Publicado em 14 de setembro de 2022 às 15:48
BRASÍLIA - A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) protocolou às 23h30 desta terça-feira (13) a prestação de contas parcial do candidato e declarou ter gasto apenas R$ 30 mil com os atos eleitorais do dia 7 de Setembro em Brasília e no Rio de Janeiro.>
Pelo documento, os custos da campanha do presidente se resumiram a R$ 22 mil para captação de imagens dos eventos e R$ 7,9 mil para locação de 300 grades no Rio.>
Os desfiles militares oficiais do Dia da Independência, para os quais Bolsonaro por meses convocou a população a comparecer, foram sucedidos por comícios de campanha em que o presidente foi a estrela principal, tendo discursado com ataques a adversários e pedidos de voto, sem menção ao Bicentenário da Independência.>
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Ao usar as comemorações oficiais para encorpar comícios de campanha, Bolsonaro pode ter cometido uma série de crimes eleitorais, na visão de especialistas, entre eles abuso do poder econômico ou o abuso do exercício de função. A oposição ingressou com Ação de Investigação Judicial Eleitoral.>
A resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que disciplina a prestação de contas dos candidatos estabelece que "a não apresentação tempestiva da prestação de contas parcial ou a sua entrega de forma que não corresponda à efetiva movimentação de recursos caracteriza infração grave, salvo justificativa acolhida pela Justiça Eleitoral, a ser apurada na oportunidade do julgamento da prestação de contas final".>
Pela lei, os candidatos tem que apresentar a prestação de contas parcial até o dia 13 de setembro, com a discriminação de todas as suas receitas e despesas realizadas até 8 de setembro.>
Para efeito de comparação, Bolsonaro fez uma declaração de gastos detalhada do evento inaugural de campanha, que realizou em Juiz de Fora, em 16 de agosto.>
Sobre esse evento, há um detalhamento de valores estimáveis de gastos com captação de imagens, tradutor de libras, detector de metais, aluguel de gradis, wi-fi, banheiros químicos e custos genericamente descritos como "comício presidente", entre outros.>
No 7 de Setembro de Brasília, Bolsonaro utilizou um caminhão de som bancado por apoiadores e estacionado na Esplanada dos Ministérios, ao lado de onde minutos antes havia acompanhado o desfile militar. Ele discursou para dezenas de milhares de apoiadores.>
Mais tarde, no Rio de Janeiro, Bolsonaro voltou a discursar em tom de campanha na praia de Copacabana, onde também houve evento oficial pelo feriado de 7 de Setembro e pelos 200 anos da Independência do Brasil.>
Bolsonaro nega que tenha cometido abuso de poder durante as manifestações e diz que os atos institucionais foram separados dos comícios políticos.>
Presidente Jair Bolsonaro
Em transmissão nas redes sociais, no dia seguinte ao 7 de SetembroA reportagem procurou a assessoria da campanha na manhã desta quarta, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.>
A Justiça Eleitoral tem caminhado no sentido de só aceitar retificações nas prestações de contas finais das campanhas, entregues após a eleição, caso o candidato comprove ter tido um motivo plausível para não ter feito a declaração completa no prazo estabelecido na lei — um evento feito por apoiadores e que ele só tomou conhecimento posteriormente, por exemplo.>
Mesmo que os custos de parte dos comícios de Bolsonaro tenham sido bancados por doações — um caminhão de som cedido por apoiadores, por exemplo —, esse valores devem constar da prestação de contas do candidato como doações recebidas, estimáveis em dinheiro.>
O grupo de ruralistas que articulou o desfile de tratores nas comemorações do 7 de Setembro, intitulado Movimento Brasil Verde e Amarelo, foi quem também levou carros de som para a Esplanada dos Ministérios, onde Bolsonaro discursou.>
O aluguel de dois carros de som teria custado em torno de R$ 5.000 cada um. O terceiro carro de som posicionado na Esplanada, segundo organizadores, foi emprestado gratuitamente pelo dono do veículo.>
A resolução do TSE dá brecha para que gastos sejam declarados por um candidato em comum, mas só em caso de uso de sedes partidárias ou de materiais de propaganda eleitoral.>
No site de divulgação dos dados eleitorais do TSE não havia, até a manhã desta quarta-feira, declaração de gastos do PL, o partido do presidente. Pelas regras, a Justiça tem até esta quinta (15) para tornar públicas as prestações de contas parciais.>
Uma infração grave, que é o caso de omissão ou não entrega da declaração parcial, pode resultar na rejeição das contas do candidato. Se isso ocorrer, esse é um dos elementos que, em ação distinta, pode resultar em cassação de eventual mandato obtido.>
Ao todo Bolsonaro declarou receita até agora de R$ 27,5 milhões, sendo R$ 13,5 milhões do Fundo Partidário e R$ 2 milhões do Fundo Eleitoral (estimáveis em dinheiro).>
Bolsonaro sempre foi crítico de uso de verbas públicas em campanhas eleitorais e, em 2020, chegou a recomendar a seus apoiadores que não votassem em candidatos que se utilizassem dessas verbas.>
Os maiores doadores privados da campanha de Bolsonaro até agora são os ruralistas Oscar Luiz Cervi (R$ 1 milhão) e Odilio Balbinotti Filho (R$ 600 mil) e o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet (R$ 501 mil).>
A campanha registrou pouco menos de 100 doadores de R$ 1 e até de centavos (R$ 0,01, por exemplo).>
Um movimento de apoiadores estimulando a doação de R$ 1 ou valores similares para a campanha do presidente tem gerado dificuldades burocráticas e contábeis para a chapa.>
A ideia da ação dos apoiadores é a de que todos os que forem votar em Bolsonaro doem valores baixos para a campanha, que é obrigada a emitir recibos eleitorais numerados.>
Com isso, eles teriam um parâmetro contra supostas fraudes nas urnas eletrônicas, apesar de não haver até hoje nenhum indicativo plausível nesse sentido.>
Os maiores gastos declarados até agora pela campanha do presidente da República são majoritariamente com propaganda no rádio e na TV e com produção de material para a internet.>
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