população. Os mais velhos morrem mais frequentemente da covid-19 e por ter outras doenças que agravam o quadro, as chamadas comorbidades.

Coronavírus (covid-19)
Coronavírus (covid-19). (Fusion Medical Animation/Unsplash)
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    JW - Explica uma diferença entre Europa e China ou o Sudeste Asiático, mas o Japão também tem uma população muito idosa. Como os três fatores que eu mencionei variam de país para país, é muito difícil avaliar e fazer comparações.

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    JW - Sempre que o sistema de saúde se sobrecarrega o número de mortes aumenta, porque não se consegue tratar todos os infectados com o coronavírus nem muitos que têm outras doenças, ataques cardíacos, por exemplo, e os próprios médicos e enfermeiras acabam adoecendo, os que resistem ficam ainda mais estressados e tudo vai escalando rapidamente.

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    JW - O efeito do confinamento só será perceptível daqui a de dez dias a até três semanas. Há muitas pessoas já infectadas, que estão incubando o vírus e ainda vão ficar doentes, o número de casos e mortes continuará subindo. O Reino Unido está seguindo muito de perto a curva de epidemia italiana, com duas ou três semanas de atraso. Se olharmos para uma, podemos ter ideia de como estará a outra daqui a algumas semanas.

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Mas parte do colapso do sistema de saúde depende também de onde as pessoas estão adoecendo. Se houver concentração em uma região do país, o sistema de lá não dará conta.

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    JW - Uma boa notícia é que os países africanos têm uma população muito mais jovem que a europeia ou a chinesa, o que significa que a parcela de pacientes de risco é menor. Mas há um número grande de casos de tuberculose, malária e HIV, e não sabemos qual o efeito disso em quem contrai o coronavírus.

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A África também está muito menos preparada, os sistemas de saúde não são tão bons, mas eles parecem ter reagido muito mais rapidamente que os europeus, fecharam fronteiras e estão testando e tratando rapidamente as pessoas. Essa é a estratégia correta.

Ainda é cedo, porém, para fazer qualquer previsão.

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    JW - Em todo país a prioridade é testar, identificar quem tem o vírus, isolar essas pessoas e tratá-las. Descobrir quem foi contaminado mesmo que não tenha sintomas e Impedir que essa pessoa circule e transmita para os outras. E monitorar quem entrou em contato com os casos confirmados.

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Mas os governantes têm que identificar rapidamente seus pontos críticos e adaptar as políticas. No Brasil, a estratégia necessária para a Amazônia é diferente da adotada em São Paulo. Nos locais mais carentes, será preciso garantir acesso a água abundante e sabão. Em comunidades muito densas, precisa haver uma estratégia para permitir o isolamento. Criar estruturas para isso.

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    JW - Tudo indica que idade e doenças preexistentes são fatores independentes de risco. Dados das primeiras centenas de casos britânicos mostram que as comorbidades [interação entre a Covid-19 e doenças pré-existentes] traz risco maior, mas a idade ainda é relevante. E condições como câncer ou leucemia, por exemplo, que independem da idade.

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